Na visão dominante na nossa Dimensão, tudo cessou no instante fatal. A
mediunidade identificada e explicada pelo Espiritismo, contudo, confirma que
não. E a vivenciada pelo médium Chico Xavier produziu um acervo de
documentos ainda pouco conhecidos e estudados pelos que buscam respostas para a
inesperada, mas inevitável, experiência da morte. A historia a seguir demonstra
isso. Para conhecê-la, vamos recuar à 1983, no bairro da Mooca, capital
paulista. Naquele ano, o jovem Dialma Coltro Filho, frequentava o
segundo ano de direito de uma das faculdades de São Paulo, curso após cuja
conclusão, tencionava seguir a carreira de Delegado de Polícia. Dialma,
apesar dos seus vinte anos, tinha como hobby colecionar armas de fogo, tendo
muita consciência sobre o perigo que representavam. Com a venda de um
automóvel, aceitou como parte de pagamento um exemplar de uma Mauser 365. Para
processar pequena limpeza na peça, com os cuidados de sempre, desativou a arma,
retirando o pente de balas, a fim de guardá-la com as outras colecionadas.
Embora a cautela, porém, não percebeu que uma das balas ficara na agulha
provocando o disparo acidental que lhe atingiu em cheio a cabeça interrompendo
sua ainda curta existência física. Apesar das várias suposições a respeito, Dialma
contaria na carta escrita através do médium Chico Xavier, a forma
como se deu sua desencarnação. A mensagem foi recebida exatamente no dia em que
ele completaria 21 anos, caso estivesse encarnado, ou seja, em 18 de agosto de
1983, portanto, quatro meses e quatro dias após sua morte física. Um detalhe
curioso da página é que ao final dela, Dialma precisou repetir, por quatro
vezes sua assinatura, visto que as pontas dos lápis usados se quebravam.
Estranhando o fato, o Sr. Weaker Batista que na ocasião virava
as páginas que Chico ia psicografando, ouviu posteriormente
do médium a seguinte explicação: “- O nosso rapaz é canhoto, essa a
dificuldade”... Confrontadas as assinaturas da mensagem e de documentos
do rapaz, observou-se a grande semelhança entre ambas e, indagada sobre a
justificativa dada por Chico sobre a assinatura ter-se
repetido quatro vezes, a mãe do rapaz confirmou: ele realmente era canhoto.Vejamos
alguns trechos da extensa mensagem: -“Tudo passou com a vertigem das horas e
aqui me vejo, sob a proteção do tio Nider Fortunato, a lhes pedir a bênção. Ao
contrário do que se afirma, ou do que muita gente possa pensar, estou
recuperando as minhas forças, surpreendido com todas as revelações que me
cercam. Tenho a considerar a minha inquietação com as lágrimas incessantes da
Mãezinha, que me alcançam à maneira de gotas candentes de angústia em brasa.
Mãe, por que há de ser assim? Tudo aconteceu comigo à maneira de tantos jovens
outros que superaram obstáculos iguais aos nossos. Creiam com as meninas, irmãs
abençoadas de sempre, que o projétil que me alcançou não estava em meus pensamentos
de expectativa e, sim, nas Leis de Deus que se cumprem através de nós e por
nós. Limpava a arma, com despreocupações, supondo que não houvesse qualquer
remanescente nos mecanismos em minhas mãos. Em dado instante, alonguei o braço
para ver se a arma estava legalmente limpa, quando, sem querer, detonei a bala
única que restava ali, sem que eu soubesse. O tiro escapou sem que de minha
parte conseguisse sanar as consequências. Caí, apesar do meu propósito de
permanecer atento aos curativos que, decerto, me seriam administrados. Ouvi
vozes e gritos abafados, tentando responder, mas, a minha boca jazia selada por
uma força que não compreendi. Procurei sustentar o cérebro aceso, a fim de
prestar as informações necessárias, no entanto, aquilo foi um achatamento de
minha personalidade. Achava-me acordado, observando o que se passou, contudo, a
minha força se esgotava rapidamente. A lesão repentina que sofrera no crânio,
como que me tomava todas as energias. Era como se meu corpo naquela hora
estivesse concentrado na cabeça, sem que me fosse possível externar qualquer
impressão. Lembrei-me das orações que a Mamãe Júlia e a vovó Hermínia me
ensinavam quando criança e busquei harmonizar-me com a prece. No meu íntimo,
vagueava aquele medo de ser considerado suicida ou alvejado por outra pessoa,
mas, era tarde para que me entregasse a qualquer explicação. Entrei num sono
invencível e perdi-me nas considerações inacabadas que tentava formular... O
resto não sei. Não sofri dor alguma porque, onde o impacto do sofrimento é
pesado demais, a dor desaparece... Meus últimos pensamentos no corpo foram para
a Mãezinha Júlia, cujas lágrimas tive a ideia de que me orvalhavam o rosto. Depois,
foi a inconsciência, com uma espécie de ocultação de meu próprio Ser. Quanto
tempo estive assim, nem exatamente vivo, nem suficientemente morto, ainda
ignoro. Sei que despertei num aposento simples e arejado, com a cabeça
dolorida. Julguei-me num local de tratamento para acidentados... Respirei o ar
puro, com quem sorve um copo de água refrigerada depois da sede ardente e, ao
ver a senhora que me assistia, supus com naturalidade fosse uma enfermeira tão
humana quanto eu mesmo. As nossas situações estavam, porém, trocadas, sem que
eu me apercebesse disso, em sentido imediato. Quando a senhora protetora se
inclinou para mim, indagando se não a reconhecia, respondeu ao meu pedido de
informações:- Não se lembra da vovó Júlia, vó da mamãe e sua também?”. A integra da carta de Dialma poderá ser
lida no livro NOVOS HORIZONTES, publicado pela editora IDEAL.
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