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domingo, 15 de maio de 2016

O PREÇO ALTO DA INTOLERÂNCIA

Há varias formas pela qual ela se manifesta na vida das pessoas. Intolerância religiosa, politica, social, racial. As revelações do Espiritismo, contudo, demonstram que ninguém foge à responsabilidade, quaisquer sejam seus atos. O exemplo a seguir confirma isso, tornando-se publico através de depoimento através da mediunidade de Chico Xavier em 13 de maio de 1954.  O fato envolve lamentável decisão adotada no final do século 19 na cidade de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro. Uma das proeminentes figuras da cidade foi convidada a participar de uma “reunião para estudar-se medidas compatíveis com a campanha abolicionista, então em culminância”. Discussões acaloradas resultaram em nada, deliberando-se pelas surpresas governamentais. O escravagista radical, “de volta ao lar, porém, veio a saber que a inspiração da providência sugerida partira inicialmente de um homem simples, de um homem escravizado, Ricardo, servo de sua casa, a quem presumia dedicar minha melhor afeição. Era seu  companheiro, confidente, amigo... Inteligência invulgar, traduzia o francês com facilidade. Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da Corte... Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus documentários, orientador nos problemas graves e irmão nas horas difíceis... Minha amizade, contudo, não passava de egoísmo implacável. Admirava-lhe as qualidades inatas e aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o como se não passasse de mera propriedade minha. Enraivecido, propus-me castigá-lo. E, para escarmento das senzalas, na sombra da noite, determinei a imediata prisão de quem havia sido para mim todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho ou pai. Ricardo não se irritou ante o desmando a que me entregava. Respondeu-me às perguntas com resignação e dignidade. Calmo, não se abateu diante de minhas exigências. Explicou-se, imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava no espírito. Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. Golpeado em meu orgulho, ordenei que a prisão no tronco fosse transformada em suplício. Gritei, desesperado. Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa.
Reuni minha gente e as pancadas — triste é recordá-las! — dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis.

O sangue do companheiro jorrou, abundante. A vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em lacrimoso silêncio. E, humilhado por minha vez, à face daquela resistência tranquila, induzi o capataz a massacrar-lhe as mãos e os pés. A recomendação foi cumprida. Logo após, porque o sangue borbotasse sem peias, meu carrasco desatou-lhe os grilhões... Ricardo, na agonia, estava livre... Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e, endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e beijou-me os pes... Não acredito estejais em condições de compreender o martírio de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a deixei... Um pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos sucessivos talvez me fizesse sofrer menos, pois desde aquele instante a existência se me tornou insuportável e odiosa. A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. E quando a morte me requisitou à verdade, não encontrei no imo do meu ser senão austero tribunal, como que instalado dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que me parecia nunca terminar... Lutei infinitamente. Um homem perdido por séculos, em noite tenebrosa, creio eu padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante da própria consciência. Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre sem esperança se transforma numa eternidade de aflição. Sei apenas que, em dado instante, na treva em que me debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus pés: — Meu filho!... meu filho!... Num prodígio de memória, em vago relâmpago que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente apagar... Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele identificando meu próprio pai... Meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao poste de martírio e a cuja flagelação eu assistira, insensível, até ao fim... Não posso entender os sentimentos contraditórios que então me dominaram... Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que se compraz tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não poderia compreender... No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória, após tantos anos de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam retorcidos... Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça vencera. Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei de dor... Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas criaturas que eu havia maltratado, velhos cativos que me haviam conhecido a truculência... E, por muitos deles, fui também submetido a processos pavorosos de dilaceração. Passei, porém, a rejubilar-me com isso. Guardava, no fundo, a consolação do criminoso que se sente, de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é imposta”.

Um comentário:

  1. As palavra positivas nos leva o caminha de Deus, que tudo faz por nos e as vezes nada sabemos fazer pra agradar ele.Homem que desfalece a cada hora é homem doente e a doença está nele e não fora.

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