O acervo constituído pelas cartas
psicografadas por Chico Xavier em reuniões públicas contém informações
extremamente interessantes, representando importantes documentos confirmatórios
da sobrevivência após a morte do corpo físico. Uma delas começa no sábado 19 de
março de 1977. Os principais jornais daquela manhã estampavam em destaque, a notícia sobre
a queda de um avião de pequeno porte na tarde do dia anterior, a poucos quilômetros
de São Paulo, na região de Mairiporã. O acontecimento ganhou evidência ainda
maior pelo fato dos três tripulantes serem personalidades conhecidas no
automobilismo mundial. Marivaldo Fernandes, campeão das pistas brasileiras;
José Carlos Pace (o Moco), que vencera no início daquele ano, o Grande Prêmio
Brasil de Fórmula 1, em Interlagos, e o amigo Carlos Roberto de Oliveira,
apelido Nenê. Haviam levantado voo do
campo de Marte, em São Paulo, na tarde da sexta feira, num avião modelo
Sertanejo, pilotado por Marivaldo, e, a poucos quilômetros da Capital, se
depararam com uma forte tempestade. Com a visibilidade muito prejudicada,
Marivaldo pensou em retornar ao ponto de origem, todavia a intensidade do
aguaceiro que se projetava, ocasionou a choque da aeronave com a densa mata da
Serra da Mantiqueira. Observado o desaparecimento do avião pelo Centro de
controle do Tráfego Aéreo, foram iniciadas as buscas e, quase ao anoitecer, as
equipes de resgate localizaram os destroços do aparelho para a dura
constatação: não havia sobreviventes. Sem que aparentemente houvesse conexão
com o acontecimento, no dia 10 de maio, o médium Francisco Cândido Xavier, se
fazia presente no Guarujá, litoral paulista, atendendo a convite de amigos para
prestigiar a festa de inauguração da Comunidade Espírita Cristã, instituição
fundada objetivando a difusão e assistência social com base nos princípios do
Espiritismo. Ao final das comemorações, como não poderia deixar de ser, os
organizadores solicitaram a Chico tentasse receber alguma mensagem do Plano
Espiritual, sugestão acatada pelo médium. Concluída a psicografia e efetuada a
leitura da carta, o espanto tomou conta de todos os presentes no local: era de
Marivaldo Fernandes, o piloto do avião caído quase dois meses antes. Alguns
familiares dele, espíritas convictos, estavam entre a compacta multidão atraída
à sede da instituição pela presença do médium, e, com a carta, abrandaram a
inevitável dor da separação. Rememorando os lances derradeiros de sua
existência física, conta na mensagem:-“Fiz tudo para que o Sertanejo pousasse
equilibrado. Ele era, no entanto, um pássaro pesado demais para se aninhar
naquelas árvores da Serra de Mairiporã. O estouro foi inevitável e, depois, o
indescritível. Não houve tempo para conversar com o nosso caro Pace, nem com o
Carlos Nenê. A mente estava superconcentrada no esforço imenso de controlar
aquele pequeno gigante de metal e de estruturas que se arrebentavam sobre nós.
Não posso descrever o que se passou. Um desmaio leve, pelo menos é o que julgo
me tenha sucedido, não me consentia fixar detalhes. Não tive dores. Vi-me no
matagal com o Moco ao meu lado, vendo o Carlos deitado no chão. Sinceramente,
julgamos nos primeiros minutos, que havíamos escapado ilesos, trocando
afirmativas de espanto. Mas de improviso, um homem apareceu e abraçou o Pace
demoradamente, abraçando-me em seguida. - Caramba! É meu pai Angelo!, exclamou
o companheiro. Quase no mesmo instante a madrinha Conceição, a enlaçar-me com o
carinho da mamãe e depois outros amigos principalmente alguns das corridas de
Kart, surgiam aos nossos olhos. Empalideci-me de assombro e vi que o Pace
estava amarelo de espanto. Somente então, sem que ninguém pronunciasse a
palavra "morte", reconhecemos tudo. Havíamos passado de uma vida para
outra. O Pace, o pai, nos disse sorrindo: ─ Não se assustem, agora a corrida
foi vertical. Essa foi a diferença... Por mais que quiséssemos fazer humor, não
seria possível para nós facear sem medo, aquela página nova e desconhecida no
livro da vida. A ânsia de regressar à casa sem poder, a dor de haver efetuado,
não um pouso forçado, mas uma despedida em definitivo, do corpo que ficara na
condição de roupa irremediavelmente estragada, a luta para fazer-nos
compreendidos, os conflitos íntimos de pessoas despojadas de tudo o que nos era
querido, de um instante para outro, estabeleciam em nosso crânio uma espécie de
angústia que começou como sendo perplexidade para depois transformar-se em
agoniado sofrimento... Era demais a dose de surpresas para nós. A dose de
problemas que se nos convertiam em fel no coração: essa dose de sofrimento
imprevisto era pesada demais para a nossa cabeça e caímos tontos ou
semi-loucos. Parecia a mim, que nos achávamos num pesadelo de que era preciso
acordar imediatamente, mas... enfermeiros apresentaram macas com a naturalidade
dos serviços de qualquer aeroporto improvisado e fomos recolhidos à vida
hospitalar daqui, de onde vim, ainda muito enfaixado para pedir-lhes fé em Deus
e coragem para aceitarmos a provação que nos foi reservada”.
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