Apesar do tradicional feriado religioso
da sexta feira santa, as atividades do Centro Espírita Luiz Gonzaga da noite de
7 de abril de 1955 aconteceram como regularmente. No grupo foi mais Intensa a
movimentação socorrista em favor dos sofredores desencarnados, dentre os quais
sobressaíram diversos irmãos hansenianos que, mesmo além da morte, revelavam
dolorosas fixações mentais de revolta e amargura. Concluindo as tarefas, no
horário dedicado aos Instrutores Espirituais, os recursos psicofônicos do
médium Chico Xavier foram
ocupados pelo poeta Jésus Gonçalves,
desencarnado em Pirapitinguí, que também passou pela provação da lepra, cuja
palavra nos trouxe amoroso esclarecimento. Chico não conhecera o Espírito quando encarnado a não ser
através de correspondência recebida do Leprosário de Pirapitingui onde
mantinha-se segregado desde anos antes transferido de outro da cidade de Bauru
(SP) onde residira até os 27 anos quando recebeu o diagnóstico da doença degenerativa.
Desencarnando no inicio de 1947, em março apresentou-se semanas depois ao
médium em reunião particular que este realizava com companheiros de São Manuel
(SP), irradiando intensa luminosidade, particularmente nas áreas do corpo
identificadas por Chico como
as mesmas que vira na derradeira foto que Jésus lhe remetera tempos antes de sua morte física. Assumindo
o controle das faculdades mediúnicas de Chico
disse: -“Amigos. Sou o vosso irmão Jésus Gonçalves, o
leproso de Pirapitingui, a quem o Espiritismo ofereceu nova visão da vida. Agradeço-vos
o concurso fraterno, em socorro dos irmãos hansenianos desencarnados. Vieram conosco, entre a lamentação e
a revolta, perturbados e oprimidos... No
mundo, receberam a chaga física por maldição, quando poderiam utilizá-la como
porta salvadora, e, no mundo
espiritual, experimentam os efeitos da rebeldia. Trazem, ainda, na organização perispirítica, os remanescentes da
enfermidade que os acabrunhava
e, no íntimo, sofrem a indisciplina e a inconformação. Graças a Jesus, porém, recolheram o benefício da calma, pelas
sementes de renovação evangélica
espalhadas em vossos estudos de hoje e esperamos possam imprimir, desde agora,
novos rumos à própria
transformação. E, agora, peço
permissão para orar convosco. Nesta
noite, em que toda a Cristandade se volta, reconhecida, para a memória do
Mestre, sentimo-lo igualmente em
seu derradeiro sacrifício e, mentalizando-O no madeiro, de alma genuflexa, trazemos a Ele, nosso
Eterno Amigo e Divino Benfeitor, a nossa prece de leproso diante da cruz. Em seguida a leve pausa, o Espírito Jésus Gonçalves modificou a inflexão
de voz e, erguendo-se para o Alto, orou, em lágrimas, comovedoramente: Senhor, eu que vivia em vãos
clamores, /Vinha de longe em
ânsias aguerridas,/ Sob a trama
infernal de horrendas lidas,/ Entre
largos caminhos tentadores./ Tronos,
glórias, tiaras, esplendores/ E
cidades famélicas vencidas.../ Tudo
isso alcancei, de mãos erguidas/ Aos
gênios tenebrosos e opressores./Mas, fatigado, enfim, de ser verdugo,/ /Roguei, chorando, a graça de teu
jugo/ E enviaste-me a lepra e a
solidão. /E, confinado às dores
que me deste,/ Abriu-se-me a
visão à luz celeste,/ E
achei-te, excelso, no meu coração. /
Hoje, Mestre, ante a cruz em que te apagas,/ Na compaixão que ajuda e renuncia,/Não te peço o banquete da
alegria,/ Embora o doce olhar
com que me afagas./ Venho rogar-te a túnica das chagas /Para que eu volte à estrada escura e fria,/ Em que os filhos da noite e da
agonia/ Sofrem ulcerações,
bramindo pragas.../Dá-me, de novo, a lepra que redime,/ Conservando-me a fé por dom sublime,/ Agora que, contente, me prosterno!.../ E que eu possa exaltar, por muitas vidas,/ Sobre o lenho de angústias e feridas,/ O teu reino de amor divino e eterno. Jésus Gonçalves
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