Nos
oitenta e um anos vividos em sua existência como Léon Denis (1846/1927), nos
últimos 20 esse Espírito esteve praticamente cego, embora muito produtivo
graças à retaguarda oferecida por Claire Baumard, que sucedeu sua irmã
gêmea Gabrielle na tarefa de secretariar o grande continuador de Allan
Kardec no desenvolvimento do aspecto filosófico do Espiritismo. Dénis
recordava que “tinha 18 anos quando, por volta de 1864, passando um dia pela
principal rua da cidade, vi, no mostruário de uma livraria, O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec. Avidamente o comprei, às ocultas de minha mãe,
muito cuidadosa quanto aos assuntos de minhas leituras”. Sobre sua
relação com a pessoa do Mestre, contou: “Eu encontrei várias vezes Allan Kardec
sobre o plano terrestre. A primeira vez foi em Tours, quando ele veio, ao curso
de uma viagem de conferências. Tínhamos alugado uma sala para o receber, mas a
polícia imperial, desconfiada, interditou-nos o seu uso. Foi preciso que nos
reuníssemos no jardim de um amigo, à luz das estrelas. Éramos bem trezentas
pessoas de pé, apertadas, pisando as platibandas, mas felizes por ver e ouvir o
mestre, assentado em meio a nós, ante uma mesinha e que nos falava do fenômeno
das obsessões. No dia seguinte, quando fui levar-lhe os meus cumprimentos,
encontrei-o nesse mesmo jardim, trepado num escabelo, colhendo cerejas para a
Sra. Allan Kardec. Esta cena bucólica cheia de encanto contrastava com a
gravidade dos personagens. Mais tarde encontrei-o em Bonneval, Eure-et-Loire,
onde fora participar de um meeting espírita que reunia todos os adeptos da
região. Finalmente em Paris, ao curso de minhas viagens, pude trocar ideias com
ele sobre a causa que nos era tão cara”. Na retaguarda de seu trabalho
encontrava-se o Espírito do grande discípulo de Jan Huss, o reformador
tcheco que, na verdade, foi a identidade do Espírito do Codificador do
Espiritismo em vida anterior na Terra. Ao seu lado quase que até o fim de sua
jornada como demonstrado na passagem em que convidado para presidir ao Congresso
Internacional Espírita de Paris, em 1925. Sentindo-se extenuado, enfermo,
dificultado pela quase ausência da visão, procura contornar “O mestre levou a
questão à consideração de seus guias em uma reunião íntima e estes o
encorajaram a participar do Congresso; entretanto, ele objetou mais uma vez,
recordando “o fardo de suas enfermidades”. Flammarion o substituiria
com vantagem. Léon Denis apenas pronunciara estas palavras quando foi
interrompido pelo médium que, em tom firme e nítido lhe responde: –
Flammarion não estará lá! Como? Flammarion vai se abster? “Não, ele não estará lá!”. Nenhuma
palavra a mais. O Congresso teria lugar de 6 a 13 de setembro de 1925, Camille
Flammarion, desencarnaria a 4 de junho, portanto quatro meses antes. Comentando
isso, sua secretária Mlle. Baumard não faz outros
comentários, porém em seu prefácio à biografia de Kardec, escrita por Henri
Sausse, Denis torna claro que o espírito ao qual
confiara suas dúvidas nessa noite fora o do próprio Kardec. No revelador livro LÉON DENIS NA INTIMIDADE (clarim,
1982), que biografa parte da vida do grande escritor de Tours, Claire Baumard - repetimos, sua
secretária nas ultimas décadas de sua vida terrena -, o tradutor e prefaciador Wallace
Leal Rodrigues, estabelece interessante paralelo sobre os personagens
aqui citados Denis, Kardec, Jerônimo de Praga. Segundo ele, a lógica das
tarefas desempenhadas por todos, indica que Denis ao tempo em que Kardec
foi Jan
Huss, o precursor da Reforma influenciado por Jerônimo de Praga que,
por sua vez, concluiu sua formação na Inglaterra, inflamando-se nos ideais
protestantes a partir das ideias desenvolvidas por John Wycliffe.
Deduz com grande possibilidade de acerto
que este renasceria onze anos antes do
lançamento d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS
para evoluir nas definições da Filosofia Espírita.
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