“Olhai
bem, observadores; considerai os atos desses exploradores dos flagelos humanos,
e distinguireis, mesmo com os olhos do corpo, os homens predestinados à
decadência. Vede-os ávidos de honras, inflexíveis no ganho, presos, como sua
vida, a todas as posses terrenas, e sofrendo mil mortes pela perda de uma
parcela do que, entretanto, precisarão deixar... Como será terrível para eles a
Pena de Talião”. A
afirmação foi feita em mensagem psicográfica reproduzida por Allan
Kardec na REVISTA ESPÍRITA,
edição de julho de 1867 e, quase um século depois, o Espírito
André Luiz na narrativa com que compõem o livro NO MUNDO MAIOR (feb, 1947) dá uma ideia de como
podem ser os quadros compostos pelo aglomerado de Espíritos como os do perfil
traçado, em um dos sub-planos dos bastidores da invisibilidade. Descreve ele: -
A proporção que nos adiantávamos, descendo, modificava-se a
gritaria; ouvíamos também gargalhadas, imprecações. Estacamos em enorme planície
pantanosa, onde numerosos grupos de entidades
humanas desencarnadas se perdiam de vista, em
assombrosa desordem, à maneira de milhares de loucos, separados uns dos outros, ou aos magotes, segundo a espécie de
desequilíbrio que lhes era peculiar. Não me era possível calcular a extensão da várzea imensa e,
ainda que houvesse marcos topográficos, para tal
apreciação, o nevoeiro era demasiado denso
para que se pudessem computar distâncias.
Logo após, Calderaro e eu nos achamos a sós na atra
vastidão povoada de habitantes estranhos.
As conversações em torno eram inúmeras e complexas.
Pareceu-me que aquele povo desencarnado não se dava conta da própria situação, pelo que me foi possível ajuizar de início.
Enquanto densas turbas de almas torturadas se debatiam
em substância viscosa, no solo onde andávamos,
assembleias de Espíritos dementes enxameavam
não longe, em intermináveis contendas por
interesses mesquinhos. A paisagem era francamente
impressionante pelos característicos infernais
que nos circundavam. (...) Calderaro explicou: - Aqui, se congregam verdadeiras
tribos de criminosos e delinquentes, atraídos
uns aos outros, consoante a natureza de faltas
que os identificam. Muitos são inteligentes e, intelectualmente falando, esclarecidos, mas, sem réstia de amor que lhes
exalce o coração, erram de obstáculo a obstáculo, de
pesadelo a pesadelo... O choque da
desencarnação para eles, ainda impermeáveis ao
auxílio santificante, pela dureza que lhes assinala os sentimentos, parece galvanizá-los na posição mental em que
se encontravam no momento do trânsito entre as
duas Esferas e, dessa forma, não é fácil de
logo arrancá-los do desequilíbrio a que imprevidentes
se precipitaram. Retardam-se, às vezes, anos a fio, obstinando-se nos erros a que se habituaram, e, vigorando
impulsos inferiores pela incessante permuta de
energias uns com o outros, passam, em geral, a viver, não só a perturbação
própria, mas também o desequilíbrio dos demais
companheiros de infortúnio. (...) Os lugares
purgatoriais dos desejos e das ações
criminosas, aguardando as almas enodoadas
pelos desvarios, constituem realidades lógicas, nas zonas espirituais do mundo. Aqui, os avarentos, os
homicidas, os cúpidos e os viciados de todos
os matizes se agregam em deplorável situação de
cegueira íntima. Formam cordões compactos, inclinando-se
mais e mais para os despenhadeiros. (...) Estes infelizes permanecem jungidos
uns aos outros em obediência a afinidades
quase perfeitas, e são contidos apenas pelas leis
vibratórias que os regem. Este bando de
Espíritos miseráveis, que se movimentam como
lhes é possível, é constituído de antigos negociantes terrenos, cujo exclusivo anseio foi amontoar dinheiro para satisfazer
a própria cupidez, sem beneficiar a ninguém. O
ouro, que a mente lhes pertencia, jamais serviu para semear a gratidão num
só companheiro de jornada humana. Famintos de fortuna
fácil, inventaram mil recursos de monopolizar
os lucros grandes e pequenos, em nada lhes
interessando a paz do próximo. Foram homens de
pensamento ágil, sabiam voar mentalmente a longas distâncias, garantindo êxito absoluto às empresas materiais
que levavam a termo com finalidade
exclusivamente egoística. Não lhes incomodava
o sofrimento dos vizinhos, ignoravam as dificuldades alheias, despreocupavam-se do valor do tempo em relação
ao aprimoramento da alma. Queriam unicamente acumular
vantagens financeiras e nada mais. Divorciados
da caridade, da compreensão e da luz divina,
criaram para si mesmos o mito frio e rígido do
ouro, fundindo com ele a mente vigorosa e o tacanho coração... Escravizados, agora, à ideia fixa de ganhar
sempre, voam pesadamente aqui e acolá,
dementados e confundidos, procurando monopólios
e lucros que não mais encontrarão”.
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