Faltava pouco para as 20 horas do dia 17 de fevereiro de 1975, na cidade
de Apucarana, Paraná, quando o motorista de táxi João Reis de Andrade, um
senhor de 61 anos, aceitou uma corrida solicitada por três passageiros até Campo
Mourão, localidade 130 quilômetros distante. Embora não costumasse pegar
corridas à noite, muito menos quando a esposa não estava em casa (e ela havia
se deslocado com umas das filhas para São Paulo a fim de visitar uma cunhada
que perdera o filho recentemente), o Sr. João aceitou esta e, antes de
partir, passou em casa para avisar aos filhos, informando que não se
preocupassem, pois os passageiros eram conhecidos, quando, na verdade, nunca os
tinha visto. Ao se aproximar do destino, porém, apesar das súplicas do Sr. João,
um dos passageiros o matou violentamente a golpes de faca com a concordância de
outro, escondendo o corpo em sítio próximo a Campo Mourão, em uma plantação de
soja, com a qual o cobriram já sem vida. Tudo aconteceu antes das 24 horas
daquele dia 17 e o corpo só seria encontrado no dia 19 sendo sepultado no dia
20. Espírita desde 30 anos antes, o senhor João pouco tempo antes do seu
desenlace, dizia que já cumprira seu dever, começando a preparar a família,
falando que não completaria seus 62 anos, desencarnando realmente dois meses
antes. A esposa Benedita que lhe compartilhava os ideais em torno do
Espiritismo, e os dez filhos que foram educados sob a mesma influência, embora
abalados com a crueldade dos bandidos, não se entregaram à revolta e, sempre
que possível, iam à Uberaba, Minas Gerais, na expectativa de obter informações
através de Chico Xavier. Dezessete meses depois, em meio às cartas
recebidas por Chico na reunião de 9 de julho de 1976, chegavam, por fim, as
tão esperadas notícias do senhor João. Como atravessou o
traumatizante momento, o que ocorreu logo após, qual seu sentimento diante da
violência sofrida, como interpretou os fatos com base nos conhecimentos que o
Espiritismo lhe deu, são alguns dos pontos que destacamos da emocionante carta
que escreveu: -“Sempre disse, em casa, que Deus
me faria uma benção se tivesse de deixar o meu corpo em serviço, e aconteceu
como eu previa. Aqueles nossos estudos e comentários em
torno de prece e reencarnação, me auxiliaram nos momentos mais duros de
atravessar. Penso que não deveria tocar no assunto, mas tenho consentimento para
isso porque não desejo pensamentos de mágoa contra ninguém. Aqueles
dois companheiros no carro não seriam os executores das Leis de Deus? O
carro era meu instrumento de trabalho, a riqueza do pai de família, simples e
feliz, que sempre fui. Naturalmente, quando me senti despojado da
máquina que valia tanto e que me ajudava a sustentar a família, quis reagir,
reclamar... Hoje, não tenho memória para dizer os detalhes da ocorrência, mas lembro-me
de que um golpe me retirou qualquer faculdade de reação. Orei,
reclamando vocês todos, esposa querida e filhos meus! Sabia,
porém, que havia soado a hora, a hora que ninguém espera e sempre chega...
Tentei
pedir clemência e dizer que entregava tudo, mas me poupassem a vida, no
entanto, a voz não saía mais. Notei que mãos vigorosas me deitavam numa
plantação que me oferecia repouso. No íntimo, sabia que não me achava distante
de Campo Mourão, no entanto, a situação em que me achava, não me permitia senão
apelar para Deus e seus mensageiros, porque por dentro de mim, adivinhava que o
corpo era uma vestimenta que não mais me serviria para o trabalho. Adormeci
pensando na família, e procurando esquecer qualquer sentimento que me azedasse
as ideias. Recordei todas as lições que tivemos e vivíamos juntos, e aceitei
aqueles dois irmãos por amigos que não podiam conhecer que eu, com mais de
sessenta anos, tinha na retaguarda uma esposa, filhos e filhas, genros e noras,
e netos que adorava. Se soubessem quanto amor brilhava em meu
coração, creio que tudo estaria bem. Mas a dívida busca o devedor com
endereço exato. A Lei me considerava em débito, e graças a
Deus, resgatei compromissos grandes. Rogo a vocês considerarem tudo na
paz de Deus, com a Bênção de Deus. O ódio não conduz a caminhos que nos possam
trazer qualquer benefício, e para nós reservou-nos Jesus tanto amor que somente
o amor deve clarear nossa memória. A princípio, fui conduzido para um hospital,
em que o amigo espiritual Dr. Leocádio me prestou imensos serviços. Não
sei se vocês se recordam de que minha família, em minha infância, se referia ao
Padre Vítor, de Três Pontas, como sendo um benfeitor. Pois, ao lado de meu pai,
ele foi também para mim um amigo e um benfeitor, cuja dedicação destaco..
As
lembranças de casa, de começo, me faziam sofrer muito. Queria
ver você, querida esposa, e ver nossos filhos, mas a cabeça doía e para pensar
corretamente, precisava de muito esforço. Ouvia tudo o que se passava no
lar, porque meu sentimento não se desligava, até que suas orações, no dia
dezessete de abril, com as meninas, me tocaram o coração de tal modo, que a
memória se fez lúcida, sempre mais lúcida. Fui até a casa em companhia dos Benfeitores
que me protegem, e pude ver com que carinho me recordavam o aniversário, você,
minha velha, falava em meus sessenta e três anos como se eu estivesse ali sob o
nosso telhado para uma festa. Festa de saudade e de pranto, mas enfeitada
nas orações que a família me endereçava.Chorei muito, eu que rogo a vocês não
chorarem, mas é que a alegria do resgate havido me confortava, embora as
dificuldades da existência material, a dívida fora saldada e agradeci, como
agradeço agora, as provas por nossas bênçãos”. A integra desta e outras
mensagens poderá ser lida na obra VITÓRIA, publicada pelo Instituto de Difusão
Espírita. (Conheça o canal Luiz Armando - YouTube)
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