Vez
ou outra, a mídia internacional noticia
fatos estarrecedores envolvendo ações praticadas em algum lugar do Planeta em
que vivemos capazes de envergonhar a espécie humana dita civilizada. Talvez
pensando nisso também, Allan Kardec publicou em 1859, portanto
dois anos após a primeira edição d’O
LIVRO DOS ESPÍRITOS, um opúsculo intitulado O QUE É O ESPIRITISMO. Apresenta de forma sucinta, os princípios da
Doutrina Espírita, assim como respostas às principais objeções que lhe podiam
ser apresentadas. É dividida em três partes: na primeira três diálogos – com um
crítico, um cético e um padre; na
segunda, noções elementares de Espiritismo; e, na terceira a solução de alguns
problemas do cotidiano pela Doutrina Espírita.
No precioso trabalho, três respostas com elementos para refletirmos
sobre a questão incialmente citada.1- Por que há na Terra selvagens e homens
civilizados? Sem a preexistência da alma, esta questão é insolúvel, a
menos que admitamos tenha Deus criado almas selvagens e almas civilizadas, o
que seria a negação da sua justiça. Além disso, a razão recusa admitir que,
depois da morte, a alma do selvagem fique perpetuamente em estado de
inferioridade, bem como se ache na mesma elevação que a do homem esclarecido.
Admitindo para as almas um mesmo ponto de partida — única doutrina compatível
com a Justiça de Deus —, a presença simultânea da selvageria e da civilização,
na Terra, é um fato material que prova o progresso que uns já fizeram e que os
outros têm de fazer. A alma do selvagem atingirá, pois, com o tempo, o mesmo
grau da alma esclarecida, mas como todos os dias morrem selvagens, essa alma
Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita não pode atingir esse grau
senão em encarnações sucessivas, cada vez mais aperfeiçoadas e apropriadas ao
seu adiantamento, seguindo todos os graus intermediários a esses dois extremos.
2- Não
será admissível, segundo pensam algumas pessoas, que a alma, não encarnando
mais que uma vez, faça o seu progresso no estado de Espírito ou em outras
esferas? Esta proposição seria admissível, se todos os habitantes da
Terra se achassem no mesmo nível moral e intelectual; caso em que se poderia
dizer ser a Terra destinada a determinado grau; ora, quantas vezes temos diante
de nós a prova do contrário! Com efeito, não é compreensível que o selvagem não
pudesse conseguir civilizar-se aqui na Terra, quando vemos almas mais
adiantadas encarnadas ao lado dele; do que resulta a possibilidade da
pluralidade das existências terrenas, demonstrada por exemplos que temos à
vista. Se fosse de outro modo, era preciso explicar: Primeiro- por que só
a Terra teria o monopólio das encarnações; Segundo- por que, tendo esse
monopólio, nela se apresentam almas encarnadas de todos os graus. 3- Por
que, no meio das sociedades civilizadas, se mostram seres de ferocidade
comparável à dos mais bárbaros selvagens? São Espíritos muito
inferiores, saídos das raças bárbaras, que experimentam reencarnar em meio que
não é o seu, e onde estão deslocados, como estaria um rústico colocado de
repente numa cidade adiantada. Allan
Kardec, por fim, observa: -“Não é possível admitir-se, sem negar a Deus
os atributos de bondade e justiça, que a alma do criminoso endurecido tenha, na
vida atual, o mesmo ponto de partida que a de um homem cheio de virtudes. Se a
alma não é anterior ao corpo, a do criminoso e a do homem de Bem são tão novas
uma como a outra; por que razão, então, uma delas é boa e a outra má?”.
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