Alcançada
a fase em que a responsabilidade de viver é atingida pelo Espírito em seu
processo evolutivo, a consciência pessoal passa a comandar o mecanismo da Lei
de Ação e Reação no próprio indivíduo. Encarnado ou desencarnado, o Ser passa a
experimentar com mais frequência sensação de arrependimento e remorso, buscando
sua reabilitação perante si mesmo, por saber que a dor e o sofrimento experimentados
são culpa sua. Chico Xavier, por sinal, afirmou que o remorso é uma das mais
difíceis experiências vividas pelo Ser humano. Como se o relógio parasse
dentro a gente. Allan Kardec no número de agosto de 1867, da REVISTA ESPÍRITA, reproduz e comenta
interessante mensagem assinada Um Espírito ampliando nossa
compreensão sobre o tema. Diz ele: -“Não é somente no Mundo Invisível que a visão
da vítima vem atormentar o assassino para o forçar ao arrependimento; lá onde a
justiça dos homens não começou a expiação, a Justiça Divina faz começar, à
revelia de todos, o mais lento e o mais terrível dos suplícios, o mais temível
castigo. Há certas pessoas que dizem que a punição infligida ao criminoso no
Mundo dos Espíritos, e que consiste na visão contínua de seu crime, não pode
ser muito eficaz, e que em nenhum caso não é esta punição que, por si só,
determina o arrependimento. Dizem que um naturalmente perverso, como é um
criminoso, não pode senão amargurar-se cada vez mais por essa visão, e assim se
tornando pior. Os que assim falam não fazem ideia do que pode tornar-se um tal
castigo; não sabem quanto é cruel esse espetáculo contínuo de uma ação que
jamais se queria haver cometido. Certamente vemos alguns criminosos
empedernidos, mas muitas vezes é só por orgulho e por quererem parecer mais
fortes que a mão que os castiga; é para fazer crer que não se deixam abater
pela visão de imagens vãs; mas essa falsa coragem não tem longa duração, pois
logo os vemos fraquejar em presença desse suplício, que deve muito de seus
efeitos à sua lentidão e persistência. Não há orgulho que possa resistir a esta
ação, semelhante à da gota d’água sobre a rocha; por mais dura que possa ser a
pedra, é inevitavelmente atacada, desagregada, reduzida a pó. É assim que o
orgulho, que faz com que esses infelizes se obstinem contra seu soberano
senhor, mais cedo ou mais tarde é abatido, e que o arrependimento, enfim, pode
ter acesso à sua alma. Como sabem que a origem de seus sofrimentos está em sua
falta, pedem para repará-la, a fim de trazer um abrandamento a seus males.
Pondera Allan Kardec: --“Sem ir buscar aplicações do remorso nos grandes
criminosos, que são exceções na sociedade, nós as encontramos nas mais corriqueiras
circunstâncias da vida. É esse sentimento que leva todo indivíduo a afastar-se
daqueles contra os quais sente que tem censuras a se fazer; em presença deles
sente-se mal; se a falta não for conhecida, ele teme ser adivinhado; parece-lhe
que um olhar pode penetrar o fundo de sua consciência; vê em toda palavra, em
todo gesto uma alusão à sua pessoa, razão por que, desde que se sente
desmascarado, retira-se. O ingrato também foge de seu benfeitor, já que sua
visão é uma censura incessante, da qual em vão procura desembaraçar-se, pois
uma voz íntima lhe grita no fundo da consciência que ele é culpado. Se o
remorso já é um suplício na Terra, quão maior não será esse suplício no Mundo
dos Espíritos, onde não é possível subtrair-se à vista daqueles a quem se
ofendeu! Felizes os que, tendo reparado já nesta vida, poderão sem receio
enfrentar todos os olhares no mundo onde nada é oculto. O remorso é uma
consequência do desenvolvimento do senso moral; não existe onde o senso moral
ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens e
bárbaros cometem sem remorsos as piores ações. Aquele, pois, que se pretendesse
inacessível ao remorso, assimilar-se-ia ao bruto. À medida que o homem
progride, o senso moral torna-se mais apurado; ofusca-se ao menor desvio do
reto caminho. Daí o remorso, que é o primeiro passo para o retorno ao Bem”.
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