Foi em 1946, contando apenas
27 anos, que o formando em Direito pela Universidade de Minas Gerais, Rafael
Américo Ranieri conheceu Chico Xavier. Radicado em Belo
Horizonte, havia perdido pouco tempo antes sua primeira filhinha Helena,
convertera-se para o Espiritismo, iniciara o desenvolvimento de sua
mediunidade, quando cedendo ao convite da amiga Efigênia França, também
médium em desenvolvimento, viajou com ela e o amigo Leonel a Pedro Leopoldo - distância àquela época cumprida em duas horas de automóvel pela estrada de terra que
levantava muita poeira-, a fim de se avistarem com o médium que conhecia apenas
de nome e pelos jornais pela publicação das primeiras e polêmicas mensagens do
escritor Humberto de Campos. Lembrava que, na casa simples, cor de rosa
desbotado, chão de tijolo, apenas três bancos para os assistentes, outro
rústico para o médium à frente de mesa tosca para os trabalhos, além dos abraços
e cumprimentos da apresentação, ouviu, nas despedidas, Chico segurando com as
duas mãos as suas, que “haveriam de se encontrar de novo”,
pois, as atenções durante a visita se concentraram na também jovem Efigênia.
Pretensioso, envaidecido pelos resultados obtidos através da própria
mediunidade, certo dia, Ranieri sentiu-se impulsionado a escrever uma carta ao
já inesquecível amigo, mostrou-a a alguém de confiança e muito próximo, Jair
Soares, que lhe disse “estar louco, que Chico era um médium
poderoso, que convivia com a Espiritualidade Superior permanentemente e que não
necessitava que o consolasse', o que o levou a rasgar as folhas de papel”.
O impulso se repetiu, nova carta que também não enviou, pois, ao mostra-la à
família, esbarrou na mesma reação. A ideia fixa, fê-lo escrever uma terceira
vez, envelopar e enviar as palavras confortadoras a quem só vira naquele final
de tarde, início de noite memorável. Dias depois, um telefonema à casa do sua
mãe, combinava nova ligação às cinco horas da tarde do dia seguinte e, nela a
surpreendente ouviu de Chico as seguintes palavras: -“Alô,
Ranieri? Aqui é o Chico. Recebi sua carta. Depois de amanhã, à noite, passarei
em Belo Horizonte, pelo trem das 9:15 horas, e gostaria de falar com você na
Estação”. Acompanhado do descrente companheiro de tantas jornadas Jair
Soares, coração aos saltos ante a aproximação da composição que
anunciava ao longe através de seu apito sua chegada, viram descer o homem meio
obeso, face morena, olho defeituoso e um grande e fraternal sorriso. Abraço
longo e carinhoso como de velhos amigos, o convite para comer uma broa de fubá
em sua casa, magnetizados, ouviram Chico dizer: -“Olha, recebi sua carta. Deus
lhe pague! Foi um grande conforto. Encheu-me a alma. Pouca gente acredita, como
você, que eu sofra. Todos pensam que vivo voando no mundo da felicidade. Não
sabem que também sofro. Sua carta trouxe-me confortadoras expressões de amizade
e entendimento”. Contou que quando do seu recebimento, recebera de sua
irmã um ultimato para que fosse embora de sua casa. A surpresa e o choque da
inesperada intimação foram grandes, maior, todavia, quando da indagação se
levaria o piano que o médium havia ganho de dois irmãos admiradores do Paraná
que teriam ouvido que Chico no final de sua vida, mediunicamente,
receberia os grandes compositores do Além. O marido da referida irmã, estava
estudando nele. O piano ficou, a convivência de Ranieri e com Chico tornou-se mais frequente até
1948, quando a mudança de Ranieri para o Rio de Janeiro,
transformou os encontros em eventuais. Numa das conversas na casa de Chico
com amigos dos bons tempos, descrita no capítulo 78 do livro RECORDAÇÕES DE CHICO XAVIER (1974;
lake), uma surpreendente revelação. Da boca de Chico jorravam
impressionantes ensinamentos. Falavam sobre Lívia e Emmanuel,
e também de Clóvis Tavares, grande trabalhador da Causa do Espiritismo na
cidade de Campos, Rio de Janeiro. Espontaneamente o médium disse ter sido o Clóvis,
o padre
Flanegan, que aparece no livro RENÚNCIA (1944;feb), acrescentando
que por “mil anos reencarnara ligado à Igreja, sendo a atual a primeira
existência fora dela”. Em meio aos assuntos abordados, ante a opinião
de Ranieri,
sobre a necessidade de uma possível passagem gradativa na passagem do Espírito
reencarnado sucessivas vezes na condição masculina para a feminina e
vice-versa, como explicado nas questões 200 a 202 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITO, Chico diz: -“Acho que é uma grande aventura.
Eu, por exemplo, é a primeira reencarnação de homem que tenho. A
Espiritualidade Superior, quando fui reencarnar, estava preocupada com isso,
achava que eu poderia fracassar. Há uma linha de reencarnação, acredito, da
qual é muito difícil escapar. O Espírito precisa se preparar para isso”.
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