Ideia muito presente nas conjecturas
e formulações da Psicanalise criada por Freud, o sentimento de culpa é
inerente à criatura humana, na medida em que, como Espírito, vai avançando na
escala evolutiva. O Espiritismo, através da publicação que o procurava difundir
- a REVISTA ESPIRITA, subintitulada jornal
de estudo psicológicos -, quase meio século antes do surgimento da
Psicologia, preservou vários estudos sobre o tema, tratado na Doutrina pelo
termo remorso. No número de agosto de 1867, por exemplo, temos
um caso interessante, avaliado pela Espiritualidade numa das reuniões da
Sociedade Espírita de Paris, comentado em seguida pelo próprio Allan
Kardec. Apreciando o tema, Um Espírito presente, entre outras
coisas, escreveu: - Cada Ser tem a liberdade do bem e do mal, o que chamais de
livre-arbítrio. O homem tem em si a consciência, que o adverte quando fez bem
ou fez mal, cometeu uma má ação ou descurou de fazer o bem; sua consciência
que, como guardiã vigilante, encarregada de velar por ele, aprova ou desaprova
sua conduta. Muitas vezes acontece que se mostre rebelde à sua voz, que repila
suas inspirações; quer sufocá-la pelo esquecimento; mas jamais ela é
completamente aniquilada para que, num dado momento, não desperte mais forte e
poderosa e não exerça um severo controle de vossas ações. A consciência produz
dois efeitos diferentes: a satisfação de ter agido bem, a paz que deixa a
consciência do dever cumprido, e o remorso que penetra e tortura quando se
praticou uma ação reprovada por Deus, pelos homens ou pela honra. É,
propriamente falando, o senso moral. O remorso, é como uma serpente de mil
voltas, que circula em redor do coração e o destrói; é o remorso que sempre faz
ouvir as mesmas inflexões e vos grita: Fizeste uma ação má; deverás ser punido;
teu castigo só cessará depois da reparação”. Opinando, Allan Kardec acrescenta: –
Sem
ir buscar aplicações do remorso nos grandes criminosos, que são exceções na
sociedade, nós as encontramos nas mais comuns circunstâncias da vida. É esse
sentimento que leva todo indivíduo a afastar-se daqueles contra os quais sente
que tem censuras a se fazer; em presença deles sente-se mal; se a falta não for
conhecida, ele teme ser adivinhado; parece-lhe que um olhar pode penetrar o
fundo de sua consciência; vê em toda palavra, em todo gesto uma alusão à sua
pessoa, razão por que, desde que se sente desmascarado, retira-se. O ingrato
também foge de seu benfeitor, já que sua visão é uma censura incessante, da
qual em vão procura desembaraçar-se, pois uma voz íntima lhe grita no fundo da
consciência que ele é culpado. Se o remorso já é um suplício na Terra, quão
maior não será esse suplício no mundo dos Espíritos, onde não é possível
subtrair-se à vista daqueles a quem se ofendeu! Felizes os que, tendo reparado
já nesta vida, poderão sem receio enfrentar todos os olhares no mundo onde nada
é oculto. O remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral;
não existe onde o senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que
os povos selvagens e bárbaros cometem sem remorsos as piores ações. Aquele,
pois, que se pretendesse inacessível ao remorso, assimilar-se-ia ao bruto. À
medida que o homem progride, o senso moral torna-se mais apurado; ofusca-se ao menor desvio do reto caminho. Daí
o remorso, que é o primeiro passo para o retorno ao bem.
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