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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

PARA QUE SE VIVE

Normalmente em meio às crises que periodicamente atravessa, a pessoa se pergunta qual o sentido, a finalidade da vida. Abrindo o número de julho do 1862 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve alguns argumentos que podem auxiliar nas reflexões sobre o questionamento tão comum. Explica ele: - “A vida corporal é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa realizar neste mundo material as funções que lhe são designadas pela Providência: é uma das engrenagens da harmonia universal. A atividade que, contra sua vontade, é forçado a desenvolver nas funções que exerce, crendo agir por si mesmo, auxilia o desenvolvimento de sua inteligência e lhe facilita o adiantamento. Sendo a felicidade do Espírito na Vida Espiritual proporcional ao seu progresso e ao bem que pôde fazer como homem, resulta que, quanto maior importância adquire a vida espiritual aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que é necessário para se garantir o melhor lugar possível. A experiência dos que viveram vem provar que uma vida terrena inútil ou mal-empregada não tem proveito para o futuro, e que aqueles que aqui só buscarem satisfações materiais as pagam muito caro, seja por sofrimentos no mundo dos Espíritos, seja pela obrigação de recomeçar a tarefa em condições mais penosas que as do passado; tal é o caso dos que sofrem na Terra. Assim, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, o homem, longe de ser estimulado à despreocupação e à ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho. Partindo do ponto de vista terreno, essa necessidade é uma injustiça aos seus olhos, quando se compara aos que podem viver sem nada fazer: tem ciúme deles; inveja-os. Partindo do ponto de vista espiritual, essa necessidade tem a sua razão de ser, sua utilidade, e ele a aceita sem murmurar, pois compreende que sem o trabalho ficará indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira e que não poderá alcançar, caso não se desenvolva intelectual e moralmente. A esse respeito parece que muitos monges compreendem mal o objetivo da vida terrena e, menos ainda, as condições da vida futura. Pelo enclausuramento, eles se privam dos meios de se tornarem úteis aos semelhantes e muitos dos que hoje se acham no mundo dos Espíritos confessaram-nos que se enganaram redondamente e que sofrem as consequências de seu erro. Para o homem, tal ponto de vista tem outra imensa e imediata consequência: é a de tornar-lhe mais suportáveis as tribulações da vida. Que procure o bem-estar e se esforce por tornar o seu tempo na Terra o mais agradável possível: isto é muito natural e ninguém lho proíbe. Mas, sabendo que está aqui apenas momentaneamente, que um futuro melhor o aguarda, pouco se atormenta com as decepções que experimenta e, vendo as coisas do alto, aceita os reveses com menor amargura; fica indiferente aos aborrecimentos de que é vítima, por parte dos invejosos e dos ciumentos; reduz a seu justo valor os objetos de sua ambição e se coloca acima das pequenas susceptibilidades do amor-próprio. Liberto das preocupações criadas pelo homem que não sai de sua esfera limitada, pela perspectiva grandiosa que se desdobra à sua frente, é mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso, para si próprio e para os outros. Para ele, as humilhações, as críticas severas e as maldades de seus inimigos não passam de nuvens imperceptíveis num vasto horizonte; não se inquieta por elas mais do que pelas moscas que zumbem aos ouvidos, porque sabe que logo estará livre. Assim, todas as pequenas misérias que lhe suscitam deslizam por ele como a água sobre o mármore. Colocando-se do ponto de vista terreno, irritar-se-ia e talvez se vingasse. Do ponto de vista extraterreno, ele as despreza como os salpicos de lama de um caminhante desatento. São espinhos lançados no caminho e pelos quais passa, sem sequer se dar ao trabalho de os afastar, a fim de não moderar a marcha para um objetivo mais sério que se propõe atingir”..





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