faça sua pesquisa

terça-feira, 2 de junho de 2015

COMO SE FORJAM OS INFORTÚNIOS

O diagnóstico do câncer de língua e garganta que evoluía, as investigações policiais que o apontavam como autor do desvio de vultosa importância no banco em que era funcionário, a frustração do ansiado casamento que não se realizaria, a vida de restrições financeiras até ali vivida, levaram A.F. a uma lamentável decisão: o suicídio. A exemplo de milhares de Seres humanos desconhecia ser a vida em nossa Dimensão mera passagem obrigatória para o trabalho da Evolução Espiritual que impõem resgatemos com as Leis da Vida, as concessões oferecidas a cada individualidade, e, invariavelmente, malbaratadas em nome da satisfação do orgulho e do egoísmo que desfoca a visão das criaturas da realidade em que se vive. No revelador livro MISSIONÁRIOS DA LUZ, do Espírito André Luiz através do médium Chico Xavier, quando de sua visita ao Instituto da Reencarnação da Colônia NOSSO LAR, percebe que os caminhos da riqueza, inteligência, beleza e autoridade, representam oportunidades raramente bem aproveitadas pelos que nelas se veem. E, os efeitos derivados dos desvios dos que se perdem nas suas ilusões perturbadoras, hão de ser sentidos, porém, pela Misericórdia do Código Penal da Vida Futura que não impõem dificuldades maiores que nossa capacidade de suportação. Mesmo assim, normalmente, sucumbimos   acovardados. Com A. F. não foi diferente, o que o levou a deliberar pela tentativa de autodestruição, agravando seus débitos, retardando o programa que lhe permitiria a liberação de culpas pesadas de outrora. A grave doença, a frustração afetiva, a tentação pela apropriação indébita, tiveram origem um século antes, mais precisamente no ano de 1840, quando jovem ambicioso de nacionalidade portuguesa, transfere-se para a colônia Angola, a fim de dedicar-se ao comercio de escravos negros para o Brasil, ansiando tornar-se milionário. Na sua atividade, porém, impôs martírios incontáveis aos míseros que capturava livres em sua Pátria, ordenando os chicoteassem pelas mais insignificantes faltas – ou mesmo nenhuma –, além da fome, sede, tortura, separação da família, vendendo para uns, os filhos; a outros a mãe; a outros, o pai, determinando dessa forma que nunca mais se avistassem, a não ser quando do retorno à verdadeira vida, ou seja, a Espiritual.  Certa vez, na fazenda de sua propriedade, violentara uma jovem escrava negra, pouco mais que uma criança. E porque o desventurado pai da infeliz, escravo de sessenta anos, num momento de supremo desespero, diante do cadáver da filha que procurara na morte fugir da vergonha de que se sentia dominada, gritasse seu procedimento, acusando-o pelo suicídio da moça, determinou que seus capatazes queimassem a língua do velho escravo a ferro em brasa, até vê-lo cair desfalecido, nas convulsões da agonia. Morto o ancião, dobraram-se os anos e o grande senhor esquecera-o, bem como, aos demais, absorvido nos lances da sorte. Voltara à Europa, feliz, enriquecido à custa do que considerava “trabalho honesto”, bem visto e considerado pelos que, se valiam de seus negócios. O tempo de permanência no corpo, contudo, tem seus limites, e a morte o aguardava em algum lugar do futuro. Féretro concorrido, lágrimas, muitas flores, enfim, tudo que o dinheiro possa providenciar no cerimonialismo das convenções sociais. Do outro lado da realidade abandonada, porém, outra se mostrou. Despertou perdido em pleno sertão africano, atacado por hedionda falange de Espíritos de negros sedentos de vingança, os quais lhe pediam contas dos infelizes compatriotas por ele escravizados e afastados para sempre, das terras nativas. Pais que haviam perdido os filhos levados para longe; mães separadas de filhos pequeninos, os quais vendera, a outrem, como mercadoria sem valor; filhas ultrajadas e sacrificadas longe dos pais; filhos que conheceram, por afagos maternais, apenas o chicote inclemente do senhor a que serviam. Aprisionaram seu Espírito no seio de florestas tenebrosas e, por sua vez, o martirizaram, aterrorizando-o com a reprodução, das maldades que praticara contra todos. Perdeu a noção do tempo ante a inclemência dos sofrimentos a ele devolvidos, até que, abandonado e enlouquecido, vagou sem rumo, desesperadamente, preso a absurdas alucinações, padecendo fome, sede, as variadas necessidades que impusera os semelhantes indefesos, incapaz de proferir qualquer súplica, pois, automaticamente, se ligava ao som do choro dos escravos que morriam de saudades, separados dos seus entes queridos, do estalar do chicote com que torturou milhares de criaturas. Até que, por fim, chegou o dia de retomar o caminho da evolução através da reencarnação na personalidade identificada apenas como A.F., trazendo no programa que deveria cumprir em terras brasileiras, as provas das restrições financeiras, da implacável doença na mesma área em que martirizou o velho escravo e a também difícil experiência do fracasso no campo do sentimento.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário