faça sua pesquisa

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ANSEIO DE AMOR

Renascida Maria de Carvalho Leite tornou-se mais conhecida após sua morte física como Maria Dolores, pseudônimo com que assinava suas produções poéticas nos anos 40 e 50, época em que a mulher na sociedade humana não era tão respeitada pelos seus valores intelectuais, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo. Inteligência brilhante destacou-se desde jovem na pequena localidade Bonfim da Feira, interior da Bahia, em que nasceu e viveu os primeiros anos de sua vida, pelas suas preocupações iniciativas em favor dos atingidos pelas diferenças sociais, o que lhe valeu em vários momentos o apelido de “comunista” por parte daqueles que ainda não descobriram o valor da compaixão e solidariedade. Professora, após um casamento turbulento com um médico da cidade em que vivia, após a separação mergulhou em outra experiência afetiva complicada em Itabuna (BA), localidade para onde se transferiu, com um imigrante italiano com quem se manteve unida até a morte aos 59 anos. Diante da prisão de seu marido no período compreendido pela Segunda Guerra Mundial, pelo simples fato do Brasil ter declarado guerra contra o país europeu, mudou-se para a capital baiana, Salvador, onde desdobrou várias atividades em favor do Bem ao semelhante, exerceu a mediunidade que começara a desenvolver anos antes, e, ante a impossibilidade de ser mãe, adotou algumas meninas sonhando em fundar o Lar das Meninas Sem Lar. Colaborou em vários jornais com seus poemas carregados de sentimento, trabalhando incansavelmente pelas causas que abraçou. Em 27 de agosto de 1959, concluía sua passagem pela nossa Dimensão, quase só, após quatro dias internada por amigos que a encontraram muito debilitada em função de pneumonia grave de que se via acometida. Em carta enviada pelo médium Chico Xavier, com quem trocava correspondência regularmente, o médium contou a uma de suas filhas que Maria Dolores lhe apareceu bela remoçada no dia 29 de março de 1964, sentindo tomado de grande emoção, as lágrimas lhe virem do coração aos olhos, por vê-la tão claramente junto a ele. Pouco depois, psicografa aquela que seria a primeira de inúmeras mensagens que escreveria ao longo dos anos seguintes. Título: ANSEIO DE AMOR, no qual ela detalha suas impressões após a passagem para a outra vida: Quando me vi, depois da morte, Em, sublime transporte, E reclamei contra a fogueira Que me havia calcinado a vida inteira Pela sede de amor ... Quando aleguei que fora, em toda estrada, Folha ao vento, Andorinha esmagada Sob o trator ao sofrimento.... Quando exaltei a minha dor, Mágoa de quem amara sempre em vão, Farta de incompreensão.... Alguém chegou, junto de mim, E disse assim: — Maria Dolores, Você que vem do mundo, E se diz Tão cansada e infeliz, Que notícias me dá do vale fundo De provação, Onde a criatura de tanto padecer Não consegue saber Se sofre ou não? Você que diz trazer o seio morto, Que me pode falar Dos meninos sem pão e sem conforto, Das mulheres sem lar, Dos enfermos sozinhos, Que a febre e a fome esmagam nos caminhos, Sem sequer um lençol ou a bênção de uma prece, Dando graças a Deus, quando a morte aparece?!.. Você, Maria Dolores, Que afirma haver amado tanto E que deve ter visto O sacrifício e o pranto De quem clama por Cristo, Suplicando o carinho que não tem, Que me pode contar daquelas outras dores, Daquelas outras aflições Dos que choram trancados em manicômios e prisões, Buscando amor, pedindo amor, Exaustos de tristeza e de amargura, Como feras na grade, Morrendo de secura, De solidão, de angústia e de saudade?!...Bem-querer!... Bem-querer!... Ai de mim, que nada pude responder! Que tortura, meu Deus, a verdade, no Além!... Calei-me, envergonhada... Eu apenas quisera ser amada, Não amara a ninguém..

Nenhum comentário:

Postar um comentário