No número de dezembro
de 1863, da REVISTA ESPÍRITA,
Allan
Kardec inseriu uma mensagem escrita pelo Espírito Francois-Nicolas Madeleine que
em sua encarnação terminada um ano antes em Paris, também era conhecido como Cardeal
Morlot, em reunião da Sociedade
Espírita de Paris de 9 de outubro expondo seu ponto de vista a
respeito do Apóstolo Paulo demonstrando nos fragmentos de
cartas por ele escritas à sua época ser um precursor do Espiritismo. Entre suas
considerações podemos destacar: -“O grande apóstolo Paulo, que outrora tanto
contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo por sua prédica poderosa, vos
deixou monumentos escritos, que servirão, não menos energicamente, à expansão
do Espiritismo. (...) O sopro que passa nas suas Epístolas, a santa inspiração
que anima seus ensinos, longe de ser hostil à vossa Doutrina, está cheia de
singulares previsões em vista do que acontece hoje. É assim que, na sua
primeira Epístola aos Coríntios, ele ensina que, sem a caridade, não existe
nenhum homem, ainda que fosse santo, profeta e transportasse montanhas, que se
possa gabar de ser um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como
os Espíritas, e antes dos Espíritas, foi o primeiro a proclamar esta máxima que
vos constitui uma glória: -Fora da caridade não há salvação! Mas não é apenas
por este lado que ele se liga à doutrina que nós vos ensinamos e que hoje
propagais. Com aquela alta inteligência que lhe era , tinha previsto o que Deus
reservava para o futuro e, notadamente, esta transformação, esta regeneração da
fé cristã, que sois chamados a assentar profundamente no espírito moderno, pois
descreve, na citada Epístola, e de maneira indiscutível, as principais
faculdades mediúnicas, que chama os dons abençoados do Espírito Santo”.
Considerando que o surgimento da
Doutrina Espírita dar-se-ia 19 séculos depois, conclui-se ser sua condição
espiritual muito além de seu tempo. Ao final da transcrição, por sinal, Allan
Kardec inclui alguns trechos da Primeira Epístola aos Coríntios,
referendando as palavras de Francois-Nicolas, como por exemplo,
“nem toda a carne é uma mesma carne; mas uma certamente é a dos homens, e outra
a dos animais; uma das aves, e outra a dos peixes”; ou “e
corpos há celestiais, e corpos terrestres; mas uma é por certo a glória dos
celestiais, e outra a dos terrestres. Uma é a claridade do Sol, outra a
claridade da Lua, e outra a claridade das estrelas; e ainda há diferença de
estrela a estrela na claridade; ou ainda“ é semeado o corpo animal,
ressuscitará o corpo espiritual. Se há corpo animal, também há o espiritual,
assim como está escrito”, e, por fim, “mas digo isto, irmãos, que a
carne e o sangue não podem possuir o Reino de Deus, nem a corrupção possuirá a
incorruptibilidade”. Raciocinando sobre tais trechos, Kardec
escreve:-“Que pode ser este corpo
espiritual, que não é corpo animal, senão o corpo fluídico, cuja existência é
demonstrada pelo Espiritismo, o períspirito, de que a alma é revestida após a
morte? Com a morte do corpo, o Espírito entra em confusão; por um instante
perde a consciência de si mesmo; depois recupera o uso de suas faculdades,
renasce para a vida inteligente; numa palavra, ressuscitará com o seu corpo
espiritual. O último parágrafo, relativo ao Juízo Final, contradiz
positivamente a doutrina da ressurreição da carne, pois diz: a carne e o sangue
não podem possuir o Reino de Deus. Assim, os mortos não ressuscitarão com sua
carne e seu sangue, e não necessitarão reunir seus ossos dispersos, mas terão
seu corpo celeste, que não é corpo animal. Se o autor do Catecismo
Filosófico tivesse meditado bem o
sentido destas palavras, teria evitado fazer notável calculo matemático, a que
se entregou, para provar que todos os homens mortos desde Adão, ressuscitando
em carne e osso, com seus próprios corpos, poderiam caber perfeitamente no Vale
de Josafá, sem muito incômodo. Assim, São Paulo estabeleceu em princípio e em
teoria o que ensina o Espiritismo sobre o estado do homem após a morte. Mas São
Paulo não foi o único a pressentir as verdades ensinadas pelo Espiritismo. A
Bíblia, os Evangelhos, os Apóstolos, os Pais da Igreja delas estão cheias, de
sorte que condenar o Espiritismo é negar as autoridades mesmas sobre as quais
se apoia a religião. Atribuir todos os seus ensinamentos ao demônio é lançar o
mesmo anátema sobre a maioria dos autores sacros. Assim, o Espiritismo não vem
destruir, mas, ao contrário, restabelecer todas as coisas, isto é, restituir a
cada coisa seu verdadeiro sentido”.
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