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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

INFANTICÍDIO

“Quando se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população, sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das consequências desastrosas desse fato?”, pergunta Allan Kardec na nota a uma das respostas contidas n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS. A sociedade humana dá assustadoras demonstrações a todo instante da atualidade da ponderação do pesquisador e educador. A Espiritualidade diria que “somente a educação pode reformar os homens”. Todavia, a educação praticada na formação dos filhos, na maioria esmagadora das famílias está longe de ser a ideal. Recebemos a herança da severidade extremada dos castigos físicos durante boa parte do século 20, enveredamos pelo caminho da flexibilização absoluta ou do excesso de cuidados, afastando-nos na primeira infância da necessidade básica de quem está mental e emocionalmente vulnerável na etapa mais importante do desenvolvimento do Espírito recém-encarnado: a educação moral. Pelo amor e exemplo. Muitos dos chamados pais – outrora crianças, vítimas de desastrosa formação de personalidade refletem isso em suas condutas. Numa avaliação de um dos personagens do livro ENTRE A TERRA E O CÉU (feb,1953), do Espírito André Luiz pelo médium Chico Xavier, um retrato da situação na avaliação da maternidade/paternidade no mundo moderno: -“Irmãs que por nutrirem pensamentos infelizes envenenam o leite materno, comprometendo a estabilidade orgânica dos recém-natos. Vemos casais que, através de rixas incessantes, projetam raios magnéticos de natureza mortal sobre os filhinhos tenros, lhes arruinando a saúde, e encontramos mulheres invigilantes que confiam o lar a pessoas ainda animalizadas, que, à cata de satisfações doentias, não se envergonham de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que reclamam desvelado carinho... Em algumas ocasiões, conseguimos restabelecer a harmonia, com a recuperação desejável; no entanto, muitas vezes somos constrangidas a assistir ao malogro de nossos melhores propósitos”. Os excessos beiram a insanidade como o infanticídio indireto descrito na mesma obra. Envolve uma mulher que, casada com um viúvo, pai de menina de 15 anos e um menino de 8, ralada de despeito em face da atenção do marido em relação ao filho, passou a ver no garoto um adversário de sua felicidade doméstica. Pouco a pouco, permitiu que o ódio lhe ocupasse o coração deixando que o ciúme a enceguecesse a ponto de suspirar pelo desaparecimento do alegre rapazinho. Despreocupava-se intencionalmente pela assistência que lhe devia e abandonava-o às extravagâncias típicas da sua idade, alimentando o secreto anseio de lhe presenciar o fim. Chegava mesmo a estimular-lhe indébitas incursões na via pública, admitindo que algum veículo pudesse fazer o que não tinha coragem de realizar com as próprias mãos. Nessa disposição acompanhou a família à praia, em clara manhã de domingo. O pai e a filhinha distanciaram-se, de algum modo, numa lancha pequena, enquanto ela assumia a guarda do garoto. Foi então que deixou nascer escuras divagações. Não seria aquele o momento ideal para consumar o velho propósito? E se relegasse o menino a si mesmo? Decerto, o garoto, em sua curiosidade infantil, não resistiria à atração para o seio das águas... Ninguém poderia culpá-la. Passou do projeto à ação e de pronto se afastou. Em se vendo a sós, o garoto se interessou mais vivamente pelas conchas multicores a se multiplicarem na areia, perseguindo-as mar adentro, até que uma onda veloz lhe chicoteou o corpo tenro, obrigando-o a mergulhar. A criança gritou, pedindo-lhe amparo. Realmente, poderia ter retrocedido alguns passos, salvando-a, mas vencida pelos sinistros pensamentos que lhe dominavam a cabeça, esperou que o mar concluísse o horrível trabalho que não tivera coragem de executar. Quando notou que o enteado havia desaparecido, começou a clamar por socorro, de alma repentinamente dobrada pelo remorso, mas era tarde. Obviamente surge a dúvida: frente a Lei Divina seria culpada? – O Instrutor acompanhado na obra argumentou: - “Quem de nós não é responsável pelas ideias que arroja de si mesmo? Nossas intenções são atenuantes ou agravantes das faltas que cometemos. Nossos desejos forças mentais coagulantes, materializando-nos as ações que, no fundo, constituem o verdadeiro campo em que a nossa vida se movimenta. Os frutos falam pelas árvores que os produzem. Nossas obras, na esfera viva de nossa consciência, são a expressão gritante de nós mesmos. A forma de nosso pensamento dá feição ao nosso destino”. Mais à frente, surpreende acrescentando: “O menino trazia consigo a morte prematura no quadro de provações, tendo sido conduzido após a morte física à região Espiritual que lhe é própria. Era um suicida reencarnado... A segunda esposa dominada pelo ciúme, constituiu-se numa instrumento para que a Lei de Causa e Efeito se cumprisse, criando ao redor de si mesma um ambiente pestilencial, em que os seus próprios pensamentos malignos conseguiram prosperar, assim como um fruto apodrecido desenvolve em si mesmo os vermes que o devoram”.


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