Escolhida
por editores e leitores como uma das mais importantes obras mediúnicas do
século 20, curiosamente esperou quase três décadas para se tornar conhecida pelo
grande público na forma de um livro. Tudo pelo temor da médium Yvonne
do Amaral Pereira em relação aos possíveis efeitos na mente e coração
dos leitores. Uma revisão do Espírito Léon Denis, todavia, infundiu-lhe a
segurança necessária para nos anos 50, disponibilizar a obra MEMÓRIAS DE UM SUICÍDA (feb, 1954). O
trabalho descortina a intensa atividade desenvolvida nos Planos Espirituais em
favor dos que cedem aos impulsos pessoais ou induzidos para a consumação do
suicídio. No terceiro capítulo da segunda parte, uma revelação histórica
importante e interessante é apresentada. Comenta um Instrutor Espiritual de
nome Epaminondas
de Vigo: "— As sociedades brasileiras, meus
caros discípulos, sofrem hoje e sofrerão ainda por espaço de tempo que estará
ao seu alcance o dilatar ou reprimir, as consequências das iniquidades que em pleno domínio da Era Cristã permitiram fossem
cometidas em seu seio. Refiro-me, como bem percebeis, à escravização de seres
humanos, tratados por elas com maior rigor do que o eram os próprios animais
inferiores, para a extração de posses e haveres que lhes facultassem o gozo e o
império das paixões! Se não foi crime individual e
sim coletivo, será a coletividade que expiará e reparará o grande opróbrio, o
grande martírio infligido a uma raça carecedora do amparo fraternal da Civilização
cristã, a fim de que, por sua vez, também se gloriasse as alvíssaras da
educação fornecida através da Boa Nova do Reino de Deus! Sob os céus assinalados
pelo símbolo augusto da Iniciação como do Cristianismo — a Cruz —, ressoam ainda,
ecoando aflitivamente na Espiritualidade, os brados angustiosos de milhares de
corações torturados que durante o dobar dos decênios
se compungiram ante a infâmia de que eram vítimas! Não deixaram de repercutir
ainda nas ondas delicadas do éter, onde se assentam as Esferas de proteção às
sociedades humanas, os rumores trágicos dos látegos sanhudos dos capatazes
diabólicos, a vergastarem homens e mulheres indefesos, cujas lágrimas,
recolhidas uma a uma pela Incorruptível Justiça do Todo Poderoso, foram, por
lei, espalhadas, em seguida, sobre essa mesma coletividade criminosa, para que,
por sua vez, as sorvesse em pelejas posteriores, a se purificarem do acervo de
maldades e infâmias praticadas! (...) E assim prosseguirão até que a Voz Celeste
dos Missionários do Senhor as oriente para finalidade apaziguadora, no trabalho
sublime da reconciliação individual por amor do Cristo de Deus! (...) Sabei que
entre os escravos que, sob os céus do Cruzeiro Sublime, choraram, vergados sob
o trabalho excessivo, famintos, rotos, doentes, tristes, saudosos, desesperados
frente à opressão, à fadiga, à maldade, nem todos traziam os característicos
íntimos da inferioridade, como bastas vezes
foi comprovado por testemunhas idôneas; nem todos apresentavam caracteres
primitivos! Grandes falanges de romanos ilustres, do império dos Césares; de
patrícios orgulhosos, de guerreiros altivos, autoridades das hostes de
Diocleciano, como de Adriano e Maxêncio, dolorosamente arrependidas das
monstruosas séries de arbitrariedades cometidas em nome da Força e do Poder
contra pacíficos adeptos do Cordeiro Imaculado, pediram reencarnações na África
infeliz e desolada, a fim de testemunharem novos propósitos ao contacto de
expiações decisivas, fustigando, assim, o desmedido orgulho que a raça poderosa dos romanos adquirira com as mentirosas glórias do
extermínio da dignidade e dos direitos alheios! Suplicaram, ainda e sempre
corajosos e fortes, novas conquistas! Mas, agora, nas pelejas contra si
próprios, no combate ao orgulho daninho que os perdera! Suplicaram disfarce carnal
qual armadura redentora, em envoltórios negros, onde peadas fossem suas
possibilidades de reação, e arvorada em suas consciências a branca bandeira da
paz, flâmula augusta concedida pela reparação do mal! E os escravizadores de
tantos povos e tantas gerações dignas! Os desumanos senhores do mundo
terráqueo, que gargalhavam enquanto gemiam os oprimidos! Que faziam seus regalos
sobre o martírio e o sangue inocente dos cristãos, expungiram sob o cativeiro
africano a mancha que lhes enodoava o Espírito!Daí, meus discípulos queridos, a
doce, mesmo sublime resignação dessa raça africana digna, por todos os motivos,
da nossa admiração e do nosso respeito, a passividade heroica que nem sempre se
estribou na ignorância e na incapacidade oriunda de um estado inferior, mas também
no desejo ardente e sublime da própria reabilitação espiritual!
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