-“Há pessoas, na Terra, que não se acautelam
contra os desvarios da inteligência e fazem da astúcia e da vaidade o clima em
que respiram. Insistem na inércia do coração, abominam o sentimento elevado que
interpretam por pieguismo e transformam a cabeça num laboratório de perversão
dos valores da vida. Não cuidam senão dos próprios interesses, não amam senão a
si mesmos. Não percebem, contudo, que se ressecam interiormente e nem imaginam
os resultados cruéis da cerebração para o mal. Frequentemente, na luta mundana,
avultam na condição de dominadores poderosos, com vastíssimo potencial de
influência sobre amigos e adversários, conhecidos e desconhecidos”. O
comentário faz parte do livro ENTRE A
TERRA E O CÉU (1953; feb), do Espírito André Luiz através de Chico
Xavier. Um exemplo disso – bastante oportuno, por sinal, - encontramos
em obra anterior LIBERTAÇÃO (1949,
feb), em que André Luiz relata experiência curiosa acompanhando o Instrutor Gúbio
ao lar de um personagem como muitos em evidência atualmente. Conta ele: -“Logo
após, em companhia de nosso devotado orientador, passamos ao apartamento
privado do juiz. O magistrado se mantinha de corpo repousado sobre o colchão macio,
mostrando, contudo, a mente inquieta, flagelada. Permitiu Gúbio que eu lhe tocasse
a fronte, auscultando-lhe os pensamentos mais profundos. Naquela hora avançada
da noite, o encanecido cavalheiro meditava: “Onde estariam centralizados os
supremos interesses da vida? Onde a ambicionada paz espiritual que não conquistara
em mais de meio século de experiência ativa na Terra? Porque arquivava no
coração os mesmos sonhos e necessidades do homem de quinze anos, quando
ultrapassara já os sessenta? Crescera, estudara, casara-se. Todas as lutas, no
fundo, não lhe haviam modificado a personalidade. Conquistara os títulos que
assinalam no mundo os sacerdotes do direito e, por centenas de vezes, envergara
a toga para julgar processos difíceis. Proferira sentenças inúmeras e tivera
nas mãos, sob o próprio desígnio, a destinação de muitos lares e de
coletividades inteiras. Recebera homenagens de pobres e ricos, grandes e
pequenos, no transcurso da viagem pelo encapelado mar da experiência terrestre
em face da posição que desfrutava no ataviado barco do tribunal. Respondera a
milhares de consultas em casos de harmonia social, mas, na vida íntima,
singular deserto lhe povoava a alma toda. Sentia sede de fraternidade com os
homens; todavia, a posse do ouro e a eminência na atividade pública
impunham-lhe grandes obstáculos para ler a verdade na máscara dos semelhantes. Experimentava
intraduzível fome de Deus. No entanto, os dogmas das religiões sectárias e as
discórdias entre elas, afastavam- lhe o espírito de qualquer acordo com a fé
atuante no mundo. Por outro lado, a ciência comum, negativista e impenitente,
ressecara- lhe o coração. Toda a existência se resumiria a simples fenômenos mecânicos
dentro da natureza? Adotada essa hipótese, toda a vida humana seria tão
importante como a bolha d’água a desfazer-se ao vento. Sentia-se dilacerado,
oprimido, exausto. Ele que esclarecera a muitos, quanto às mais elevadas normas
de conduta pessoal, como elucidaria, agora, a si mesmo? Defrontado pelos
primeiros sintomas da velhice do corpo de carne, reagia, magoado, contra a
extinção gradual das energias orgânicas. Porque as rugas do rosto, o alvejar
dos cabelos, o enfraquecimento da visão e o empobrecimento do celeiro vital, se
a mocidade lhe vibrava na mente ansiosa por renovação? Seria a morte
simplesmente a noite sem alvorada? Que misterioso poder dispunha, assim, da
vida humana, conduzindo-a a objetivos inesperados e ocultos?”. O futuro
de todos, contudo é igual. E,
como observado por um Benfeitor,“todos caem sob o guante
da morte com grande alívio dos contemporâneos e passam a receber-lhes
as vibrações de repulsa. Semelhantes criaturas
naturalmente são vítimas de si mesmas e sofrem
os mais complicados desequilíbrios mentais”.
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