Morreu, acabou? Milhares de
depoimentos de Espíritos desencarnados através de igual número de médiuns ao
redor do mundo demonstram que não. Como somos projetos personalizados de Deus,
sem cópias, cada um relata suas percepções e sensações conforme o próprio grau
evolutivo Muitos falam de situações surpreendentes, inesperadas e difíceis. Afinal,
sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Allan
Kardec no número de dezembro de
1858, da REVISTA ESPÍRITA,
escreveu interessante artigo sobre a questão do qual destacamos breve trecho.
Diz ele: -“Tais questões nos são naturalmente dirigidas e vamos tentar
resolve-las. Inicialmente devemos dizer que, para isso, não nos contentamos com
as respostas dos Espíritos. De certa maneira, através de numerosas observações,
tivemos que considerar a sensação com o fato. Em uma de nossas reuniões, pouco
depois que São Luís nos transmitiu bela dissertação sobre a avareza, um de
nossos associados narrou o seguinte fato, a propósito dessa mesma dissertação. -Estávamos ocupados de evocações numa pequena reunião de amigos quando
se apresentou, inopinadamente e sem que o tivéssemos chamado, o Espírito de um
homem que havíamos conhecido muito bem e que, quando vivo, poderia ter servido
de modelo ao retrato do avarento, feito por São Luís: um desses homens que
vivem miseravelmente no meio da fortuna e que se privava, não pelos outros, mas
para acumular sem proveito para ninguém. Era inverno, estávamos perto do fogo;
de repente aquele Espírito lembrou-nos seu nome, no qual absolutamente não
pensávamos, pedindo-nos permissão para vir, durante três dias, aquecer-se à
nossa lareira, pois que sofria horrivelmente do frio que voluntariamente
suportara durante a vida e que, por sua avareza, também fizera os outros
suportar. Era um alívio que experimentaria, acrescentou, caso concordássemos
com o pedido. Aquele
Espírito, pois, experimentava penosa sensação de frio; mas, como a
experimentava? Eis aí a dificuldade. A esse respeito dirigimos a São Luís as
seguintes pergunta: Como esse Espírito
de avarento, que não tinha mais o corpo material, podia sentir frio e pedir
para se aquecer? – Podes representar os sofrimentos do
Espírito pelos sofrimentos morais. – Concebemos os
sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha; mas o calor e o frio, a
dor física, não são efeitos morais; experimentariam os Espíritos tais
sensações?. – Tua alma
sente frio? Não; mas tem consciência da sensação que age sobre o corpo. – Disso parece
resultar que esse Espírito de avarento não sentia um frio real, mas a lembrança
da sensação do frio que havia suportado e essa lembrança, tida por ele como
realidade, tornava-se um suplício.– É mais ou menos isso. Fique bem
entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor
física e a dor moral; não se deve confundir o efeito com a causa. Se bem entendemos, poderíamos, ao que nos parece, explicar as
coisas do seguinte modo: O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa
primeira desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor:
essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser
muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor
são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é susceptível de
congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a
apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fosse? Não
as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles cujos membros foram
amputados costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a
sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro
guardou esta impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga
ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Essas reflexões são justas?
– Sim; mais tarde, porém, compreendereis
melhor ainda. Esperai que novos fatos venham vos fornecer motivos de
observação; deles tirareis consequências mais completas.
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