O diagnóstico do câncer de
língua e garganta que evoluía, as investigações policiais que o apontavam como
autor do desvio de vultosa importância no banco em que era funcionário, a
frustração do ansiado casamento que não se realizaria, a vida de restrições financeiras
até ali vivida, levaram A.F. a uma lamentável decisão: o
suicídio. A exemplo de milhares de Seres humanos desconhecia ser a vida em
nossa Dimensão mera passagem obrigatória para o trabalho da Evolução Espiritual
que impõem resgatemos com as Leis da Vida, as concessões oferecidas a cada
individualidade, e, invariavelmente, malbaratadas em nome da satisfação do
orgulho e do egoísmo que desfoca a visão das criaturas da realidade em que se
vive. No revelador livro MISSIONÁRIOS DA
LUZ, do Espírito André Luiz através do médium Chico
Xavier, quando de sua visita ao Instituto da Reencarnação da Colônia NOSSO LAR, percebe que os caminhos da riqueza,
inteligência, beleza e autoridade, representam oportunidades raramente
bem aproveitadas pelos que nelas se veem. E, os efeitos derivados dos desvios dos
que se perdem nas suas ilusões perturbadoras, hão de ser sentidos, porém, pela
Misericórdia do Código Penal da Vida Futura que não impõem dificuldades maiores
que nossa capacidade de suportação. Mesmo assim, normalmente, sucumbimos acovardados. Com A. F. não foi diferente,
o que o levou a deliberar pela tentativa de autodestruição, agravando seus
débitos, retardando o programa que lhe permitiria a liberação de culpas pesadas
de outrora. A grave doença, a frustração afetiva, a tentação pela apropriação
indébita, tiveram origem um século antes, mais precisamente no ano de 1840,
quando jovem ambicioso de nacionalidade portuguesa, transfere-se para a colônia
Angola, a fim de dedicar-se ao comercio de escravos negros para o Brasil,
ansiando tornar-se milionário. Na sua atividade, porém, impôs martírios
incontáveis aos míseros que capturava livres em sua Pátria, ordenando os
chicoteassem pelas mais insignificantes faltas – ou mesmo nenhuma –, além da
fome, sede, tortura, separação da família, vendendo para uns, os filhos; a
outros a mãe; a outros, o pai, determinando dessa forma que nunca mais se
avistassem, a não ser quando do retorno à verdadeira vida, ou seja, a
Espiritual. Certa vez, na fazenda de sua
propriedade, violentara uma jovem escrava negra, pouco mais que uma criança. E
porque o desventurado pai da infeliz, escravo de sessenta anos, num momento de
supremo desespero, diante do cadáver da filha que procurara na morte fugir da
vergonha de que se sentia dominada, gritasse seu procedimento, acusando-o pelo
suicídio da moça, determinou que seus capatazes queimassem a língua do velho
escravo a ferro em brasa, até vê-lo cair desfalecido, nas convulsões da
agonia. Morto o ancião, dobraram-se os anos e o grande senhor esquecera-o, bem
como, aos demais, absorvido nos lances da sorte. Voltara à Europa, feliz,
enriquecido à custa do que considerava “trabalho honesto”, bem visto e
considerado pelos que, se valiam de seus negócios. O tempo de permanência no
corpo, contudo, tem seus limites, e a morte o aguardava em algum lugar do
futuro. Féretro concorrido, lágrimas, muitas flores, enfim, tudo que o dinheiro
possa providenciar no cerimonialismo das convenções sociais. Do outro lado da
realidade abandonada, porém, outra se mostrou. Despertou perdido em pleno
sertão africano, atacado por hedionda falange de Espíritos de negros sedentos
de vingança, os quais lhe pediam contas dos infelizes compatriotas por ele
escravizados e afastados para sempre, das terras nativas. Pais que haviam
perdido os filhos levados para longe; mães separadas de filhos pequeninos, os
quais vendera, a outrem, como mercadoria sem valor; filhas ultrajadas e
sacrificadas longe dos pais; filhos que conheceram, por afagos maternais, apenas
o chicote inclemente do senhor a que serviam. Aprisionaram seu Espírito no seio
de florestas tenebrosas e, por sua vez, o martirizaram, aterrorizando-o com a
reprodução, das maldades que praticara contra todos. Perdeu a noção do tempo
ante a inclemência dos sofrimentos a ele devolvidos, até que, abandonado e
enlouquecido, vagou sem rumo, desesperadamente, preso a absurdas alucinações,
padecendo fome, sede, as variadas necessidades que impusera os semelhantes
indefesos, incapaz de proferir qualquer súplica, pois, automaticamente, se ligava
ao som do choro dos escravos que morriam de saudades, separados dos seus entes
queridos, do estalar do chicote com que torturou milhares de criaturas. Até
que, por fim, chegou o dia de retomar o caminho da evolução através da
reencarnação na personalidade identificada apenas como A.F., trazendo no
programa que deveria cumprir em terras brasileiras, as provas das restrições
financeiras, da implacável doença na mesma área em que martirizou o velho
escravo e a também difícil experiência do fracasso no campo do sentimento.
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