Considerando o perfil dos Espíritos ligados ao Planeta Terra
no seu processo evolutivo apresentado no capítulo 3 d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, entende-se parte da realidade
observada atualmente. Acrescentando a isso o fato de que numa hipotética
existência de 60 anos, apenas v20 são aproveitados, visto que 20 dispende-se no
sono físico, e outros 20 no processo de ascensão à vida adulta, deduz-se quanto
é moroso o progresso da Individualidade. A análise de Allan Kardec reproduzida
na REVISTA ESPÍRITA de janeiro
de 1864 em resposta a um leitor dá uma dimensão do problema: -“Ignoramos
absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma; é um
desses princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que
são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida,
o que é conforme à justiça; o que sabemos ainda é que o livre-arbítrio só se
desenvolve pouco a pouco e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é,
pois, nem após a primeira, nem depois da segunda encarnação que a alma tem
consciência bastante clara de si mesma, para ser responsável por seus atos; não
é senão após a centésima, talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança,
que não goza da plenitude de suas faculdades, nem um, nem dois dias após o
nascimento, mas depois de anos. E, ainda, quando a alma goza do livre-arbítrio,
a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência; é
assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos
castigado que o homem civilizado, que comete uma simples injustiça. Sem dúvida
os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós e, no entanto, já se
acham bem longe de seu ponto de partida. Durante longos períodos, a alma
encarnada é submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação;
pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes ou,
melhor dizendo, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre
gradualmente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria
responsabilidade. (...) Se houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade
seria injusta. Como dissemos, o Espírito fica num estado inconsciente durante
numerosas encarnações; a luz da inteligência não se faz senão aos poucos e a
responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com
conhecimento de causa. (...) A Terra já foi, mas não é mais, um mundo
primitivo; os mais atrasados seres humanos encontrados em sua superfície já se
despojaram das primeiras fraldas da encarnação e os nossos selvagens estão em
progresso, comparativamente ao que eram antes que seu Espírito viesse encarnar
neste Globo Que se julgue agora o número de existências necessárias a esses
selvagens para transpor todos os degraus que os separam da mais adiantada
civilização; todos esses degraus intermediários se acham na Terra sem solução
de continuidade e se pode segui-los observando as nuances que distinguem os
diferentes povos; só o começo e o fim aí não se encontram; para nós o começo se
perde nas profundezas do passado, que não nos é dado penetrar. Aliás, isto
pouco importa, pois tal conhecimento em nada nos adiantaria. Não somos
perfeitos, eis o que é positivo; sabemos que nossas imperfeições são o único
obstáculo à nossa felicidade futura; portanto, estudemo-nos, a fim de nos
aperfeiçoarmos. No ponto em que estamos a inteligência está bastante
desenvolvida para permitir ao homem julgar sensatamente o bem e o mal, e é
também deste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada, já
que não mais se pode dizer o que dizia Jesus: “Perdoai-lhes, Senhor, porque não
sabem o que fazem.”
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