Longe de ser mera forma de explicar manifestações
físicas que fogem ao habitual, o Espiritismo oferece explicações da mais alta
significação para que entendamos a nós e ao Mundo que pertencemos. No número de
abril de 1867 da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta argumentos que demonstram a significação
do que estamos dizendo. Escreve ele:-“O Espiritismo baseia-se na existência do
princípio espiritual, como elemento constitutivo do Universo; repousa sobre a
universalidade e a perpetuidade dos seres inteligentes, sobre seu progresso
indefinido, através dos mundos e das gerações; sobre a pluralidade das
existências corporais, necessárias ao seu progresso individual; sobre sua
cooperação relativa, como encarnados ou desencarnados, na obra geral, na medida
do progresso realizado; sobre a solidariedade que une todos os seres de um
mesmo mundo e dos mundos entre si. Nesse vasto conjunto, encarnados e
desencarnados, cada um tem sua missão, seu papel, deveres a cumprir, desde o mais
ínfimo até os anjos, que nada mais são que Espíritos humanos chegados ao estado
de Espíritos puros, e aos quais são confiadas as grandes missões, o governo dos
mundos, como a generais experimentados. Em vez das solidões desertas do espaço
sem limites, por toda parte a vida e a atividade, em parte alguma a ociosidade
inútil; por toda parte o emprego dos conhecimentos adquiridos; em toda parte o
desejo de progredir ainda e de aumentar a soma de felicidades, pelo emprego
útil das faculdades da inteligência. Em vez de uma existência efêmera e única,
passada num cantinho da Terra, que decide para sempre de sua sorte futura,
impõe limite ao seu progresso e torna estéril, para o futuro, o trabalho a que
se entrega para instruir-se, o homem tem por domínio o Universo; nada do que
sabe ou do que faz fica perdido: o futuro lhe pertence; em vez do isolamento
egoísta, a solidariedade universal; em lugar do nada, segundo alguns, a Vida Eterna;
em lugar da beatitude contemplativa perpétua, segundo outros, que a tornaria de
uma inutilidade perpétua, um papel ativo, proporcionado ao mérito adquirido; em
vez de castigos irremissíveis por faltas temporárias, a posição que cada um
conquista por sua perseverança no bem ou no mal; em vez de uma mancha original,
que o torna passível de faltas que não cometeu, a consequência natural de suas
próprias imperfeições nativas; em vez das chamas do inferno, a obrigação de
reparar o mal que se fez e recomeçar o que se fez mal; em vez de um Deus
colérico e vingativo, um Deus justo e bom, que leva em conta todo
arrependimento e toda boa vontade. Tal é, em resumo, o quadro que apresenta o
Espiritismo, e que ressalta da situação mesma dos Espíritos que se manifestam;
não é mais uma simples teoria, mas resultado da observação. O homem que encara
as coisas deste ponto de vista, sente-se crescer; ergue-se aos seus próprios
olhos; é estimulado em seus instintos progressivos ao ver um objetivo para os
seus trabalhos, para os seus esforços em se melhorar. Mas, para compreender o
Espiritismo em sua essência, na imensidade das coisas que ele abarca, para
compreender o objetivo e o destino do homem, não era preciso relegar a
Humanidade a um pequeno Globo, limitar a existência a alguns anos, rebaixar o
Criador e a criatura. Para que o homem pudesse fazer uma ideia justa de seu
papel no Universo, era preciso que compreendesse, pela pluralidade dos mundos,
o campo aberto às suas explorações futuras e a atividade de seu espírito; para
recuar indefinidamente os limites da Criação, para destruir os preconceitos
sobre os lugares especiais de recompensa e de punição, sobre os diferentes
estágios dos céus, era preciso que penetrasse as profundezas do espaço; que em
lugar do cristalino e do empíreo, aí visse circular, em majestosa e perpétua
harmonia, os Mundos inumeráveis, semelhantes ao seu; que em toda parte seu
pensamento encontrasse a criatura inteligente”.
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