Quem se serve da REVISTA ESPÍRITA publicada por Allan Kardec entre 1858 e 1869 quando de sua morte, percebe que ele a transformou num manancial
extraordinário de informações complementares às dúvidas suscitada pelos
estudiosos do Espiritismo procedentes de vários grupos espalhados por outra
localidades ou países. No número de julho de 1862, por exemplo, numa das
seções da publicação um questionamento proposto por praticantes da cidade de
Bordeaux, em reunião de fevereiro daquele ano sobre a UNIÃO SIMPÁTICA DAS ALMAS. Primeira
pergunta sobre se a reencarnação não acaba separando os que associados em
relações afetivas, o esclarecimento: -“Deus
permite aos que se amam sinceramente e souberam sofrer com resignação para
expiar suas faltas, reunir-se, a princípio no Mundo dos Espíritos, onde
progridem juntos, a fim de conseguirem encarnações nos mundos superiores.
Podem, pois, se o pedirem com fervor, deixar os Mundos Espírituais na mesma
época, reencarnar nos mesmos lugares e, por um encadeamento de circunstâncias
previstas, reunir-se pelos laços que mais convierem aos seus corações. Uns
terão pedido para serem pai ou mãe de um Espírito que lhes era simpático e se
sentirão felizes por o dirigirem no bom caminho, cercando-o dos ternos cuidados
da família e da amizade. Outros terão pedido a graça de se unirem pelo
matrimônio e verem escoar-se muitos anos de felicidade e de amor. Refiro-me ao
casamento entendido no sentido da união íntima de dois seres que não querem
separar-se mais. À pergunta
sobre se Nós nos reconhecemos nessas novas e felizes existências?, o
Espírito comunicante, entre outras coisas, diz –“Assim como em vossa Terra dois
amigos de infância gostam de encontrar-se no mundo, na sociedade, e se buscam
muito mais do que se suas relações apenas datassem de alguns dias, também os
Espíritos que mereceram o inapreciável favor de se unirem nos mundos superiores
são duplamente felizes e reconhecidos a Deus por esse novo encontro, que
corresponde às suas mais caras aspirações. Os mundos colocados acima da Terra
na escala da perfeição são cumulados de todos os favores que possam contribuir
para a perfeita felicidade dos seres que os habitam; o passado não lhes é
oculto, porque a lembrança de seus antigos sofrimentos, de seus erros,
resgatados à custa de muitos males, e a lembrança, ainda mais viva, de suas
afeições sinceras, lhes faz achar mil vezes mais doce essa nova vida e os
protegem contra faltas a que, talvez, pudessem ser arrastados por uns
resquícios de fraqueza. Para os homens esses mundos são o paraíso terrestre,
destinado a conduzi-los ao paraíso divino. Sobre essas opiniões, Allan
Kardec observa: –“Enganar-nos-íamos redondamente quanto ao
sentido desta comunicação se nela víssemos uma crítica às leis que regem o
casamento e a sanção das uniões efêmeras extraoficiais. No que respeita às
leis, as únicas imutáveis são as Leis Divinas, ao passo que as leis humanas,
devendo ser apropriadas aos costumes, aos usos, aos climas e ao grau de
civilização, são essencialmente mutáveis; seria deplorável que assim não fosse,
e que os povos do século dezenove estivessem presos às mesmas regras que regiam
os nossos pais. Assim, se as leis mudaram deles até nós, como não chegamos à
perfeição, deverão mudar de nós aos nossos descendentes. No momento em que é
feita, toda lei tem a sua razão de ser e a sua utilidade; mas pode acontecer
que, sendo boa hoje, não mais o seja amanhã. No estado dos nossos costumes, de
nossas exigências sociais, o casamento necessita ser regulado pela lei, e a
prova de que esta lei não é absoluta é que não é a mesma para todos os países
civilizados. É, pois, permitido pensar que nos mundos superiores, onde não há
os mesmos interesses materiais a salvaguardar, onde não existe o mal, isto é,
onde os Espíritos maus são excluídos da encarnação, onde, conseguintemente, as
uniões resultam da simpatia e não do cálculo, as condições devam ser
diferentes. Mas aquilo que é bom para eles poderia ser muito mau para nós. Além
disso, é preciso levar em conta que os Espíritos se desmaterializam à medida
que se elevam e se depuram. Só nas fileiras inferiores a encarnação é material.
Para os Espíritos superiores não há mais encarnação material e, consequentemente,
não há procriação, pois esta se dá pelo corpo e não pelo Espírito. Uma afeição
pura é, pois, o único objetivo da união e, por isto, ao contrário do que ocorre
na Terra, não necessita da sanção oficial.
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