No número de maio de 1861, da REVISTA
ESPÍRITA na seção QUESTÕES
E PROBLEMAS, Allan Kardec oferece interessantes esclarecimentos por certo
uteis ainda hoje. Deles destacamos três para reflexões. 1-
Os
magos, os sábios, os grandes filósofos e os profetas antigos não eram médiuns?
Resp. – Evidentemente, sim. O laço que os unia às inteligências superiores agia
sobre eles e lhes inspirava novos pensamentos, sem falar de sua própria
superioridade, que lhes permitia emitirem apreciações mais exatas. Eles
comunicavam aos Espíritos encarnados ideias que pareciam profecias, porque
estas nada mais são do que comunicações vindas dos grandes Espíritos. E como
possuíam uma parte dos atributos divinos, as ideias anunciadas tinham um
caráter de adivinhação, e forçosamente se realizaram nos tempos e épocas
indicados.. 2- A mediunidade é, pois, um favor aos que a possuem? Resp. – O
verdadeiro médium, que não faz profissão desse dom sublime, evidentemente deve
tornar-se melhor. Como não seria de outro modo, quando a cada instante pode
receber impressões tão favoráveis ao seu progresso na senda do bem? As ideias
filosóficas que emite, não só por seu próprio Espírito, mas, ainda, e
principalmente por nós, são retificadas naquilo que a sua inteligência, muito
fraca, poderia compreender mal e mal enunciar. Na sequencia da matéria
publicada, após breve comentário, Allan Kardec propõe uma questão que ele mesmo
procura responder. Escreve ele: -“No momento de sua criação, os Espíritos não
são imperfeitos senão do ponto de vista do desenvolvimento intelectual e moral,
como a criança ao nascer, como o germe contido na semente da árvore; mas não
são maus por natureza. Ao mesmo tempo, neles se desenvolve a razão, o
livre-arbítrio, em virtude do qual escolhem, uns o bom caminho, outros o mau,
fazendo que uns cheguem ao objetivo mais cedo que outros. Mas todos, sem
exceção, devem passar pelas vicissitudes da vida corporal, a fim de adquirir
experiência e ter o mérito da luta. Ora, nessa luta uns triunfam, outros sucumbem,
conquanto os vencidos possam sempre se erguer e resgatar os seus fracassos.
Esta questão levanta outra, mais grave, que muitas vezes nos tem sido
apresentada. É a seguinte: 3- Deus,
que tudo sabe, o passado, o presente e o futuro, deve saber que tal Espírito
seguirá o mau caminho, sucumbirá e será infeliz. Neste caso, por que o criou?
Ora, por certo sabe Deus perfeitamente a linha que seguirá um Espírito, pois,
de outro modo, não teria a ciência soberana. Se o mau caminho no qual se
aventura o Espírito devesse fatalmente conduzi-lo a uma eternidade absoluta de
penas e sofrimentos; se, porque tivesse falido, lhe fosse sempre negado
reabilitar-se, a objeção acima teria uma força de lógica incontestável, e
talvez aí residisse o mais poderoso argumento contra o dogma dos suplícios
eternos. Neste caso, impossível é sair do dilema: ou Deus não conhece a sorte
reservada à sua criatura, e então não tem a soberana ciência; ou, se a conhece,
Ele a criou para ser eternamente infeliz e, portanto, não tem a soberana bondade.
Com a Doutrina Espírita, tudo concorda perfeitamente e não há mais contradição:
Deus sabe que um Espírito tomará um mau caminho; conhece todos os perigos de
que este se acha semeado, mas sabe, também, que dele sairá, e que não haverá
para ele senão um atraso. E, em sua bondade e para lhe facilitar, multiplica em
sua rota as advertências salutares, das quais infelizmente nem sempre ele
aproveita. É a história de dois viajantes que querem alcançar um belo país,
onde viverão felizes; um sabe evitar os obstáculos, as tentações que o fariam
parar no caminho; o outro, por imprudência, choca-se contra os mesmos
obstáculos, leva quedas que o atrasam, mas chegará por sua vez. Se, no caminho,
pessoas caridosas o previnem dos perigos que corre e se, por presunção, não as
escuta, mais repreensível será por isso.
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