A caminhada evolutiva do princípio inteligente cada vez mais se mostra integrando os três reinos – mineral/ vegetal/ animal irracional, alcançando, por fim, a condição de animal racional na fase chamada humanidade. Nesse processo,
especialmente nas duas últimas etapas, percebe-se nitidamente a distinção entre
instinto e inteligência. No extraordinário livro DEUS NA NATUREZA (feb), o pesquisador e astrônomo Camille
Flammarion observa que “os animais possuem um e outro como
faculdades bem distintas. Com a segunda, pensam, refletem, compreendem,
decidem, recordam, adquirem experiência, amam, odeiam, julgam, por processos
análogos aos da inteligência humana; com o primeiro, operam obedecendo a uma
impulsão íntima, sem apreensão, sem conhecimento, inconscientes do motivo e do
resultado de seus atos”. Define instinto como o “conjunto das diretivas que
impelem o animal obedecendo a uma necessidade constante. O instinto é inato,
atua à revelia da instrução, inexperiente e invariavelmente, e não realiza
progresso algum. É em tudo a antítese da inteligência. Tanto mais notáveis são
os fenômenos do instinto quanto mais se afirma, inteiramente involuntários (...).
No instinto tudo é inato, dirigido por uma força constante e incoercível. Na
inteligência é tudo o resultado da experiência e da instrução: o cão obedece
quando ensinado, por consequência, porque quer. Finalmente, tudo no instinto é
particular (...), ao passo que, na inteligência, tudo se generaliza”.
Serve-se de alguns exemplos interessantes para justificar suas conclusões.
Citemos alguns: 1- O castor é uma mamífero da ordem dos roedores, isto é, da ordem menos
inteligente, e, contudo, possui um instinto maravilhoso, qual o de construir
uma cabana sobre a água, com calçadas, diques, e tudo mercê de uma indústria
que demandaria inteligência elevadíssima, se de inteligência dependesse. Para
provar sua independência F. Corvier tomou castores muito novos, educados longe
de seus pares e, por conseguinte, nada havendo com eles ou deles aprendido.
Esses castores, assim isolados, solitários, postos numa jaula expressamente
destinada à experiência e de forma a dispensá-los do seu trabalho peculiar
construtivo, não deixaram de o realizar, impelidos por uma força maquinal cega,
ou seja um puro instinto”. 2- Destruindo a tese do habito hereditário,
cita borboletas que vivem no ar, e que, chegando à terceira fase de sua maravilhosa
existência, depositarão em círculos concêntricos minúsculos ovos brancos, sobre
talos e folhas. Esses ovos não vingarão antes da próxima estação, quando surgem
as pequenas lagartas, e isso depois de transcorridos muitos dias, quando as borboletas
já dormem na poeira o sono da morte. Que voz teria ensinado a estas novas
borboletas que as futuras lagartas, ao desovarem, hão de encontrar tal ou tal
alimentação? Quem lhes aponta os talos em folhas em que hajam de depositar seu
ovos? Os pais? Mas, se não os conhecem? Será então, das folhas e talos que lhes
advém a memória? 3- Outras espécies que protestam, ainda mais
vivamente, contra as explicações humanas. Os
necrófaros (nome lúgubre), morrem imediatamente após a postura e as
gerações jamais se conhecem. Nenhum Ser desta espécie viu mae nem verá filhos,
e, contudo, as mães tem grande cuidado em dispor cadáveres ao lado dos ovos,
para que aos filhos não falte alimento logo ao nascer. Em que livro aprenderam
esses necróforos que os seus ovos contem germe de insetos que em tudo se lhes
assemelham? 4- Há outras espécies, nas quais o regime
alimentar é inteiramente oposto, para a larva e para o inseto. Nos pompilídeos
as mães são herbívoras e os filhos carnívoros. Em fazerem a postura sobre
cadáveres, contrariam os próprios hábitos. 5- A estes insetos, podemos juntar
os odíneros e os sphex. As larvas destes últimos são carnívoras e o ninho precisa
se provido de carne fresca. Para preencher essa condição, a fêmea que vai
desovar busca uma presa convinhável, tendo o cuidado de não a matar,
limitando-se a feri-la de paralisia irremediável. Coloca depois, sobre cada ovo,
um certo número desses enfermos incapazes de se defenderem da larva que os há
de devorar, mas, com vida bastante para que o corpo não se corrompa. Em algumas
famílias, acresce o cuidado pela alimentação da presa, até a eclosão da larva”.
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