Se
a racionalidade da Verdade encontra tanta dificuldade para ser assimilada pelo pensamento
analógico do indivíduo, o tempo para ser absorvido pelo coletivo é muito maior.
A história está repleta de exemplos, até porque, por vezes, é necessário o
coletivo para alcançar o individual. Assim tem sido no campo da ciência em suas
diferentes especializações desde que a “muralha” imposta pela religião veio
abaixo mais objetivamente com as proposições de Copérnico confirmadas por
Galileu. Com Freud, Jung, Einstein e muitos outros nos vislumbres de suas
Teorias não foi diferente. Décadas se passaram até que o meio dito científico
reconhecesse sua validade e começassem a aproveitar e desenvolver os temas por
eles tratados. Com o Espiritismo ocorre o mesmo. Perseguido, ironizado,
desacreditado ao tempo de Allan Kardec pelo meio acadêmico,
vai se confirmando a muitos representantes deste, sua validade e utilidade. O
coletivo, nesse caso, vai paralelamente despertando a consciência da letargia em
que muitos preferem viver. A didática adotada pelo educador francês em escritos
com que compôs o acervo de seus livros e publicações continua válida nos tempos
que correm. Na REVISTA ESPÍRITA de março
de 1865, encontramos algumas amostras. Vejamos alguns pontos: 1-
O ESPIRITISMO DEMONSTRA O VERDADEIRO
DESTINO DO HOMEM - Tomando-se por base a
natureza deste último e os atributos divinos, chega-se a uma conclusão. O homem
compõe-se de corpo e Espírito: o Espírito é o ser principal, racional,
inteligente; o corpo é o invólucro material que reveste o Espírito
temporariamente, para preenchimento de sua missão na Terra e execução do
trabalho necessário ao seu adiantamento. O corpo, usado, destrói-se e o
Espírito sobrevive à sua destruição. Privado do Espírito, o corpo é apenas
matéria inerte, qual instrumento privado da mola que o faz agir; sem o corpo, o
Espírito é tudo: a vida, a inteligência. Em deixando o corpo, torna ao Mundo Espiritual,
de onde havia saído para reencarnar. 2 - Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto
de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados.
Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório,
estão ligados à Terra ou a qualquer Globo; o Mundo Espiritual ostenta-se por toda
parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão
mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar
de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a
rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que os retinham
cativos.
3- O FIM DO MISTÉRIO
DA CRIAÇÃO - Os
Espíritos são criados simples e ignorantes, mas dotados de aptidão para tudo
conhecerem e para progredirem, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso
adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções e, conseguintemente,
novos gozos desconhecidos dos Espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e
compreendem o que os Espíritos atrasados não podem ver, sentir, ouvir ou
compreender. A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte
que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente
por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso
precisem estar, cada qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode um estar
em trevas, enquanto que tudo resplandece para o outro, tal como um cego e um
vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não recebe a
mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades,
haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra,
no meio dos encarnados, ou no Espaço. 4- FUNÇÃO DA REENCARNAÇÃO - A encarnação é necessária ao duplo progresso
moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade
obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos
homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. A
bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o
egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a
lealdade, a má-fé, a hipocrisia, numa palavra, tudo que constitui o homem de
bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem
com os seus semelhantes.
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