As quatro e meia da madrugada do dia 14 de maio de 1972, na altura do
quilômetro 22,5 da Via Anchieta, um grave acidente envolveu vários veículos. Entre estes, estava o volks dirigido pelo
jovem Charles Wandenberg Fernandes Cerboncini, então com 22 anos,
acompanhado por uma desconhecida amiga que se evadiu do local da colisão na
qual o rapaz desencarnaria. Estudante de
medicina, Charles era um jovem dinâmico, dedicado, formado em música pelo
conservatório Santa Cecília e, naquela madrugada, dirigia-se à Santos, a fim de
encontrar-se com os familiares que lá estavam para comemorar o dia das mães,
visto que permanecera no sábado na capital para estudar para uma prova. Componente com a irmã de uma família até
então de vida normal, impôs com sua morte uma profunda transformação visto que
a dor e a revolta passavam a ocupar o pensamento de todos. Especialmente porque
Charles
desencarnou devido a uma hemorragia, pois que não sofrera nenhuma fratura. Seu
corpo estava perfeito, somente havia dois cortes nas suas faces e esses cortes
não foram devidamente suturados, e esvaiu-se em sangue por mais de cinco horas
em que ficou como que abandonado até que a família o localizasse. Sua mãe, Da. Esmeralda, que era
obstetra, com tanto conhecimento entre médicos, vira seu amado filho morrer por
falta de assistência e, então, revoltou-se e abandonou tudo, ficando como que
desarvorada, à cata de consolações, à procura dos por quês, querendo
explicações. Um ano se arrastara e, em
maio de 1973, soube que o Chico Xavier estaria autografando
livros na Casa Transitória Fabiano de Cristo, em São Paulo, pediu ao
marido que a levasse até ele. O casal chegou lá pelas 9 horas e recebeu o
cartão n.º 4.366; pelos seus cálculos, estaria perto do Chico dali a umas 20
horas. Não poderia esperar e ela necessitava falar-lhe. Soube, então, que Chico
estava numa reunião particular, com várias personalidades (deputados,
vereadores), pois tratavam da concessão do título de “Cidadão Paulistano” ao médium,
e ela conseguiu, por fim, adentrar ao recinto, com muita dificuldade, segurando
entre as mãos e com a capa apertada e virada para o seu colo, o livro que o
marido lhe comprara na entrada. Assim que ela se alojou, muito mal, entre
aqueles que estavam por detrás de Chico, um rapaz lhe disse: -“Dona,
agora não é hora, o Chico só vai autografar livros depois das 14h”.
Ela respondeu-lhe: -“Mas não me interessa autógrafo, pois eu já
tenho o livro, eu queria era cumprimentar o Chico”. Nisso, entre toda aquela barulheira, apertos
e empurrões, Chico ouviu o que ela disse e voltando-se, sem a mirar,
tocando-lhe nos ombros, por entre outros ombros, lhe diz: -“Filha, você tem o livro? Então
leia a página 107...” (ele nem tinha visto o título livro e nem sabia
qual livro era...), e incontinenti os presentes os distanciaram pelo acúmulo de
gente e ela saiu da sala. No carro com o marido, abriu o livro naquela indicada
página e, ambos com os olhos marejados, leram o seguinte: À
FRENTE DA MORTE - Não olvides que, além da morte, continua
vivendo e lutando o Espírito amado que partiu.. Tuas lágrimas são gotas de fel
em sua taça de esperança. Tuas aflições
são espinhos a se lhe implantarem no coração.
Tua mágoa destrutiva é como neve de angústia a congelar-lhe os
sonhos. Tua tristeza inerte é sombra a
escurecer-lhe a nova senda. Por mais que
a separação te lacere a alma sensível, levanta-te e segue para frente, honrando-lhe
a confiança, como a fiel execução das tarefas que o mundo te reservou. Não vale a deserção do sofrimento, porque a
fuga é sempre a dilatação do labirinto em que nos arroja a invigilância,
compelindo-nos a despender longo tempo na recuperação do rumo certo. Recorda que a lei de renovação atinge a todos
e ajuda quem te antecedeu na grande viagem, como o valor de tua renúncia e com
a fortaleza de tua fé, sem esmorecer no trabalho – nosso invariável caminho
para o triunfo. Converte a dor em lição
e a saudade em consolo, porque, de outros domínios vibratórios, as afeições
inesquecíveis te acompanham os passos, regozijando-se com as tuas vitórias
solitárias, portas adentro de teu mundo interior. Todas as provas objetivam o aperfeiçoamento
do aprendiz e, por enquanto, não passamos de meros aprendizes na Terra,
amealhando conhecimento e virtude, em gradativa e laboriosa ascensão para a
vida eterna. Deus, a Suprema Sabedoria e
a Suprema Bondade, não criaria a inteligência e o amor, a beleza e a vida, para
arremessá-los às trevas. Repara em torno
dos próprios passos. A cada noite no
mundo segue-se o esplendor do alvorecer.
O Inverno áspero é sucedido pela Primavera estuante de renascimento e
floração. A lagarta, que hoje se arrasta
no solo, amanhã librará em pleno espaço com asas multicolores de
borboleta. Nada perece. Tudo se transforma na direção do Infinito
Bem. Compreendendo, assim, a Verdade,
entesourando-lhe as bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da
vida e estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz inextinguível
da gloriosa imortalidade. O livro era “ESCRÍNIO DE LUZ”, publicado pela Casa Espírita “O CLARIM”, contendo
mensagens assinadas pelo Espírito Emmanuel.
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