Há varias formas pela qual ela se
manifesta na vida das pessoas. Intolerância religiosa, politica, social,
racial. As revelações do Espiritismo, contudo, demonstram que ninguém foge à
responsabilidade, quaisquer sejam seus atos. O exemplo a seguir confirma
isso, tornando-se publico através de depoimento através da mediunidade de Chico Xavier em 13 de maio de 1954. O fato envolve lamentável decisão adotada no
final do século 19 na cidade de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro. Uma das
proeminentes figuras da cidade foi convidada a participar de uma “reunião para estudar-se medidas compatíveis
com a campanha abolicionista, então em culminância”. Discussões
acaloradas resultaram em nada, deliberando-se pelas surpresas governamentais. O
escravagista radical, “de volta ao lar, porém, veio a saber que a
inspiração da providência sugerida partira inicialmente de um homem simples, de um homem escravizado, Ricardo,
servo de sua casa, a quem presumia dedicar minha melhor afeição. Era seu companheiro, confidente, amigo... Inteligência
invulgar, traduzia o francês com
facilidade. Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da Corte...
Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus documentários, orientador nos
problemas graves e irmão nas horas difíceis... Minha amizade, contudo, não
passava de egoísmo implacável. Admirava-lhe as qualidades inatas e
aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o como se não passasse de mera
propriedade minha. Enraivecido, propus-me castigá-lo. E, para escarmento das
senzalas, na sombra da noite, determinei a imediata prisão de quem havia sido
para mim todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho ou pai. Ricardo
não se irritou ante o desmando a que me entregava. Respondeu-me às perguntas
com resignação e dignidade. Calmo, não se abateu diante de minhas exigências.
Explicou-se, imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava no
espírito. Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. Golpeado em meu orgulho,
ordenei que a prisão no tronco fosse transformada em suplício. Gritei, desesperado.
Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa.
Reuni minha gente e as pancadas — triste é
recordá-las! — dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis.
O sangue do companheiro jorrou, abundante. A
vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em lacrimoso silêncio. E,
humilhado por minha vez, à face daquela resistência tranquila, induzi o capataz
a massacrar-lhe as mãos e os pés. A recomendação foi cumprida. Logo após,
porque o sangue borbotasse sem peias, meu carrasco desatou-lhe os grilhões... Ricardo,
na agonia, estava livre... Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um
coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e,
endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e
beijou-me os pes... Não acredito estejais em condições de compreender o martírio
de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a deixei... Um
pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse
sofrer menos, pois desde aquele instante a existência se me tornou insuportável
e odiosa. A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. E quando a morte me
requisitou à verdade, não encontrei no imo do meu ser senão austero tribunal,
como que instalado dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que me
parecia nunca terminar... Lutei infinitamente. Um homem perdido por séculos, em
noite tenebrosa, creio eu padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante
da própria consciência. Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre
sem esperança se transforma numa eternidade de aflição. Sei apenas que, em dado
instante, na treva em que me debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus
pés: — Meu filho!... meu filho!... Num prodígio de memória, em vago relâmpago
que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a
distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente
apagar... Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele
identificando meu próprio pai... Meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao
poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... Não
posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... Envergonhado,
em vão tentei fugir de mim mesmo. Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços
carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz
tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu
escravo e minha vítima não poderia compreender... No entanto, como se a Justiça,
naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória,
após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas
mãos estavam retorcidos... Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça
vencera. Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei de dor...
Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas criaturas que eu havia
maltratado, velhos cativos que me haviam conhecido a truculência... E, por
muitos deles, fui também submetido a processos pavorosos de dilaceração.
Passei, porém, a rejubilar-me com isso. Guardava, no fundo, a consolação do
criminoso que se sente, de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é
imposta”.
As palavra positivas nos leva o caminha de Deus, que tudo faz por nos e as vezes nada sabemos fazer pra agradar ele.Homem que desfalece a cada hora é homem doente e a doença está nele e não fora.
ResponderExcluir