“Quando
se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população,
sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar
das consequências desastrosas desse fato?”, pergunta Allan Kardec na nota a
uma das respostas contidas n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS. A
sociedade humana dá assustadoras demonstrações a todo instante da atualidade da
ponderação do pesquisador e educador. A Espiritualidade diria que “somente
a educação pode reformar os homens”. Todavia, a educação praticada na formação dos filhos,
na maioria esmagadora das famílias está longe de ser a ideal. Recebemos a
herança da severidade extremada dos castigos físicos durante boa parte do
século 20, enveredamos pelo caminho da flexibilização absoluta ou do excesso de
cuidados, afastando-nos na primeira infância da necessidade básica de quem está
mental e emocionalmente vulnerável na etapa mais importante do desenvolvimento
do Espírito recém-encarnado: a educação moral. Pelo amor e exemplo.
Muitos dos chamados pais – outrora crianças, vítimas de desastrosa formação de
personalidade refletem isso em suas condutas. Numa avaliação de um dos
personagens do livro ENTRE A TERRA E O CÉU (feb,1953), do Espírito André
Luiz pelo médium Chico Xavier, um retrato da situação na
avaliação da maternidade/paternidade no mundo moderno: -“Irmãs
que por nutrirem pensamentos infelizes envenenam o leite materno, comprometendo
a estabilidade orgânica dos recém-natos. Vemos casais que, através de rixas
incessantes, projetam raios magnéticos de natureza mortal sobre os filhinhos
tenros, lhes arruinando a saúde, e encontramos mulheres invigilantes que
confiam o lar a pessoas ainda animalizadas, que, à cata de satisfações
doentias, não se envergonham de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que
reclamam desvelado carinho... Em algumas ocasiões, conseguimos restabelecer a
harmonia, com a recuperação desejável; no entanto, muitas vezes somos constrangidas
a assistir ao malogro de nossos melhores propósitos”. Os excessos beiram a insanidade como o infanticídio indireto descrito na mesma obra. Envolve uma mulher que, casada com um
viúvo, pai de menina de 15 anos e um menino de 8, ralada de despeito em face da
atenção do marido em relação ao filho, passou a ver no garoto um adversário de
sua felicidade doméstica. Pouco a
pouco, permitiu que o ódio lhe ocupasse o coração deixando que o ciúme a
enceguecesse a ponto de suspirar pelo desaparecimento do alegre rapazinho. Despreocupava-se intencionalmente
pela assistência que lhe devia e abandonava-o às extravagâncias
típicas da sua idade, alimentando o secreto anseio de lhe presenciar o fim. Chegava mesmo a estimular-lhe
indébitas incursões na via pública, admitindo
que algum veículo pudesse fazer o que não
tinha coragem de realizar com as próprias mãos. Nessa disposição acompanhou a
família à praia, em clara manhã de domingo. O pai e a filhinha distanciaram-se,
de algum modo, numa lancha pequena, enquanto ela
assumia a guarda do garoto. Foi então que
deixou nascer escuras divagações. Não seria aquele
o momento ideal para consumar o velho
propósito? E se relegasse o menino a si mesmo? Decerto, o garoto, em sua curiosidade infantil, não resistiria à
atração para o seio das águas... Ninguém
poderia culpá-la. Passou do projeto à ação e
de pronto se afastou. Em se vendo a sós, o garoto
se interessou mais vivamente pelas conchas
multicores a se multiplicarem na areia, perseguindo-as mar adentro, até que uma onda veloz lhe chicoteou o corpo tenro, obrigando-o a mergulhar. A criança gritou,
pedindo-lhe amparo. Realmente, poderia ter
retrocedido alguns passos, salvando-a, mas
vencida pelos sinistros pensamentos que lhe
dominavam a cabeça, esperou que o mar concluísse o horrível trabalho que não tivera coragem de executar. Quando notou
que o enteado havia desaparecido, começou a
clamar por socorro, de alma repentinamente
dobrada pelo remorso, mas era tarde. Obviamente surge a dúvida: frente a Lei
Divina seria culpada? – O Instrutor acompanhado na obra argumentou: - “Quem
de nós não é responsável pelas ideias que arroja de si mesmo? Nossas intenções
são atenuantes ou agravantes das faltas que cometemos. Nossos desejos forças
mentais coagulantes, materializando-nos as ações que, no fundo, constituem o
verdadeiro campo em que a nossa vida se movimenta. Os frutos falam pelas
árvores que os produzem. Nossas obras, na esfera viva de nossa consciência, são
a expressão gritante de nós mesmos. A forma de nosso pensamento dá feição ao
nosso destino”. Mais à frente, surpreende acrescentando: “O
menino trazia consigo a morte prematura no quadro de provações, tendo sido
conduzido após a morte física à região Espiritual que lhe é própria. Era um
suicida reencarnado... A segunda esposa dominada pelo ciúme, constituiu-se numa
instrumento para que a Lei de Causa e Efeito se cumprisse, criando ao redor de si
mesma um ambiente pestilencial, em que os seus próprios pensamentos malignos
conseguiram prosperar, assim como um fruto apodrecido desenvolve em si mesmo os
vermes que o devoram”.
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