TRANSIÇÃO
Embora
poucos saibam, o capítulo 18 do livro A
GÊNESE de Allan Kardec, resulta de um rearranjo efetuado pelo Codificador
da Doutrina Espírita de extensa mensagem recebida em abril de 1866 através de
dois médiuns em transe sonambúlico. A íntegra da mesma na forma como recebida,
foi reproduzida na REVISTA ESPÍRITA
de outubro
daquele ano. Para se ter uma ideia do seu conteúdo, destacamos pequeno
trecho: -“Para que os homens sejam
felizes sobre a Terra, é preciso que ela não seja povoada senão de bons
Espíritos, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem. Este tempo
tendo chegado, uma grande emigração se cumprirá nesse momento entre aqueles que
a habitam; aqueles que fazem o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não toca,
não sendo mais dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque lhe
trariam de novo a perturbação e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso.
Eles irão expiar seu endurecimento nos mundos inferiores, onde levarão seus
conhecimentos adquiridos, e terão por missão fazer avançar. Serão substituídos
sobre a Terra por Espíritos melhores, que farão reinar entre si a justiça, a
paz, a fraternidade. A Terra, dissemos, não deve ser transformada por um
cataclismo que aniquilaria subitamente uma geração. A geração atual
desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo sem que nada
tenha mudado a ordem natural das coisas. Tudo passará, pois, exteriormente como
de hábito, com esta única diferença, mas esta diferença é capital, é que uma parte
dos Espíritos que aí se encarnam não se encarnarão nela mais. Numa criança que
nasça, em lugar de um Espírito atrasado e levado ao mal que nela teria
encarnado, será um Espírito mais avançado e levado ao bem. Trata-se, pois, bem
menos de uma nova geração corpórea do que de uma nova geração de Espíritos.
Assim, aqueles que esperam ver a transformação se operar por efeitos
sobrenaturais serão frustrados. A época atual é a da transição; os elementos
das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermediário, assistis à
partida de uma e à chegada da outra, cada uma já se mostra no mundo pelos
caracteres que lhe são próprios. As duas gerações que sucedem uma à outra têm
ideias e objetivos inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais,
mas, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir à qual
pertence cada indivíduo. A nova geração, devendo fundar a era do progresso
moral, se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces,
juntadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é o
sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Ela não será
composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles
que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias
progressistas, e, aptos a secundar o movimento regenerador. O que distingue, ao
contrário, os Espíritos atrasados é primeiro a revolta contra Deus pela negação
da Providência e de toda força superior à Humanidade; depois, a propensão
instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos anti-fraternos do egoísmo,
do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância do apego a
tudo o que é material. São esses vícios, dos quais a Terra deve ser purgada
pelo afastamento daqueles que recusam se emendar, porque são incompatíveis com
o reino da fraternidade e que os homens de bem sofrerão sempre com o seu
contato. A Terra deles estará livre, e os homens caminharão sem entraves para o
futuro melhor que lhes está reservado neste mundo, por prêmio de seus esforços
e de sua perseverança, à espera de que uma depuração ainda mais completa lhes
abra a entrada dos mundos superiores. Por essa emigração de Espíritos não é
preciso entender que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e
relegados aos mundos inferiores. Muitos, ao contrário, a ela retornarão, porque
muitos cederam ao arrastamento de circunstâncias e do exemplo. Uma vez
subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do mundo corpóreo, a
maioria verá as coisas de maneira toda diferente de quando viviam, assim como
tendes disto numerosos exemplos. Nisto, eles são ajudados pelos Espíritos
benevolentes que se interessam por eles e que diligenciam de esclarecê-los e
lhes mostrar o falso caminho que seguiram”. Allan Kardec pondera: 1 -
A maneira pela qual se opera a
transformação é muito simples, e, como se vê, ela é toda moral e não se afasta
em nada das leis da Natureza. Por que, pois, os incrédulos repelem essas
ideias, uma vez que nada têm de sobrenatural? É que, na sua opinião, a lei de
vitalidade cessa com a morte do corpo, ao passo que, para nós, ele prossegue
sem interrupção; eles restringem sua ação e nós a estendemos; é porque dizemos
que os fenômenos da vida espiritual não saem das leis da Natureza. Para eles, o
sobrenatural começa onde acaba a apreciação pelos sentidos. 2-
Quer os Espíritos da nova geração sejam
novos Espíritos melhores, ou os antigos Espíritos melhorados, o resultado é o
mesmo; desde o instante em que trazem melhores disposições, é sempre uma
renovação. Os Espíritos encarnados formam, assim, duas categorias, segundo as
suas disposições naturais: de uma parte, os Espíritos retardatários que partem,
de outra os Espíritos progressivos que chegam. O estado dos costumes e da
sociedade será, pois, em um povo, em uma raça ou no mundo inteiro, em razão
destas duas categorias que tiver a preponderância.
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