Como as estatísticas
demonstram, a violência resultante do consumo de drogas foi ganhando proporções
epidêmicas na sociedade no final do século 20. Muitas vidas físicas foram
interrompidas marcando dolorosamente a dos que remanesceram em nossa Dimensão.
A história contada a seguir ilustra isso, embora a mediunidade tenha mostrado
aos envolvidos um aspecto ignorado da fato, provocando reações até certo ponto
positivas. Para entender por que vamos voltar à noite de 5 de junho de 1984, em
São Paulo, capital. O dia terminava para a família Sorrentino, todos já
haviam se recolhido, o casal e dois de seus filhos, faltando apenas Renato,
um jovem que apesar dos seus 22 anos já trabalhava como analista de sistemas da
Bolsa de Valores de São Paulo e cursava o quarto ano da Faculdade de Economia e
Administração da USP. Um telefonema por volta da meia noite, porém, provoca um
alvoroço naquele lar, até aquele momento tranquilo e feliz. A voz era de um
policial que informava que Renato havia sido vítima de um
assalto seguido de roubo da moto, que utilizava para os deslocamentos de casa
para o trabalho e deste para a Faculdade. Como consequência de tiros recebidos,
não resistira e viera a falecer no próprio local da ocorrência. Perplexidade,
dor, revolta, inconformação, ódio, misturaram-se no coração e mente de seus
pais e irmãos nos cinco meses que se seguiram. A aceitação somente começaria a
ser experimentada no dia 9 de novembro, na cidade de Uberaba, Minas Gerais. Naquela
noite, em meio às cartas psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier,
encontrava-se a de Renato, esclarecendo e envolvendo seus entes queridos no
reconforto conforme depoimento de sua mãe, que “admitiu que passaram todos a
experimentar um novo alento e muita vontade de trabalhar pelos companheiros
necessitados”. Em sua mensagem, Renato conta: -“Lembro-me da última frase que o jovem desconhecido me endereçou com a
voz suplicante: – “Oi, companheiro, dê-me por favor uma carona. Sou seu colega
sem nica no bolso...” O pedido me alcançou o coração e parei a
moto. Estava de saída da USP e devia a meu ver prestar um gesto de
solidariedade ao amigo anônimo. Coloquei-lhe
a garupa ao dispor e seguimos juntos. Não houve tempo para muito diálogo.
Passados alguns minutos, o rapaz pediu parada e deixou o pedal que eu lhe havia
cedido. Mal nos defrontamos e ele
sacou um revólver e os projéteis me atingiram com violência. Compreendi que era o fim. Fixei o infeliz
que me prostrara sem comiseração e roguei a Deus em silêncio que me fizesse
entender aquele estranho assalto, em que os meus melhores sentimentos haviam
sido cruelmente explorados... O
desventurado amigo ou inimigo (ainda não sei bem) procurou ganhar distância,
mas foi reconhecido. A sangria
desatada não me permitia qualquer movimento. Recordo-me de que alguns desconhecidos se abeiraram de mim, no entanto,
meu cérebro como que se apagara. Nada
mais vi nem ouvi, porque um torpor, que nunca imaginei pudesse ser assim tão
forte, se me apoderou do corpo e da mente. Quanto tempo permaneci naquele desmaio sofrido de profunda
inconsciência, ainda não sei. Acordei num aposento confortável, assistido por uma
senhora em cuja presença adivinhava uma enfermeira prestimosa. Não pude articular a palavra logo após
retomar a própria consciência, abrindo os olhos. Notei que uma grande
dificuldade me tomara a garganta e, entre pensamentos enfileirando orações,
esperei o momento no qual me foi permitido falar. Então, perguntei à protetora diligente sobre o meu próprio destino, já
que a minha triste cena final me voltava à memória. Estaria em algum recanto de
tratamento na Terra mesmo ou me achava em algum lugar fora do plano físico?
O corpo estava quebrado, dolorido... A senhora me informou que a minha presença,
fosse onde fosse, lhe seria muito grata ao coração e me recomendou chamá-la por
vovó Josefina. Vovó Josefina era um
nome que, muitas vezes, ouvi como sendo alguém de nossa família que a morte
arrebatara, e ainda estávamos naquele início de conversação, que me espantava,
quando outra senhora veio até nós, abraçou-me afetuosamente e me solicitou
nomeá-la por vovó Benedita. Então,
não tive mais dúvida. Chorei ali mesmo, refletindo em meus queridos pais, em
meus irmãos e em nossa querida Sílvia, a quem prometera casamento. Vovó Josefina consolou-me e, qual se fizesse
de mim um menino de volta à infância, me fez rememorar preces do tempo de
criança que eu desde muito havia esquecido... Entendi, no entanto, que não estava numa universidade e sim num
santuário. O santuário do lar em cujo clima de amor formara o coração. Minhas avós me recomendaram pedir à Divina
Providência bastante força para perdoar ao jovem que me despojara da vida
física. E quando fiz isso, com todo o
meu coração, pois, repeti as petições por vários dias consecutivos até que
conseguisse repeti-las com sinceridade, pensei no infeliz companheiro qual se
fosse ele meu próprio irmão do lar e, desde essa hora, um calor diferente me
animou por dentro da própria alma”. A integra da mensagem poderá ser lida no livro VIAJARAM MAIS CEDO, publicado pela editora geem.
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