- “Cada
um é livre para encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos essa
liberdade para nós, não podemos recusá-la aos outros. Mas, do fato de que uma
opinião seja livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar seu aspecto forte e o fraco, pesar-lhe as
vantagens ou os inconvenientes”. O racional e lógico argumento é utilizado
por Allan
Kardec em artigo escrito para a edição de janeiro de 1866 da REVISTA ESPÍRITA posicionando-se sobre
movimento que defendia a inutilidade da prece considerada prática
supersticiosa e ato de fingida devoção incompatível com o
Espiritismo que, ciência puramente filosófica, não deveria ter qualquer caráter
religioso; que estando todos os seres submetidos a Leis Eternas estabelecidas
por Deus seria inútil orar, pedindo ou agradecendo um favor especial; bem como
orar pelos Espíritos cuja sorte está traçada, não se podendo mudar a ordem
natural das coisas. Das considerações de Allan Kardec destacamos algumas,
bastante atuais sobre o tema: 1-
Se o
Espiritismo proclama sua a utilidade, não é por espírito de sistema, mas porque
a observação permitiu constatar-lhe a eficácia e o modo de ação. Desde que,
pelas leis fluídicas, compreendemos o poder do pensamento, compreendemos também
o da prece, que é, ela mesma, um pensamento dirigido para um objetivo
determinado. Para algumas pessoas, a palavra prece não revela senão uma ideia
de pedido; é um grave erro. 2- Com
relação à Divindade é um ato de adoração, de humildade e de submissão ao qual
não se pode recusar sem desconhecer o poder e a bondade do Criador. Negar a
prece a Deus é reconhecer Deus como um fato, mas é recusar prestar-lhe
homenagem; está ainda aí uma revolta do orgulho humano. 3- Com relação aos
Espíritos, que não são outros senão as almas de nossos irmãos, a prece é uma
identificação de pensamentos, um testemunho de simpatia; repeli-la, é repelir a
lembrança dos seres que nos são caros, porque essa lembrança simpática e
benevolente é em si mesma uma prece. Aliás, sabe-se que aqueles que sofrem a
reclamam com instância como um alívio às suas penas; se a pedem, é, pois, que
delatem necessidade; recusá-la é recusar o copo d'água ao infeliz que tem sede 4- Além da ação
puramente moral, o Espiritismo nos mostra, na prece, um efeito de alguma sorte
material, resultante da transmissão fluídica. Sua eficácia, em certas doenças,
está constatada pela experiência, como é demonstrada pela teoria. Rejeitar a
prece é, pois, privar-se de um poderoso auxiliar para o alívio dos males
corpóreos. 5- A
prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das
nacionalidades. Depois da prece, estando-se fraco, sente-se mais forte;
estando-se triste, sente-se consolado; tirar a prece é privar o homem de seu
mais poderoso sustento moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma,
entra em comunhão com Deus, se identifica com o mundo espiritual,
desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura; sem a prece,
seus pensamentos ficam sobre a Terra, se prendem cada vez mais às coisas
materiais; daí um atraso em seu adiantamento. 6- a principal
autoridade da Doutrina é que não há um único de seus princípios que seja o
produto de uma ideia preconcebida ou de uma opinião pessoal; todos, sem
exceção, são o resultado da observação dos fatos; foi unicamente pelos fatos
que o Espiritismo chegou a conhecer a situação e as atribuições dos Espíritos,
assim como as leis, ou melhor uma parte das leis que regem suas relações com o
mundo invisível; este é um ponto capital. 7- O Espiritismo partilhado em dez, em vinte seitas, aquela
que tiver a supremacia e mais vitalidade será naturalmente a que dará maior
soma de satisfações morais, que encherá o maior número de vazios da alma, que
será fundada sobre as provas mais positivas, e que melhor se colocará ao
uníssono com a opinião geral. Ora, o Espiritismo, tomando o ponto de partida de
todos os seus princípios na observação dos fatos, não pode ser derrubado por
uma teoria; mantendo-se constantemente ao nível das ideias progressivas, não
poderá ser ultrapassado; apoiando-se sobre o sentimento da maioria, ele
satisfaz as aspirações da maioria; fundado sobre estas bases, é imperecível,
porque aí está a sua força.
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