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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

MORRER E DESENCARNAR

No excelente livro OS MENSAGEIROS (feb), o autor espiritual André Luiz  repassa-nos interessante observação segundo a qual “após a morte, é preciso desencarnar também os pensamentos. As criaturas que se agarram no Plano Espiritual às impressões físicas, criam densidade para seus veículos de manifestação”. Dentre as mensagens incluídas na obra INSTRUÇÕES PSÍCOFONICAS (feb), chama a atenção a de um Espírito que em sua derradeira reencarnação à época havia sido importante banqueiro. Pelo que se depreende, a ‘ideia central’ que o animou em vida, constituiu-se num instrumento de auto-flagelação após o fim das atividades no corpo físico. Para reflexões destacamos parte de seu depoimento:- Quantas vezes afirmei que o dinheiro era a solução da felicidade!.. Quanto tempo despendi, acreditando que a dominação financeira fosse o triunfo real na Terra!... No entanto, a morte me assaltou em plena vida, assim como o tiro do caçador surpreende o pássaro desprevenido no mato inculto... Como foi o meu desligamento do corpo físico e quantos dias dormi na sombra, por agora, nada sei dizer. Sei hoje apenas que acordei no espaço estreito do sepulcro, com o pavor de um homem que se visse repentinamente enjaulado. Sufocava-me a treva espessa. Horrível dispnéia agitava-me todo. Queria o ar puro... Respirar... respirar... E gritei por socorro. Meus brados, contudo, se perdiam sem eco. Ao cabo de alguns instantes, notei que duas mãos vigorosas me soergueram e vi-me, depois de estranha sensação, na paz do campo, sorvendo o ar fresco da noite. Que lugar era aquele? Uma casa sem teto? De repente, a cambalear, reconheci-me rodeado de grandes caixas fortes... Ao frouxo clarão da Lua, reparei que essas caixas fortes surgiam milagrosamente douradas... Tateei-as com dificuldade, percebi palavras em alto-relevo e verifiquei que eram túmulos... Espavorido, transpus apressado as grades daquela inesperada prisão. Vi-me, semilouco, na via pública. Devia ser noite alta. Na rua, quase ninguém... Um bonde retardado apareceu. Achava-me doente, inquieto e exausto, mas ainda encontrei forças para clamar: — Condutor!... condutor!... O homem, porém, não me ouviu. Caminhei mais depressa. Tomei o veículo em movimento e consegui a situação do pingente anônimo; todavia, com espanto, observei que o bonde era todo talhado em ouro... As pessoas que o lotavam vestiam-se de ouro puro. O motorneiro envergava uniforme metálico. Intrigado, sentia medo de mim mesmo. E, para distrair-me, tentei estabelecer uma conversação com vizinhos. Os circunstantes, porém, pareciam surdos. Ninguém me ouvia. Vencendo embaraços indefiníveis, alcancei minha residência. As portas, no entanto, jaziam cerradas. Esmurrei, chamei, supliquei... Mas tudo era silêncio e quietação. E quando fitei o frontispício do prédio, o ouro me cercava por todos os lados. Acomodei-me no chão de ouro e tentei conciliar, debalde, o sono, até que, manhãzinha, a porta semi-aberta permitiu-me a entrada franca. Tudo, porém, alterara-se em minha ausência. Ninguém me reconheceu. Fatigado, avancei para meu leito... Mas o velho móvel apresentava-se-me agora em ouro maciço. Senti sede e procurei a água simples, entretanto, o liquido que jorrava era ouro, ouro puro... Faminto, busquei nosso antigo depósito de pão. O pão, todavia, transformara-se. Era precioso bloco de ouro, de cuja existência, até então, não tinha qualquer conhecimento em nossa casa. Meditei... meditei... Todos os meus afeiçoados como que conspiravam contra mim... Não passava de intruso em minha própria moradia. Dia terrível aquele em que reassumia ou tentava reassumir o meu contato com os seres amados que, naturalmente, me deviam assistência e carinho!. Depois de vastas reflexões julguei-me dementado. Assinalei, dentro de mim, a necessidade do amparo religioso. Iniciei dolorido exame de consciência. Seria eu católico? Em verdade, se eu me houvesse consagrado à religião, não teria outra escola de fé. Colaborara no erguimento de instituições pias. Conhecia pessoalmente o Senhor Arcebispo. Convivera com sacerdotes. Frequentava, de quando em quando, as igrejas, por imperativos da vida social. Conhecia as obrigações do culto exterior. Ai de mim!... por que não obtinha o repouso necessário? Passou o dia e veio a noite. Alta madrugada, tornei à via pública e nela perambulei, vacilante, procurando, através dos templos, alguma porta que se me descerrasse, acolhedora. As igrejas, no entanto, estavam repletas. Movimento enorme. Mais tarde, vim a saber que outros desencarnados como eu imploravam socorro... Vagueei... vagueei... até que atingi um santuário de bairro humilde. Amanhecia... Vários grupos de crentes chegavam para a missa. Gente simples, gente pobre. Entrei. Conturbado e aflito, senti necessidade da confissão. Afinal, eu era um católico que relaxara a própria fé. Sem que ninguém me escutasse os apelos, pedi a presença de um padre. Avancei para o confessionário e pus-me de joelhos, mas, em poucos momentos, o confessionário convertia-se para mim num guichê de banco. Sobressaltado, ergui meus olhos para o altar. O altar, porém, transformara-se em cofre forte. Intentei consolar-me com a visão do missal, mas o livro do culto, de repente, surgiu metamorfoseado num velho livro de minha propriedade, em que eu lançava, às ocultas, as minhas notas de rendimento real. Diligenciei isolar-me. Temia a loucura completa. Ainda assim, levantei meu olhar para a imagem da Virgem Maria. Naturalmente, ela teria pena de mim, contudo, ante a minha atenção, a imagem reduziu-se a uma jóia de alto preço... Fez-se toda de ouro, de ouro puro... Voltei-me para dentro de mim. (...) Apavorado, tornei à rua. Sentia agora mais sede, muita sede... Voltei-me para o corpo da igreja, como um filho expulso do próprio lar; contudo, não mais a vi. Apenas, estranha voz no alto gritou aos meus ouvidos, ensurdecedoramente: — Amigo, os filhos de Deus encontram nas casas de Deus aquilo que procuram... Procuravas o ouro... Ouro encontraste... Qual mendigo desamparado, fugi sem destino. Queria agora apenas água, água pura que me dessedentasse. Conhecia a cidade. Demandei uma caixa dágua que me era familiar no alto do bairro de Santo Antônio.  A água, ali, corria em jorros. Podia debruçar-me... Podia beber como se eu fora um animal e, prostrado, não mais de joelhos, mas de rastros, imploraria a graça de Deus. Achei a água corrente, a água límpida visitada pela luz do sol e estirei-me no chão... Mas, no momento preciso em que meus lábios sequiosos tocaram o líquido puro, apenas o ouro, o ouro apareceu... Reconheci haver descido à condição de um alienado mental”....

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