SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DE ESPÍRITOS
Allan
Kardec gastou
259 palavras para justificar a inclusão no capítulo 31 d’O LIVRO DOS MÉDIUNS de uma mensagem atribuída Jesus de Nazaré demonstrando
o critério rigoroso que adotava para selecionar mensagens, terminando suas
ponderações com a seguinte recomendação: - Que cada um julgue por si mesmo se aquele de
quem ela traz o nome não a renegaria. Na atualidade, não se
observa tanto cuidado, tendo-se a impressão que o que importa é o resultado
comercial no caso de livros, por exemplo. Outro tema curioso é quanto aos
títulos utilizados por alguns Espíritos comunicantes. No número de julho
de 1866 da REVISTA ESPÍRITA,
Allan
Kardec se pronuncia sobre o assunto a partir de questionamento
levantado por leitores da publicação. Explica ele: Num grupo de província, tendo-se
apresentado um Espírito sob o nome de “São José, santo, três vezes santo”, isto
deu ensejo a que se fizesse a seguinte pergunta: Um Espírito, mesmo canonizado
em vida, pode dar-se a qualificação de santo, sem faltar à humildade, que é um
dos apanágios da verdadeira santidade e, invocando-o, permite que lhe deem esse
título? O Espírito que o toma deve, por esse fato, ser tido por suspeito?
Outro Espírito respondeu: -Deveis rejeitá-lo imediatamente, pois
equivaleria a um grande capitão que se vos apresentasse exibindo pomposamente
seus numerosos feitos de armas, antes de declinar o seu, ou a um poeta que
começasse por se gabar de seus talentos. Veríeis nessas palavras um orgulho
despropositado. Assim deve ser com homens que tiveram algumas virtudes na Terra
e que foram julgados dignos de canonização. Se se apresentarem a vós com
humildade, crede neles; se vierem se fazendo preceder de sua santidade,
agradecei e nada perdereis. O encarnado não é santo porque foi canonizado: só
Deus é santo, porque só ele possui todas as perfeições. Vede os Espíritos
superiores, que conheceis pela sublimidade de seus ensinamentos: eles não ousam
dizer-se santos; qualificam-se simplesmente de Espíritos de verdade. Pronuncia-se
Allan
Kardec: - Esta resposta demanda algumas retificações. A canonização não implica a
santidade no sentido absoluto, mas simplesmente um certo grau de perfeição.
Para alguns a qualificação de santo tornou-se uma espécie de título banal,
fazendo parte integrante do nome, para os distinguir de seus homônimos, ou que
lhes dão por hábito. Santo Agostinho, São Luís, São Tomé, podem, pois,
antepor o nome santo à sua assinatura, sem que o façam por um sentimento de
orgulho, que seria tanto mais descabido em Espíritos superiores que, melhor que
os outros, não fazem nenhum caso das distinções dadas pelos homens. Dar-se-ia o
mesmo com os títulos nobiliárquicos ou as patentes militares. Seguramente
aquele que foi duque, príncipe ou general na Terra não o é mais no mundo dos
Espíritos e, no entanto, assinando, poderão tomar essas qualificações, sem que
isto tenha consequência para o seu caráter. Alguns assinam: aquele que, quando
vivo na Terra, foi o duque de tal. O sentimento do Espírito se revela pelo
conjunto de suas comunicações e por sinais inequívocos em sua linguagem. É
assim que não nos podemos enganar sobre aquele que começa por se dizer: “São
José, santo, três vezes santo.” Só isto bastaria para revelar um Espírito
impostor, adornando-se com o nome de São José. Assim, ele pôde ver, graças ao
conhecimento dos princípios da doutrina, que sua velhacaria não encontrou
ingênuos no círculo onde quis introduzir-se. O Espírito que ditou a comunicação
acima é, pois, muito absoluto no que concerne à qualificação de santo e não
está certo quando diz que os Espíritos superiores se dizem simplesmente
Espíritos de verdade, qualificação que não passaria de um orgulho disfarçado
sob outro nome, e que poderia induzir em erro, se tomado ao pé da letra, porque
nenhum se pode vangloriar de possuir a verdade absoluta, nem a santidade
absoluta. A qualificação de Espírito de verdade não pertence senão a um só, e
pode ser considerada como nome próprio; está especificada no Evangelho. Aliás,
esse Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias especiais.
Devemos pôr-nos em guarda contra os que se adornam indevidamente com esse
título: são fáceis de reconhecer, pela prolixidade e pela vulgaridade de sua
linguagem.
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