Tradição
que orientou por gerações a escolha dos nomes das crianças renascidas nas
famílias, a adoção de nomes de personalidades, especialmente ligadas à escola
religiosa a que se vinculam os pais, através das gerações do final do século
20, vai se modificando. Allan Kardec foi questionado sobre a possível vinculação entre
o homenageado e aquele que lhe recebeu o nome na REVISTA ESPÍRITA, edição de setembro de 1868. Analisando o tema,
escreveu: -“O que é que determina, em geral, a escolha dos nomes? Uma veneração
particular pelo santo que o tinha? admiração por suas virtudes? confiança em
seus méritos? o pensamento de o dar como modelo ao recém-nascido? Perguntai à
maioria dos que o escolhem se sabem quem foi, o que fez, quando viveu, por que se
distinguiu, se conheciam uma só de suas ações. Se se excetuarem alguns santos
cuja história é popular, quase todos são totalmente desconhecidos e, sem o
calendário, o público nem mesmo saberia se tinham existido. Assim, nada pode,
pois, atrair o seu pensamento antes para um do que para outro. Admitamos que,
para certas pessoas, o título de santo baste e que se pode tomar um nome de
confiança, desde que esteja na lista dos bem-aventurados, preparada pela
Igreja, sem que seja preciso saber mais: é uma questão de fé. Mas, então, para
essas mesmas pessoas, quais são os motivos determinantes? Há dois que
predominam quase sempre. O primeiro é, muitas vezes, o desejo de agradar a
algum parente ou amigo, cujo amor-próprio se quer adular, dando seu nome ao
recém-nascido, sobretudo se daquele espera alguma coisa, porque se fosse um
pobre diabo, sem crédito e sem consistência, não lhe fariam esta honra. Nisto
visam muito mais a proteção do homem que a do santo. O segundo motivo é ainda
mais mundano. O que se busca quase sempre num nome é a forma graciosa, uma
consonância agradável. Sobretudo num certo mundo, querem nomes bem
sofisticados, que tenham um cunho de distinção. Há outros que são repelidos
impiedosamente, porque não agradam ao ouvido, nem à vaidade, mesmo que fossem
de santos ou de santas mais dignos de veneração. E, depois, muitas vezes o nome
é uma questão de moda, como a forma de um penteado. É preciso convir que essas
santas personagens em geral devem ser pouco tocadas pelos motivos da
preferência que lhes concedem; na realidade, não têm nenhuma razão especial
para se interessarem, mais que por outros, por aqueles que têm o seu nome,
perante os quais são como esses parentes afastados, dos quais só se lembram
quando esperam uma herança. Os espíritas, que compreendem o princípio das
relações afetuosas entre o mundo corporal e o mundo espiritual, agiriam de
outro modo em tal circunstância. Ao nascer uma criança, os pais escolheriam,
entre os Espíritos, beatificados ou não, antigos ou modernos, amigos, parentes
ou estranhos à família, um daqueles que, com seu conhecimento, deram provas
irrecusáveis de sua superioridade, por sua vida exemplar, pelos atos meritórios
que praticavam, pela prática das virtudes recomendadas pelo Cristo: a caridade,
a humildade, a abnegação, o devotamento desinteressado à causa da Humanidade,
numa palavra, por tudo quanto sabem ser uma causa de adiantamento no mundo dos
Espíritos; invocá-lo-iam solenemente e com fervor, pedindo-lhe que se unisse ao
anjo-da guarda da criança para a proteger na vida que vai percorrer, guiá-la
com seus conselhos e suas boas inspirações; e em sinal de aliança daria a essa
criança o nome do Espírito. O Espírito veria nessa escolha uma prova de
simpatia e aceitaria com prazer uma missão que seria um testemunho de estima e
de confiança. Depois, à medida que a criança crescesse, ensinar-lhe iam a
história de seu protetor; contar-lhe-iam suas boas ações; ele saberia por que
tem esse nome e esse nome sempre lhe lembraria um belo modelo a seguir. É então
que na festa de aniversário o protetor invisível não deixaria de associar-se,
porque teria seu lugar no coração dos assistentes.
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