Fazia
pouco mais de quatro anos que O LIVRO
DOS ESPÍRITOS havia sido publicado e se multiplicavam por vários países europeus
os interessados no conhecimento e prática do Espiritismo. Allan Kardec já havia
reunido material suficiente para publicar O
LIVRO DOS MÉDIUNS fornecendo diretrizes para o entendimento da percepção
que coloca nossa Dimensão em contato com a dos Planos Espirituais. No número de
dezembro
de 1861 da REVISTA ESPÍRITA,
encontramos interessante estudo dividido em 25 tópicos em que ele apresenta
argumentos interessantes sobre a ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO. Dele destacamos
alguns, para nossas reflexões: 1-
EVOLUÇÃO DA IDEIA - O Espiritismo não
deve ser imposto; vem-se a ele porque dele se necessita, e porque dá o que não
dão as outras filosofias. Convém mesmo não entrar em nenhuma explicação com os
incrédulos obstinados: seria dar-lhes muita importância e leva-los a pensar que
dependemos deles. Os esforços feitos para os atrair os afastam e, por
amor-próprio, obstinam-se na sua oposição. Eis por que é inútil perder tempo
com eles; quando a necessidade se fizer sentir, virão por si mesmos. Enquanto
esperamos, é preciso deixá-los tranquilos, satisfeitos no seu cepticismo que,
acreditai, muitas vezes lhes pesa mais do que dão a parecer; porque, por mais
que digam, a ideia do nada após a morte tem algo de mais assustador, de mais
doloroso que a própria morte. 2 - CARÁTER
DAS PRINCIPAIS VARIEDADES DE ESPÍRITAS. Pode-se
pôr em primeira linha os que creem pura e simplesmente nas manifestações. Para
eles o Espiritismo não passa de uma ciência de observação, uma série de fatos
mais ou menos curiosos; a filosofia e a moral são acessórios de que pouco se
ocupam e de cujo alcance nem mesmo desconfiam. Nós os chamamos espíritas
experimentadores. Vêm a seguir os que veem no Espiritismo algo mais que simples
fatos; compreendem o seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente,
mas não a praticam; extasiam-se ante as belas comunicações, como diante de um
sermão eloquente, que ouvem mas não aproveitam. A influência sobre o seu
caráter é insignificante ou nula; em nada mudam seus hábitos e não se privariam
de um único prazer: o avarento é sempre avarento, o orgulhoso sempre cheio de
si mesmo, o invejoso e o ciumento, sempre hostis. Para eles a caridade cristã é
apenas uma bela máxima e os bens deste mundo os arrastam na sua estima sobre os
do futuro. São os espíritas imperfeitos. Ao lado destes há outros, mais
numerosos do que se pensa, que não se limitam a admirar a moral espírita, mas
que a praticam e a aceitam em todas as suas consequências. Convencidos de que a
existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar estes curtos
instantes para marchar na via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e
reprimir as más inclinações; suas relações são sempre seguras, porque sua
convicção os afasta de todo mau pensamento. Em tudo a caridade é sua regra de
conduta. São os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos. 3 - O VERDADEIRO ESPÍRITA - Tendo como objetivo a melhoria dos homens, o
Espiritismo não vem recrutar os que são perfeitos, mas os que se esforçam em o
ser, pondo em prática o ensino dos Espíritos. O verdadeiro espírita não é o que
alcançou a meta, mas o que deseja seriamente atingi-la. Sejam quais forem os
seus antecedentes, será bom espírita desde que reconheça suas imperfeições e
seja sincero e perseverante no propósito de emendar-se. Para ele o Espiritismo
é uma verdadeira regeneração, porque rompe com o passado; indulgente para com
os outros, como gostaria que fossem para consigo, de sua boca não sairá nenhuma
palavra malevolente nem ofensiva contra ninguém. Aquele que, numa reunião, se afastasse
das conveniências, não só provaria falta de civilidade e de urbanidade, mas
falta de caridade; aquele que se melindrasse com a contradição e pretendesse
impor a sua pessoa ou as suas ideias, daria prova de orgulho. Ora, nem um nem
outro estariam no caminho do verdadeiro Espiritismo cristão. Aquele que pensa
ter uma opinião mais justa fará que os outros a aceitem melhor pela persuasão e
pela doçura; o azedume, de sua parte, seria um péssimo negócio.
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