O iluminado Paulo de Tarso escreveu aos Corintios na primeira das cartas a
ele dirigidas: - “Se eu, pois, ignorar a significação das palavras,
serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim. – Porque,
se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica
infrutífera. – E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o
amém depois da tua ação de graças? visto que não entende o que dizes. – Porque
tu, de fato, dás bem as graças, mas o outro não é edificado”. O trecho foi resgatado por Allan Kardec em artigo
reproduzido no número de agosto de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, que ele procura esclarecer duvidas sobre o
conteúdo do último capítulo do livro O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO que se constitui numa coletânea de preces
sugeridas aos leitores da obra. Explica que “elas fazem parte das comunicações
dadas pelos Espíritos; nós as reunimos no capítulo consagrado ao exame da
prece, como agregamos a cada um dos outros capítulos as comunicações que lhes
diziam respeito”. Sobre a
enunciação de preces em idiomas diferentes do profitente, pondera que “todas
as religiões antigas e pagãs tiveram sua língua sagrada, língua misteriosa,
inteligível apenas aos iniciados, mas cujo sentido verdadeiro era oculto ao
vulgo, que a respeitava tanto mais quanto menos a compreendia. Isto podia ser
aceito na época da infância intelectual das massas; mas hoje, que estão
espiritualmente emancipadas, as línguas místicas não têm mais razão de ser e
constituem um anacronismo; querem ver tão claro nas coisas da religião quanto
nas da vida civil; não se pede mais para crer e orar, mas se quer saber por que
se crê e o que se pede orando”. Embora
as gerações atuais ignorem, o fato é que até pouco depois da metade do século
20, as orações publicas nos templos da escola religiosa dominante no Ocidente, “o
latim, de uso habitual nos primeiros tempos do Cristianismo, tornou-se para a
Igreja a língua sagrada, e é por um resquício do antigo prestígio ligado a
essas línguas, que a maioria dos que não o sabem recitam a oração dominical
nessa língua, em vez de na sua própria. Dir-se-ia que ligam a isto tanto mais virtude
quanto menos a compreendem. Por certo, não foi essa a intenção de Jesus quando
a ditou, e tal não foi, igualmente, a de São Paulo, quando disse: “Se eu orar
em outra língua, o meu Espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera”.
Ressaltamos, prossegue Allan Kardec “a
necessidade das preces inteligíveis. Aquele que ora sem compreender o que diz,
habitua-se a ligar mais valor às palavras do que aos pensamentos; para ele as
palavras é que são eficazes, mesmo que o coração em nada tome parte. Assim,
muitos se julgam desobrigados depois de recitarem algumas palavras que os
dispensam de se reformarem. É fazer da Divindade uma ideia estranha acreditar
que ela se deixe pagar por palavras em vez de atos, que atestam uma melhora moral”
Orienta, por fim, que “a principal qualidade da prece é ser clara,
simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos, que não passam
de falsos adereços; cada palavra deve ter o seu alcance, despertar um
pensamento, agitar uma fibra; numa palavra, deve fazer refletir; só com esta
condição a prece pode atingir o seu objetivo, do contrário não passa de ruído”.
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