Algumas pessoas contestam a doutrina da
reencarnação, como contrária aos dogmas da Igreja, concluindo que a mesma não
existe. Que é que se pode responder? A resposta, certamente procurada por muitos, pode ser encontrada no número
de dezembro
de 1862, em que Allan Kardec inclui interessante
comentário resultante da carta recebida do amigo de um socialista francês da
primeira parte do Século 19, desencarnado em 1837, François Marie Charles Fourier,
e que elaborara uma teoria que, segundo o missivista, encontrara também na
Doutrina Espírita. Na sua missiva resumindo alguns dos principais pontos da
visão de Fourier, o remetente comenta também que encontrara a mesma
visão num opúsculo elaborado pelo redator do jornal Siècle, Sr Louis
Jordan publicado pela primeira vez em 1849 antes, portanto, que se
cogitasse do Espiritismo, revelando, uma perfeita intuição desta lei da
natureza tão esquecida até o surgimento do Espiritismo. Escreveu Kardec: -“A
resposta é muito simples. A reencarnação não é um sistema que dependa dos
homens adotar ou não, como se faz com um sistema político; é uma lei inerente à
Humanidade, como comer, beber e dormir; uma alternativa da vida da alma como a
vigília e o sono são alternativas da vida do corpo. Se é uma lei da natureza,
não é uma opinião contrária que se a possa impedir de ser. A Terra não gira ao
redor do Sol porque se o acredite, mas porque obedece a uma lei; e os anátemas
que foram lançados contra esta lei não impediram que a Terra girasse. Assim,
como a reencarnação: não será a opinião de alguns homens que os impedirá de
renascerem, se tiverem que renascer. Admitido que a reencarnação é uma lei da
natureza, suponhamos que ela não possa acomodar-se com um dogma: trata-se de saber
se a razão está como dogma ou com a lei. Ora, quem é o autor da lei da
natureza, senão Deus? No caso, direi que não é a lei que contraria o dogma, mas
o dogma que contraria a lei, desde que qualquer lei da natureza é anterior ao
dogma e os homens renasciam antes que o dogma fosse estabelecido. Se houvesse
incompatibilidade absoluta entre um dogma e uma lei da natureza, isto seria a
prova de que o dogma é obra dos homens, que não conheciam a lei, pois Deus não
pode contradizer-se, desfazendo de um lado aquilo que fez do outro. Sustentar
essa incompatibilidade é, pois, fazer o processo do dogma. Segue-se que o dogma
é falso? Não, mas apenas que é suscetível de uma interpretação, como foi
interpretada a Gênese, quando se reconheceu que os seis dias da Criação não se
acomodavam com a lei da formação do Globo. A religião ganhará com isso, pois
haverá menos incrédulos. A questão é saber se existe ou não a reencarnação.
Para os espíritas há milhares de provas contra uma que é inútil repetir. Direi
apenas que o Espiritismo demonstra que a pluralidade de existências não só é
possível, mas necessária, indispensável; e ele encontra a sua prova, sem falar
da revelação dos Espíritos, numa incalculável multidão de fenômenos de ordem
moral, psicológica e antropológica. Tais fenômenos são efeitos que tem uma
causa. Buscando-se a causa, encontramo-la na reencarnação, posta em
evidência pela observação daqueles fenômenos, como a presença do Sol, embora
oculto pelas nuvens, é posta em evidência pela luz do dia. Para provar que está
errada, ou que não existe, seria preciso explicar melhor, por outros meios,
tudo o que ele explica o que ninguém ainda fez. Antes da descoberta das
propriedades da eletricidade, se alguém tivesse anunciado que poderia em cinco
minutos corresponder-se a quinhentos quilômetros, não teriam faltado cientistas
que lhe provassem cientificamente, pelas leis da mecânica, que a coisa era materialmente
impossível, pois não, pois não conheciam outras leis. Para tanto havia
necessidade da revelação de uma nova força. Assim com a reencarnação. É uma
nova lei, que vem lançar luz sobre uma porção de questões obscuras e modificará
profundamente todas as ideias quando for reconhecida. Assim, não é a opinião de
alguns homens que prova a existência da lei: são os fatos. Se invocamos o seu
testemunho, é para demonstrar que ela tinha sido entrevista e suspeitada por
outros, antes do Espiritismo, que não é seu inventor, mas a desenvolveu e lhe
deduziu as consequências”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário