Renascida Maria
de Carvalho Leite tornou-se mais conhecida após sua morte física como Maria
Dolores, pseudônimo com que assinava suas produções poéticas nos anos
40 e 50, época em que a mulher na sociedade humana não era tão respeitada pelos
seus valores intelectuais, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo. Inteligência brilhante destacou-se
desde jovem na pequena localidade Bonfim da Feira, interior da Bahia, em que
nasceu e viveu os primeiros anos de sua vida, pelas suas preocupações
iniciativas em favor dos atingidos pelas diferenças sociais, o que lhe
valeu em vários momentos o apelido de “comunista” por parte daqueles que ainda
não descobriram o valor da compaixão e solidariedade. Professora, após um
casamento turbulento com um médico da cidade em que vivia, após a separação
mergulhou em outra experiência afetiva complicada em Itabuna (BA), localidade
para onde se transferiu, com um imigrante italiano com quem se manteve unida
até a morte aos 59 anos. Diante da prisão de seu marido no período compreendido
pela Segunda Guerra Mundial, pelo simples fato do Brasil ter declarado guerra
contra o país europeu, mudou-se para a capital baiana, Salvador, onde desdobrou
várias atividades em favor do Bem ao semelhante, exerceu a mediunidade que
começara a desenvolver anos antes, e, ante a impossibilidade de ser mãe, adotou
algumas meninas sonhando em fundar o Lar das Meninas Sem Lar. Colaborou em
vários jornais com seus poemas carregados de sentimento, trabalhando incansavelmente
pelas causas que abraçou. Em 27 de agosto de 1959, concluía sua passagem pela
nossa Dimensão, quase só, após quatro dias internada por amigos que a
encontraram muito debilitada em função de pneumonia grave de que se via
acometida. Em carta enviada pelo médium Chico Xavier, com quem trocava
correspondência regularmente, o médium contou a uma de suas filhas que Maria
Dolores lhe apareceu bela remoçada no dia 29 de março de 1964, sentindo
tomado de grande emoção, as lágrimas lhe virem do coração aos olhos, por vê-la
tão claramente junto a ele. Pouco depois, psicografa aquela que seria a
primeira de inúmeras mensagens que escreveria ao longo dos anos seguintes.
Título: ANSEIO DE AMOR, no qual ela
detalha suas impressões após a passagem para a outra vida: Quando me
vi, depois da morte, Em, sublime transporte, E reclamei contra a fogueira Que
me havia calcinado a vida inteira Pela sede de amor ... Quando aleguei que
fora, em toda estrada, Folha ao vento, Andorinha esmagada Sob o trator ao
sofrimento.... Quando exaltei a minha dor, Mágoa de quem amara sempre em vão,
Farta de incompreensão.... Alguém chegou, junto de mim, E disse assim: — Maria
Dolores, Você que vem do mundo, E se diz Tão cansada e infeliz, Que notícias me
dá do vale fundo De provação, Onde a criatura de tanto padecer Não consegue
saber Se sofre ou não? Você que diz trazer o seio morto, Que me pode falar Dos
meninos sem pão e sem conforto, Das mulheres sem lar, Dos enfermos sozinhos,
Que a febre e a fome esmagam nos caminhos, Sem sequer um lençol ou a bênção de
uma prece, Dando graças a Deus, quando a morte aparece?!.. Você, Maria Dolores,
Que afirma haver amado tanto E que deve ter visto O sacrifício e o pranto De
quem clama por Cristo, Suplicando o carinho que não tem, Que me pode contar
daquelas outras dores, Daquelas outras aflições Dos que choram trancados em
manicômios e prisões, Buscando amor, pedindo amor, Exaustos de tristeza e de
amargura, Como feras na grade, Morrendo de secura, De solidão, de angústia e de
saudade?!...Bem-querer!... Bem-querer!... Ai de mim, que nada pude responder!
Que tortura, meu Deus, a verdade, no Além!... Calei-me, envergonhada... Eu
apenas quisera ser amada, Não amara a ninguém..
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