Indiscutivelmente o principal
meio de difusão do Espiritismo tornou-se um ponto de referência e convergência
dos que são surpreendidos por revezes com os quais não contavam. Na
superficialidade de suas avaliações concluem ser a prática espírita mero instrumento
de reequilíbrio através dos passes ou outros tratamentos oferecidos nas Casas
Espíritas, supõem-nas mero ponto de encontro entre a realidade material e a imaterial, a
tangível e a intangível. Um meio onde se pode encontrar a cura ou o caminho a
seguir através das orientações dos Amigos Espirituais ou Mentores como se
costuma dizer. Será apenas esta a finalidade da Doutrina
Espirita? Em texto apresentado na edição de novembro de 1864, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec esclarece essa dúvida. Escreve ele: -“O
Espiritismo não é uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma
teoria, um sistema inventado para a necessidade de uma causa. Tem sua fonte nos
fatos da natureza mesma, em fatos positivos, que se produzem aos nossos olhos e
a cada instante, mas cuja origem não se suspeitava. É, pois, resultado da
observação, numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre os mundos
visível e invisível; ciência ainda imperfeita, mas que diariamente se completa
por novos estudos e que, tende certeza, tomará posição ao lado das ciências
positivas. Digo positivas, porque toda ciência que repousa sobre fatos é uma
ciência positiva, e não meramente especulativa. O Espiritismo nada inventou,
porque não se inventa o que está na Natureza. Newton não inventou a Lei da
Gravitação: está Lei Universal, existia antes dele; cada um a aplicava e lhe
sentia os efeitos, posto não a conhecessem. Por sua vez, o Espiritismo vem
mostrar uma nova Lei, uma nova força da natureza: a que reside na ação do Espírito
sobre a matéria, lei tão Universal quanto a da gravitação e da eletricidade,
contudo ainda desconhecida e negada por certas pessoas, como o foram outras
Leis no momento de sua descoberta. É que os homens geralmente sentem
dificuldade em renunciar às suas ideias preconcebidas e, por amor próprio,
custa-lhes concordar que estavam enganados, ou que outros tenham podido
encontrar o que eles próprios não encontraram. Mas como, em definitivo, esta
Lei repousa sobre fatos e contra os fatos não há negação que possa prevalecer,
terão que render-se à evidência, como os mais recalcitrantes tiveram que o
fazer quanto ao movimento da Terra, à formação do Globo e aos efeitos do vapor.
Por mais que taxem os fenômenos de ridículos, não podem impedir a existência
daquilo que é. Assim, o Espiritismo procurou a explicação dos fenômenos de uma
certa ordem e que, em todas as épocas, se produziram de maneira espontânea. Mas
o que, sobretudo, o favoreceu nessas pesquisas, é que lhe foi dado o poder de
produzi-los e os provocar, até certo ponto. Encontrou nos médiuns instrumentos
adequados a tal efeito, como o físico encontrou na pilha e na máquina elétrica
os meios de reproduzir os efeitos do raio. Compreende-se que isso é uma
comparação e não uma analogia. Há aqui uma consideração de alta importância: é
que, em suas pesquisas, ele não procedeu por via de hipóteses, como o acusam;
não supôs aexistência do Mundo Espiritual, para explicar os fenômenos que tinha
sob as vistas; procedeu pela via da análise e da observação; dos fatos remontou
à causa e o elemento espiritual se apresentou como força ativa; só o proclamou
depois de o haver constatado. Como força e como Lei da Natureza, a ação do
elemento espiritual abre, assim, novos horizontes à ciência, dando-lhe a chave
de uma porção de problemas incompreendidos. Mas se a descoberta de Leis
puramente materiais produziu no mundo revoluções materiais, a do elemento
espiritual nele prepara uma revolução moral, porque muda totalmente o curso das
ideias e das crenças mais arraigadas; mostra a vida sob um outro aspecto; mata
a superstição e o fanatismo; desenvolve o pensamento e o homem, em vez de se
arrastar na matéria, de circunscrever sua vida entre o nascimento e a morte,
eleva-se no Infinito; sabe de onde vem e para onde vai; vê um objetivo para o
seu trabalho, para seus esforços, uma razão de ser para o Bem; sabe que nada do
que aqui adquire em saber e moralidade lhe é perdido, e que o seu progresso
continua indefinidamente no além túmulo; sabe que há sempre um futuro para si,
sejam quais forem a insuficiência e a brevidade da presente existência, ao
passo que a ideia materialista, circunscrevendo a vida à existência atual,
dá-lhe como perspectiva o nada, que nem mesmo tem por compensação a duração,
que ninguém pode aumentar à sua vontade, desde que podemos cair amanhã, em uma
hora, e então o fruto de nossos labores, de nossas vigílias, dos conhecimentos
adquiridos estarão para nós perdidos para sempre, muitas vezes sem termos tido
tempo de os desfrutar. Repito, demonstrando o Espiritismo, não por hipótese,
mas por fatos, a existência do Mundo Invisível e o futuro que nos aguarda, muda
completamente o curso das ideias; dá ao homem a força moral, a coragem e a
resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro;
sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário