“Os
Espíritos que nos cercam não são passivos; formam uma população essencialmente
inquieta, que pensa e age sem cessar, que nos influencia, queiramos ou não, que
nos excita e nos dissuade, que nos impulsiona para o Bem como para o mal, o que
não nos tira o livre arbítrio mais que os bons ou maus conselhos que recebemos
de nossos semelhantes”, escreveu Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA de
janeiro de 1859. No ano seguinte, na edição de setembro, acrescenta
que essas influências “são inteiramente independentes da faculdade
mediúnica, tal qual esta é vulgarmente compreendida. Estando a ação do Mundo
Invisível na ordem das coisas naturais, ela se exerce sobre o homem,
independentemente de qualquer conhecimento espírita. Estamos a elas submetidos
como o estamos à ação da eletricidade atmosférica, mesmo sem saber física, como
ficamos doentes, sem conhecer Medicina”. No capítulo com que conclui o livro A
GÊNESE, reproduz uma mensagem de um Espírito identificado como
Dr. Barry no qual, entre outras coisas ele revela:- “O Mundo dos
Espíritos, mundo que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as
comoções que abalam o mundo dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte
ativa nessas comoções (...). Quando uma revolução social se produz na Terra,
abala igualmente o Mundo Invisível, onde todas as paixões, boas e más, se
exacerbam, como entre vós. Indizível efervescência entra a reinar na
coletividade dos Espíritos que ainda pertencem ao vosso mundo e que aguardam o
momento de a ele volver”. Na edição de fevereiro de 1865, dedica
espaço para comentar artigo destacado de outra publicação se referindo a fato
ocorrido anos antes na capital da Ilha de Madagascar, país que viria tempos depois a ser colônia francesa. Segundo a nota, o fato foi testemunhado por mais
de duzentos mil homens e denominado por aquele povo de Ramanenjana, palavra que
significa tensão, exprime uma estranha doença que, de início, se manifestou ao
sul de Emirne. Dela se teve conhecimento em Tananarive cerca de um mês antes. A
princípio era apenas um vago rumor que circulava entre o povo. (...) Esta
doença age especialmente sobre os nervos, neles exercendo uma pressão tal que
logo provoca dor na nuca e depois no estômago. Ao cabo de algum tempo convulsões e
alucinações, das quais apenas se dá conta do ponto de vista da ciência. Os que
são atingidos sentem, inicialmente, violentas dores na cabeça, aí começam os
acidentes convulsivos (...). Os vivos entram em comunicação com os mortos: vêem
a rainha Ranavalona, Radama I, Andrian Ampoinemerina e outros, que lhes falam e
lhes dão incumbências. (...) Os Ramanenjana parecem especialmente enviados pela
velha Ranavalona, para dar a entender a
Radama que ele deve voltar ao antigo regime, fazer cessar a prece, expulsar os
brancos, interditar os porcos na cidade santa, etc., etc; caso contrário,
grandes desgraças o ameaçam, e que ela o renegará como seu filho.(...). Comentando
as evidências, Allan Kardec diz que “esses
fenômenos são o resultado de uma obsessão, ou possessão coletiva, verdadeira
epidemia de Espíritos maus, como se produziu ao tempo do Cristo e em muitas
outras épocas. Cada população deve fornecer ao Mundo Invisível ambiente
Espíritos similares que, do espaço, reagem sobre essas mesmas populações, das
quais, devido à sua inferioridade, conservaram os hábitos, as inclinações e os
preconceitos. Os povos selvagens e bárbaros estão, pois, cercados por uma massa
de Espíritos ainda selvagens e bárbaros, até que o progresso os tenha levado a
se encarnarem num meio mais adiantado”. Numa comunicação mediúnica obtida
pela senhora Dellane logo após a notícia ter sido lida e analisada, um Espírito
presente escreveu opinando sobre o assunto e apresentou uma surpreendente revelação:
É uma
obsessão coletiva, produzida por uma plêiade de Espíritos atrasados que, tendo
conservado suas antigas opiniões políticas, vêm tentar perturbar os seus
compatriotas, por meio dessas manifestações, a fim de que estes últimos,
tomados de pavor, não ousem apoiar as ideias de civilização que começam a
implantar-se nesses países onde o progresso começa a despontar. Os Espíritos
obsessores que impelem essa pobre gente a tantas manifestações ridículas são os
dos antigos malgaxes, furiosos, repito, por verem os habitantes dessas regiões
admitindo as ideias de Civilização, que alguns Espíritos adiantados,
encarnados, têm a missão de implantar entre eles. Assim, muitas vezes os ouvis
repetir: “Nada de preces, abaixo os brancos, etc.” É para vos fazer compreender
que são antipáticos a tudo quanto possa vir dos europeus, isto é, do centro
intelectual.
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