Os
exemplos falam mesmo mais que numerosas palavras. E a vida do cidadão Chico
Xavier precisa ser lembrada também por isso. Marcada por grandes
dificuldades familiares, econômicas e sociais, serve de inspiração para muitas
reflexões sobre ângulos geralmente esquecidos por nós em meio às tribulações em
que nos vemos. A passagem a seguir demonstra isso. Chico contava 31 anos quando o fato se deu. Conta ele: -“Em 1939,
desencarnou um de meus irmãos, José Cândido Xavier, deixando sob nossa
responsabilidade, a viúva com dois filhinhos. A viúva de meu irmão era uma moça
extraordinária, humilde e bondosa. Em 1941, ela foi acometida de grave
distúrbio mental. Depois de alguns meses em que a viúva de meu irmão estava
conosco em casa, doente, o caso agravou-se requerendo internação numa casa de
saúde mental, o que foi providenciado em Belo Horizonte, com o auxílio de
médicos amigos. Voltei para casa com o coração muito abatido. Era noite. O
segundo filho de minha cunhada, com meu irmão, era uma criança paralítica, cega
e surda-muda. A criança chorava e eu me enterneci muito ao ver o pequenino sem
a presença materna. Sentei-me e comecei a orar. As lágrimas vieram-me aos
olhos, ao lembrar meu irmão desencarnado muito moço ainda, a viúva tão cedo
também, numa prova tão difícil! Na incapacidade de dar a ela a assistência
precisa, senti que minha dor era muito grande! Achegou-se, então, a mim, o
Espírito de nosso amigo Emmanuel. Perguntou-me porque
chorava. Contei-lhe que, naquela hora eu me enternecia muito por ver minha cunhada
numa casa de saúde mental em condições assim precárias. – Não! disse ele –
você está chorando por seu orgulho ferido; você, aqui, tem sido instrumento
para cura de alguns casos de obsessão, para a melhoria de muitos
desequilibrados. Quando aprouve ao Senhor, que a provação viesse
debaixo de seu teto, você está com o coração amargurado, ferido, porque foi
obrigado
a recorrer à assistência médica o que, aliás, é muito natural. Uma casa de
saúde
mental, um sanatório, um hospício, é uma casa de Deus. Você não deve ficar
assim.
Disse-lhe, então, que concordava e pedi-lhe como espírito benfeitor, que
trouxesse a minha cunhada de volta ao lar, pois a criança, o seu segundo filho
era paralítico e aquele choro atestava a falta que o pequenino sentia dela. Ela
voltaria – afirmou-me. Mas aquele “Ela
voltaria” poderia ser depois de muito tempo – o que de fato aconteceu só
depois de dois anos. – Eu queria que ela voltasse depressa –
disse a ele impaciente. – Imaginemos a Terra – respondeu-me
– como
sendo o Palácio da Justiça, e ela como sendo uma pessoa incursa em determinada
sentença da Justiça. Eu sou seu advogado e você é serventuário no Palácio da
Justiça. Nós estamos aqui para rasgar ou cumprir o processo? – Para
cumprir – respondi. Continuei, porém, chorando por observar o assunto
ser mais grave do que pensava. – Por que você continua chorando? –
disse ele. Querendo me agastar, muito indevidamente, porque a minha atitude era
desrespeitosa, diante de um amigo espiritual tão grande e tão generoso,
disse-lhe: – Estou chorando porque, afinal de contas, o senhor precisa saber que
ela é minha irmã! - ouvindo dele – Eu me admiro muito porque, antes dela, você tinha lá dentro naquela
casa, trezentas irmãs e nunca vi você ir lá chorar por nenhuma. A dor Xavier não é maior que a dor Almeida, do
que a dor Pires, do que a dor Soares, a dor de toda a família que tem um doente. Se você quer mesmo seguir a Doutrina
que professa, ao invés de chorar por
sua cunhada, tome o seu lugar ao lado da criança que está doente, precisando de calor humano. Substitua nossa irmã, exercendo,
assim, a fraternidade. – Foi uma
lição que não posso esquecer!
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