Consulta
sobre qual o critério utilizado pelo pesquisador Allan Kardec para
desenvolver o trabalho que referencia a base do Espiritismo conduz naturalmente
às seguintes informações: -“Comecei os meus estudos sérios de
Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações, do que de observações. Apliquei
a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca
elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia
conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo
encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão
quando resolvia todas as dificuldades da questão. Foi assim procedi sempre
em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos. Compreendi, antes
de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles
fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do
futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era, em
suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças; fazia-se mister, portanto,
andar com a maior circunspeção e não levianamente; ser positivista e não
idealista, para não me deixar iludir. Um dos primeiros resultados que colhi das
minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos
homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber
de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de
adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal.
Reconhecida
desde o princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na
infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo
por base o que fora dito por um ou alguns deles. O simples fato da comunicação com
os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a existência do mundo
invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às
nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então inexplicados.
O
segundo ponto, não menos importante, era que aquela comunicação permitia se
conhecessem o estado desse mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir.
Vi logo que cada Espírito, em virtude da sua posição pessoal e de seus
conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega
a conhecer o estado de um país, interrogando habitantes seus de todas as
classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete
ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos colhidos de diferentes
lados, colecionados, coordenados e comparados uns com outros. Conduzi-me,
pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do
menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados. Tais as
disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre. Observar,
comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui. (...)
Levava para cada sessão uma série de questões preparadas e metodicamente
dispostas. Eram sempre respondidas com precisão, profundeza e lógica. A partir
de então, as sessões assumiram caráter muito diverso. Estava concluído, em
grande parte, o meu trabalho e tinha as proporções de um livro. Eu, porém,
fazia questão de submetê-lo ao exame de outros Espíritos, com o auxílio de
diferentes médiuns. Lembrei-me de fazer dele objeto de estudo nas reuniões do
Sr. Roustan. Ao cabo de algumas sessões, disseram os Espíritos que preferiam
revê-lo na intimidade e marcaram para tal efeito certos dias nos quais eu trabalharia
em particular com a Srta. Japhet, a fim de fazê-lo com mais calma e também de
evitar as indiscrições e os comentários prematuros do público. Não
me contentei, entretanto, com essa verificação; os Espíritos assim mo haviam
recomendado. Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns,
sempre que se apresentava ocasião eu a aproveitava para propor algumas das
questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns
prestaram concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão de todas as
respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da
meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857. Sobre a forma pela qual
evoluiu em suas pesquisas, o próprio Allan Kardec explica:-“É pela mediunidade efetiva,
consciente e facultativa, que se chegou a constatar a existência do mundo
invisível e, pela diversidade das manifestações obtidas ou provocadas, que foi
possível esclarecer a qualidade dos seres que o compõem e o papel que
representam na natureza. O médium fez pelo mundo invisível o mesmo que o
microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos”.
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