Em que
se tornam as almas dos mortos enquanto esperam uma nova reencarnação? As explicações foram
coletadas no número de janeiro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA. Diz o texto: As
que não deixam a Terra ficando errantes em sua superfície vão sem dúvida aonde
lhes apraz, ou, pelo menos, aonde podem, conforme o seu grau de adiantamento,
mas, em geral, pouco se afastam dos vivos, principalmente daqueles a quem
são afeiçoadas, quando têm afeição por alguém, a menos que lhes sejam impostos
deveres a cumprir alhures. Estamos, pois, em todos os momentos, cercados
por uma multidão de Espíritos conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos,
que nos veem, nos observam e nos ouvem; alguns participam de nossas penas, bem
como de nossas alegrias; outros sofrem com os nossos prazeres ou gozam com as
nossas dores, enquanto outros, finalmente, mostram-se indiferentes a tudo,
exatamente como acontece na Terra, entre os mortais, cujas afeições,
antipatias, vícios e virtudes são conservados no outro mundo. A diferença é que
os bons desfrutam na outra vida de uma felicidade desconhecida na Terra, o que
se compreende muito bem; não têm necessidades materiais a satisfazer, nem
obstáculos do mesmo gênero a ultrapassar. Se viveram bem, isto é, se nada têm
ou pouco têm a se censurar em sua última existência corporal, gozam em paz o
testemunho de sua consciência e do bem que fizeram. Se viveram mal, se foram
maus, como lá estão a descoberto não podem mais dissimular sob o envoltório
material, sofrendo a presença daqueles a quem ofenderam, desprezaram e
oprimiram, bem como a impossibilidade, em que se encontram, de subtrair-se aos
olhares de todos. Sofrem, finalmente, pelo remorso que os corrói, até que o
arrependimento os venha aliviar, o que acontece mais cedo ou mais tarde, ou que
uma nova encarnação os afaste, não às vistas de outros Espíritos, mas às
próprias vistas, tirando-lhes momentaneamente a consciência de sua identidade.
Desse modo, perdendo a lembrança do passado, sentem-se aliviados. Mas também é,
para eles, o momento em que começa uma nova prova. Se dela tiverem a sorte de
sair melhorados, gozarão o progresso realizado; se não se melhorarem,
reencontrarão os mesmos tormentos, até que, finalmente, se arrependam ou
aproveitem uma nova existência. Há um outro gênero de sofrimento: o
experimentado pelos piores e mais perversos Espíritos. Inacessíveis à vergonha
e ao remorso, estes não sentem os seus tormentos, embora seus sofrimentos sejam
ainda mais vivos, porquanto, sempre inclinados ao mal, mas impotentes para o
fazer, sofrem de inveja ao ver os outros mais felizes ou melhores que eles
próprios, ao mesmo tempo sofrendo a raiva de não poderem saciar o seu ódio e
entregar-se a todas as suas más inclinações. Oh! estes sofrem muito, mas, como
te disse, sofrerão apenas enquanto não se melhorarem, ou, em outros termos, até
o dia em que melhorarem. Muitas vezes não preveem esse termo; são tão maus, tão
enceguecidos pelo mal, que não suspeitam a existência, ou a possibilidade da
existência de um melhor estado de coisas, não imaginando, consequentemente, que
seu sofrimento deve acabar um dia. É isso que os torna insensíveis ao mal e
lhes agrava os tormentos. Como, porém, nem sempre podem fugir à sorte comum que
Deus reserva, sem exceção, a todas as criaturas, chega finalmente um momento em
que lhes é preciso seguir a rota ordinária; algumas vezes esse dia está mais
próximo do que se poderia supor ao observar a sua perversidade. Foram vistos
alguns que se converteram subitamente, e de repente seus sofrimentos cessaram;
entretanto, ainda lhes restam rudes provas a suportar na Terra, em sua próxima
encarnação. É preciso que se depurem, expiando as próprias faltas, e isto,
definitivamente, é mais que justo; pelo menos não temem mais a perda do
progresso realizado, pois não podem retroceder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário