No
riquíssimo acervo construído pelo médium Chico Xavier com as cartas
psicografadas de forma mais intensa ao longo de mais de duas décadas, não
faltam casos de pessoas que morreram por afogamento e voltaram para confirmar
aos familiares que apenas o corpo teve interrompido o fluxo da vida. Eles
sobreviveram para contar o sucedido nos momentos que marcaram e se seguiram à
traumatizante experiência, bem como, revelaram indicadores dos fatores causais
que determinaram o inesperado retorno ao Plano Espiritual. Além de provarem serem eles mesmos através de dados pessoais desconhecidos pelo médium, deram-lhes não só a
certeza de que se reencontrariam e que se mantinham emocional e mentalmente ligados
ao ambiente do lar em que conviviam. Dentre
os relatos preservados em livros, destacamos: 1- Cleide Aparecida Rodrigues de
Almeida, 20 anos, afogada na noite de 19 de fevereiro de 1980 após o
carro em que saíra a passeio com amigo ter sido arrastado para o leito do Rio
Tamanduateí que transbordara em meio às torrenciais chuvas que caiam sobre a
capital paulista. 2- Jair Presente,
25 anos, desencarnado segundo Atestado de Óbito por afogamento na Lagoa Azul,
em Americana, SP, em 3 de fevereiro de 1974, após mergulho com amigos em
atividades de recreação; 3 – Os irmãos Fortunato, Jair (de 13 anos), Osmar
(de 15) e José (com 16), mortos em 4 de dezembro de 1961,
afogados na piscina em Fazenda de amigos
de seus pais, em meio a tentativas de se salvarem, após um deles ter caído acidentalmente.
Em sua mensagem, entre outros comentários Cleide diz: - “Aquela
terça-feira de carnaval, para nós, foi realmente uma noite de redenção pela
dor. Quando nos afastamos de casa para alguns minutos de entretenimento,
ignorávamos que nos púnhamos a caminho de um ponto alto de vossa vida
espiritual. A Terra física apresenta dessas surpresas. (...) Rogo não só à
mãezinha, a meu pai, a Cleusa e Cláudio para que não choremos senão de
reconhecimento a Deus pelo fato da vida não nos cercear a necessidade do
resgate de certas contas que jazem atrasadas no livro do tempo. É verdade que o
nosso veículo rodou no asfalto da rua para o curso do Tamanduateí, compelindo o
nosso amigo Nelson e a mim própria à desencarnação violenta, mas é possível
imaginar que os automóveis de hoje substituem as carruagens de ontem e sempre
existiram perigosos cursos d´água, sobre os quais muitos delitos foram
cometidos e ainda são perpetrados até hoje por espíritos que se fazem devedores
perante as leis Divinas. O companheiro e eu estávamos empenhados a certa dívida
do pretérito que, pela Misericórdia do Senhor, fomos chamados a ressarcir, em
nosso próprio benefício”.
Já José Fortunato, 21
anos após o terrível acidente em mensagem recebida em reunião publica de 19 de
fevereiro de 1982 explica: -“Quando caímos nas
águas da grande piscina, o Osmar, o Jair e eu estávamos sendo conduzidos pelos
Desígnios do Senhor a resgatar o passado que nos incomodava. Nada posso
detalhar quanto ao fim do corpo de que nos desvencilhamos, como quem se vê na
contingência de trocar a veste estragada e de reajuste impossível. O sono
compulsivo que nos empolgou os três foi algo inexplicável de que voltamos à
forma da consciência, dias após o estranho desenlace. Estávamos os três
alarmados e infelizes no hospital a que fomos transportados, quando duas
senhoras se destacaram dos serviços de enfermagem para nos endereçarem a
palavra... (...) Muitos dias e meses correram nessa situação de incompreensão e
de dor... Dois anos passados, fomos visitados por um amigo de nossa família que
se deu a conhecer por Miguel Pereira Landim, respeitado e admirado por nossos
familiares da Espiritualidade. Nossa avó Maria Justina nos permitiu
endereçar-lhe perguntas e todos os três indagamos dele a causa do sucedido em
nossa ida a Mogi. Ele sorriu e marcou o dia em que nos facultaria o
conhecimento do acontecido em suas causas primordiais. Voltando a nós, na
ocasião prevista, conduziu-nos, os três, à Matriz do Senhor Bom Jesus, em
Ibitinga. Entramos curiosos e inquietos. A igreja estava repleta de militares
desencarnados. Muitos traziam as medalhas conquistadas, outros ostentavam
bandeiras. Em meu coração passou a surgir a recordação que eu não estava
conseguindo esconder. De repente, vi-me na farda de que não me lembrava, junto
dos irmãos igualmente transformados em homens de guerra e o nosso olhar se
voltou inexplicavelmente para as cenas que se nos desenrolavam diante dos
olhos. Envergonho-me de confessar, mas a consciência não me permite recuos.
Vi-me com os dois irmãos numa batalha naval, que peço permissão para não
mencionar pelo nome, quando nós, na condição de brasileiros, lutávamos com os
irmãos de república vizinha... Afundávamos criaturas sem nenhuma ligação com as
ordens belicistas nas águas do grande rio, criaturas que, em vão, nos pediam misericórdia
e vida... Replicávamos que em guerra tudo resulta em guerra”. Quanto a Jair
Presente, na carta escrita 42 dias após a mudança conta: Tenho a mente nublada. Consigo entender muito pouco aquilo que se
passa em torno de mim. As lágrimas dos meus queridos me prendem. Que há, meu
Deus? Não pensem que desapareci para sempre. (...) Creio apenas que perder o
corpo mais pesado não é desvencilhar-se do peso de nossas emoções e
pensamentos, quando nossos pensamentos e emoções jazem nas sombras da angústia.
Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso, a quem me ligo pelo
coração, não tenho ainda memória para funcionar aqui; minha faculdade de
lembrar está com vocês, assim à maneira de um balão escravizado. Ajudem-me.
Preciso ver e ouvir aqui para retomar-me como sou. As vozes de casa chegam ao
meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me
as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante. E o meu pensamento
não sai de onde me prendem. Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. (...)
Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa. Mal sabia eu
que um passeio domingueiro era o fim da resistência física. O coração parou, ao
modo de um motor de que não se descobre imediatamente o defeito. Sou eu quem
deu tanto trabalho aos amigos. Notei quando me chamavam, quando me abraçavam,
massageavam e me faziam quase respirar sem conseguir. Agradeço por tudo. Depois
foi o sono, um sono profundo, do qual acordei para chorar com o pranto de meus
pais e de meus afetos mais queridos. (...) Deixei o corpo num domingo sem
extravagâncias quaisquer. Há quem pense em drogas, quando se deixa a vida
física assim qual me sucedeu. Mas não havia drogas, nem abuso da véspera.
Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados. Em qualquer
lugar, que me achasse, a queda de forças seria a mesma”.
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