Reconhecido pelos estudiosos do Espiritismo como uma das mais importantes
personalidades do século 20 não apenas no conhecimento como na defesa da
importância da não adulteração dos conteúdos produzidos por Allan Kardec, o Professor José Herculano Pires – jornalista,
formado em Filosofia e, intransigente defensor da pureza doutrinária, possuía
opiniões surpreendentes. Tradutor das Obras Básicas assinadas por Allan Kardec,
revisor da primeira tradução da coleção da REVISTA ESPÍRITA, autor de dezenas
de livros falando sobre a Doutrina Espírita, enxergou aspectos que outros não
viam. Uma prova disso evidencia-se na visão da importância do egoísmo no
processo evolutivo da individualidade, enfim do Ser humano. No excelente livro CURSO
DINÂMICO DE ESPIRITISMO – o grande desconhecido (clarim, 1979),
desenvolve tal argumento num dos capítulos. Para se ter uma ideia, destacamos
parte de seu texto para análise a seguir:-“Tudo tem a sua utilidade na Natureza. O Universo é
teleológico, finalista, busca sempre e em tudo uma finalidade. Os filósofos
antifinalistas apoiam suas teorias no erro humano, de todos os tempos, que
interpreta a Natureza como criada especialmente para o homem. Esse erro surgiu
nas selvas, permaneceu nas civilizações primitivas e projetou-se nas
civilizações posteriores. Os próprios deuses e demônios de toda a Antiguidade
foram postos ao serviço do homem, que embora os reverenciando, pretendiam
utilizá-los como seus auxiliares. O Universo tem, naturalmente, uma finalidade
única e superior, em que todas as finalidades se conjugam num resultado único.
Mas esse resultado escapa às nossas possibilidades de pesquisa, de compreensão
e mesmo de imaginação. A mais inútil das coisas e os mais prejudiciais dos
seres são necessários. E ser necessário é ser indispensável, é pertencer a um
elo da cadeia inimaginável que Kardec nos apresenta nesta frase tantas vezes
repetida n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS: Tudo se encadeia no Universo. Os problemas
ecológicos da atualidade, surgidos com o desenvolvimento tecnológico, deram
ênfase à importância da Ecologia, ciência das relações entre sujeito e meio e
mesmo entre objeto e meio. O meio físico em' que vivemos, com seus elementos
naturais configurando determinada situação mesológica humana, é formado por uma
infinidade de substituições necessárias à vida vegetal e animal. A ignorância
do homem a respeito, tentando aniquilar elementos nocivos do meio, provoca o
desencadeamento de desequilíbrios perigosos e até mesmo fatais. Minerais,
vegetais e animais considerados perniciosos, quando retirados do meio, revelam
a sua função necessária e têm de ser repostos ou substituídos por outros que os
compensem. Esse delicado equilíbrio das coisas mínimas apresenta-se também nas
coisas máximas, como no jogo de forças que sustentam o equilíbrio planetário o
próprio equilíbrio das galáxias no espaço sideral. O mesmo acontece na nossa
estrutura corporal, com seus vários aspectos físicos, psíquicos e espirituais.
Por isso o Espiritismo é contrário a todas as práticas de mortificação,
extinção, asfixia ou desenvolvimento de funções, instintos, percepções e
poderes inferiores ou superiores na criatura humana. Esta deve ser respeitada
em sua integridade, com seus defeitos, deformações, deficiências e assim por
diante, cabendo-nos apenas o direito, que é também dever, de auxiliar as
criaturas no seu processo natural de aperfeiçoamento e reajustamento, nos rumos
naturais da transcendência. Nem mesmo a mediunidade deve ser desenvolvida por
supostas técnicas provindas de tradições místicas ou de invenção de pretensos
mestres espirituais. O Espiritismo se opõe a todas essas tentativas imaginosas,
que podem levar, como tem levado, muitas pessoas a desequilíbrios graves. O
egoísmo, a vaidade, o orgulho, a pretensão, a ambição representam elementos
negativos da constituição do Ser humano, que devem ser eliminados. Mas essa
eliminação não se dá pelos métodos antigos das corporações religiosas, até hoje
empregados, apesar dos terríveis malefícios causados. Kardec e os Espíritos Superiores,
em suas comunicações, consideraram o egoísmo como verdadeira praga que impediu
.o desenvolvimento real do Cristianismo na Terra. Mas jamais aconselharam
métodos artificiais para o combate ao egoísmo. As penitências, os cilícios, o
isolamento, as autoflagelações de toda espécie tornaram mais negra a Idade
Média e ainda hoje se escondem nas furnas da ignorância religiosa que só
serviram para desequilibrar milhões de criaturas que constituem o triste e
pesado legado da Antiguidade para nosso tempo.
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