-“Os Espíritos se desmaterializam à
medida que se elevam e depuram. Só nos Planos Inferiores é que a encarnação é
material. Para os Espíritos Superiores não há mais encarnação material e,
consequentemente, não há procriação, pois esta é pelo corpo e não pelo
Espírito. Uma afeição pura é, pois o único objetivo da união e, por isto mesmo,
ao contrário do que se dá na Terra, não necessita da sanção dos funcionários
ministeriais”. O comentário faz
parte de uma apreciação de Allan Kardec ao final de matéria
incluída na REVISTA ESPÌRITA de julho
de 1862 reproduzindo um diálogo havido através de uma médium
identificada como Sra H..., na cidade de Bordeaux, em 15 de fevereiro daquele
ano. O foco principal: a União Simpática das Almas. Na
verdade, apenas duas questões. A primeira sobre uma possível união
definitiva entre dois seres e, a segunda, sobre se aqueles que se unem se
reconheceriam em novas e felizes existências. A entidade comunicante, sobre a primeira indagação diz
que “os
que se amam sinceramente e souberam sofrer com resignação para expiar as suas
faltas, reencontram-se, a princípio, no Mundo dos Espíritos, onde progridem
juntos, podendo deixar o Mundo Espiritual na mesma ocasião, reencarnar-se nos
mesmos lugares e, por um encadeamento de circunstâncias previstas, reunir-se
pelos laços que mais convierem aos seus corações. Uns terão pedido pera serem
pai ou mãe de um Espírito que lhes era simpático e que terão a felicidade de
dirigir no bom caminho. Outros, pedido para se unirem pelo casamento”.
Acrescenta que “no tocante às nossas secretas aspirações, essa misteriosa necessidade
irresistível de amor, de amar longamente, de amar sempre, não foram colocadas
por Deus nos nossos corações, senão porque a promessa do futuro nos permitia
essas doces esperanças. Deus não nos fará experimentar as dores da decepção.
Nossos corações querem a felicidade e não batem senão por afeições puras e a
recompensa será a perfeita realização de nossos sonhos de amor”. Quanto
à identificação dos que se amam em existências novas e felizes, diz que “assim
como na Terra dois amigos de infância gostam de encontrar-se no mundo, na
sociedade e se buscam mais do que se suas relações apenas datassem de alguns
dias, também os Espíritos que merecem o inapreciável favor de se unirem nos
Mundos Superiores são duplamente felizes e reconhecidos a Deus por esse novo
encontro que corresponde aos seus olhos mais caros. Os mundos colocados acima
da Terra na escala da perfeição são cumulados de todos os favores que possam
contribuir para a felicidade perfeita dos seres que os habitam: o passado não
lhes é oculto porque a lembrança de seus sofrimentos antigos, de seus erros
resgatados à custa de muitos males, e a lembrança, ainda mais viva, de suas afeições
sinceras, lhes fazem achar mil vezes mais doce essa nova vida e os protegem
contra faltas a que, talvez, pudessem ser arrastados por uns restos de
fraqueza. Esses mundos são para o homem o paraíso terrestre, destinado a
conduzi-los ao paraíso Divino”. As explicações do Espírito suscitam a
lembrança da informação d’ O LIVRO DOS
ESPÍRITOS nas questões 200 e 202 tratando do sexo nos Espíritos
caracterizados apenas circunstancialmente na morfologia masculina ou feminina,
visto que o sexo como o entendemos, existe
como uma necessidade da preservação da espécie humana. Assim sendo, as
diferenças aparentes desaparecerão com a evolução, sugerindo que as românticas
visões de almas gêmeas, metades eternas, etc, sustentam teorias e teses durante
uma etapa no processo evolutivo. Avaliando as opiniões manifestadas, Allan
Kardec lembra que “como leis, as únicas imutáveis são as Leis
Divinas. Mas as Leis humanas, devendo ser apropriadas aos costumes, aos usos,
ao clima, ao grau de civilização, são essencialmente mutáveis, e seria mau se
assim não o fossem; e que os povos estejam presos à mesma regra que regiam os
nossos antepassados. Assim, se as leis mudaram deles até nós, como não chegamos
à perfeição, elas deverão mudar de nós até nossos descendentes. No momento em
que é feita, toda lei tem a sua razão de ser e sua utilidade. Mas pode dar-se
que, sendo boa hoje, não o seja amanhã. No estado dos nossos costumes, de
nossas exigências sociais, o casamento necessita ser regulado pela lei, e a
prova que esta lei não é absoluta é que não é a mesma para todos os países
civilizados. É, então, permitido pensar que nos mundos superiores, onde não há
os mesmos interesses materiais a salvaguardar, onde não existe o mal, isto é,
onde os Espíritos maus são excluídos da encarnação, onde consequentemente, as
uniões resultam da simpatia e não do cálculo, as condições devam ser
diferentes. Mas aquilo que é bom para eles, poderia ser mau para nós”.
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