Até
quando seu corpo físico desgastado permitiu Chico Xavier não deixou
de exercitar a caridade em favor dos desventurados do caminho. Foram mais de
oito décadas de compartilhamento do pouco que tinha e, mais à frente do que lhe
entregavam para minimizar as penúrias de pessoas socialmente carentes do pão,
da vestimenta, do abraço, da palavra amiga de esperança. Poucos sabem como tudo
começou, dias após a primeira mensagem psicografada, em 8 de julho de 1927.
Recordando o fator desencadeante, Chico conta: -“Na
noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira
mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se
iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Eu
estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os olhos,
tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável
presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me
para demonstrar- lhe respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e
dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela. A dama iluminada fitou uma imagem
de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em
castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela
facilmente se expressava: - "Francisco - disse-me pausadamente - em nome
de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos
pobres, nossos irmãos." A emoção me possuía a alma toda, mas pude
perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto: - Senhora, quem sois
vós? Ela me respondeu: - "Você não se lembra agora de mim, no entanto em
sou Isabel, Isabel de Aragão." Eu não conhecia senhora alguma que tivesse
este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me
continha e calei qualquer comentário, em tomo de minha ignorância. Mas o
diálogo estava iniciando e indaguei: - Senhora, sou pobre e nada tenho para
dar. Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo? Ela disse: -
"Você nos auxiliará a repartir pães com os necessitados." Clamei com
pesar: - Senhora, quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir
pães com os outros?...!A dama sorriu e me esclareceu: - "Chegará o tempo em
que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares
e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas
páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do
Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do
Senhor." Em seguida a estas palavras a dama se afastou deixando o meu
quarto em pleno escuro. Chorei sob emoção para mim inexplicável até o amanhecer
do dia imediato. Não tinha mais o Padre Scarzelli para consultar e notei que os
meus novos companheiros não poderiam me auxiliar, porque eu não sabia o que
vinha a ser a expressão "gentes peninsulares" ouvidas por mim; quanto
a estas duas palavras, nenhum deles conseguiu fornecer qualquer explicação.
Sentindo-me a sós com a lembrança da inesquecível visão, passei a orar, todas
as noites, pedindo a Nossa Senhora para que alguém me socorresse com as informações
que eu julgava precisas. Duas semanas após a ocorrência, estando eu nas preces
da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca que, por intuição,
notei tratar-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito e ele me respondeu
com bondade, explicando-se: - "Irmão Francisco, fui no século XIV um dos confessores
da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, que se fez esposa do Rei de Portugal, D.
Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de beneficência e instrução nos
dois reinos que formam a Península, conhecida na Europa, e voltou ao Mundo
Espiritual em 4 de julho de 1336. Desde então, ela protege todas as obras de
caridade e educação na Espanha e Portugal. Foi ela que o visitou, há alguns
dias, nas preces da noite, e prometeu lhe assistência. Ela me recomenda
dizer-lhe que não lhe faltará recursos para a distribuição de pães com os
necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. –“Confiemos em Jesus e
trabalhemos na sementeira do bem." Eu não tive garganta livre para falar.
O padre se retirou e, sentindo a premência do que desejava a nobre senhora, que
eu não sabia ter sido, na Terra, tão amada e tão ilustre Rainha. No primeiro
sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã Luíza até
uma ponte muito pobre, na cidade onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito
pães. Ali estavam refugiados alguns indigentes; parti os pães, a fim de que
cada um tivesse um pedaço, e assim foi iniciado o nosso serviço de assistência.
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