Religioso, filósofo, poeta,
entusiasta do magnetismo animal, Johan Gaspar Laváter (1741/1801), é considerado o fundador
da Fisiognomonia, a arte de conhecer
a personalidade das pessoas através dos traços fisionômicos, baseando-se no princípio
incontestável de que é o pensamento que põe os órgãos em jogo, imprimindo aos
músculos certos movimentos. No número de julho de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec analisa o
tema. Diz ele: -“Estudando as relações entre os movimentos aparentes e o pensamento,
dos movimentos vistos, podemos deduzir o pensamento, que não vemos. É assim que
não nos enganaremos quanto à intenção de quem faz um gesto ameaçador ou
amigável; que reconheceremos o modo de andar de um homem apressado e o do que
não o é. De todos os músculos, os mais móveis são os da face; ali se refletem
muitas vezes até os mais delicados matizes do pensamento. Eis por que, com
razão, se diz que o rosto é o espelho da alma. Pela frequência de certas
sensações, os músculos contraem o hábito dos movimentos correspondentes e
acabam formando a ruga. A forma exterior se modifica, assim, pelas impressões
da alma, de onde se segue que, dessa forma, algumas vezes se podem deduzir
essas impressões, como do gesto podemos deduzir o pensamento. Tal é o princípio
geral da arte ou, se se quiser, da ciência fisiognomônica. Este princípio é
verdadeiro; não apenas se apoia sobre base racional, mas é confirmado pela
observação.(...) Entre as relações fisiognomônicas, existe principalmente uma
sobre a qual a imaginação muitas vezes se exerceu: é a semelhança de algumas
pessoas com certos animais. Procuremos, então, buscar a causa. A semelhança
física entre os parentes resulta da consanguinidade que transmite, de um a
outro, partículas orgânicas semelhantes, porque o corpo procede do corpo. Mas
não poderia vir ao pensamento de ninguém supor que aquele que se parece com um
gato, por exemplo, tenha nas veias o sangue de gato. (...) Conforme os
Espíritos, nenhum homem é a reencarnação do Espírito de um animal. Os instintos
animais do homem decorrem da imperfeição de seu próprio Espírito, ainda não
depurado e que, sob a influência da matéria, dá preponderância às necessidades
físicas sobre as morais e sobre o senso moral, não ainda suficientemente
desenvolvido. (...) Outra indução não menos errônea é tirada do princípio da
pluralidade das existências. Da sua semelhança com certas personagens, algumas
concluem que podem ter sido tais personagens. Ora, do que precede, é fácil
demonstrar que aí existe apenas uma ideia quimérica. Como dissemos, as relações
consanguíneas podem produzir uma similitude de formas, mas não é este aqui o
caso, pois Esopo pode ter sido mais tarde um homem bonito e Sócrates um belo
rapaz. Assim, quando não há filiação corporal, só haverá uma semelhança
fortuita, porquanto não há nenhuma necessidade para o Espírito habitar corpos
parecidos e, ao tomar um novo corpo, não traz nenhuma parcela do antigo.
Entretanto, conforme o que dissemos acima, quanto ao caráter que as paixões
podem imprimir aos traços, poder-se-ia pensar que, se um Espírito não progrediu
sensivelmente e retorna com as mesmas inclinações, poderá trazer no rosto
identidade de expressão. Isto é exato, mas seria no máximo um ar de família, e
daí a uma semelhança real há muita distância. Aliás, este caso deve ser
excepcional, pois é raro que o Espírito não venha em outra existência com
disposições sensivelmente modificadas. Assim, dos sinais fisiognomônicos não se
pode tirar absolutamente nenhum indício das existências anteriores. Só podemos
encontrá-las no caráter moral, nas ideias instintivas e intuitivas, nas
inclinações inatas, nas que não resultam da educação, assim como na natureza
das expiações suportadas. E, ainda isto, só poderia indicar o gênero de
existência, o caráter que se deveria ter, levando em conta o progresso, mas não
a individualidade”.
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