No excelente livro OS
MENSAGEIROS (feb), o autor espiritual André Luiz repassa-nos interessante observação segundo a
qual “após a morte, é preciso desencarnar também os pensamentos. As
criaturas que se agarram no Plano Espiritual às impressões físicas, criam
densidade para seus veículos de manifestação”. Dentre as mensagens incluídas na obra INSTRUÇÕES PSÍCOFONICAS (feb),
chama a atenção a de um Espírito que em sua derradeira reencarnação à época
havia sido importante banqueiro. Pelo que se depreende, a ‘ideia central’ que o
animou em vida, constituiu-se num instrumento de auto-flagelação após o fim das
atividades no corpo físico. Para reflexões destacamos parte de seu depoimento:-
“Quantas vezes afirmei que o
dinheiro era a solução da felicidade!.. Quanto tempo despendi, acreditando que
a dominação financeira fosse o triunfo real na Terra!... No entanto, a morte me
assaltou em plena vida, assim como o tiro do caçador surpreende o pássaro
desprevenido no mato inculto... Como foi o meu desligamento do corpo físico e
quantos dias dormi na sombra, por agora, nada sei dizer. Sei hoje apenas que
acordei no espaço estreito do sepulcro, com o pavor de um homem que se visse
repentinamente enjaulado. Sufocava-me a treva espessa. Horrível dispnéia
agitava-me todo. Queria o ar puro... Respirar... respirar... E gritei por
socorro. Meus brados, contudo, se perdiam sem eco. Ao cabo de alguns instantes,
notei que duas mãos vigorosas me soergueram e vi-me, depois de estranha
sensação, na paz do campo, sorvendo o ar fresco da noite. Que lugar era aquele?
Uma casa sem teto? De repente, a cambalear, reconheci-me rodeado de grandes
caixas fortes... Ao frouxo clarão da Lua, reparei que essas caixas fortes
surgiam milagrosamente douradas... Tateei-as com dificuldade, percebi palavras
em alto-relevo e verifiquei que eram túmulos... Espavorido, transpus apressado
as grades daquela inesperada prisão. Vi-me, semilouco, na via pública. Devia
ser noite alta. Na rua, quase ninguém... Um bonde retardado apareceu. Achava-me
doente, inquieto e exausto, mas ainda encontrei forças para clamar: —
Condutor!... condutor!... O homem, porém, não me ouviu. Caminhei mais depressa.
Tomei o veículo em movimento e consegui a situação do pingente anônimo;
todavia, com espanto, observei que o bonde era todo talhado em ouro... As
pessoas que o lotavam vestiam-se de ouro puro. O motorneiro envergava uniforme
metálico. Intrigado, sentia medo de mim mesmo. E, para distrair-me, tentei
estabelecer uma conversação com vizinhos. Os circunstantes, porém, pareciam
surdos. Ninguém me ouvia. Vencendo embaraços indefiníveis, alcancei minha
residência. As portas, no entanto, jaziam cerradas. Esmurrei, chamei,
supliquei... Mas tudo era silêncio e quietação. E quando fitei o frontispício
do prédio, o ouro me cercava por todos os lados. Acomodei-me no chão de ouro e
tentei conciliar, debalde, o sono, até que, manhãzinha, a porta semi-aberta
permitiu-me a entrada franca. Tudo, porém, alterara-se em minha ausência. Ninguém
me reconheceu. Fatigado, avancei para meu leito... Mas o velho móvel
apresentava-se-me agora em ouro maciço. Senti sede e procurei a água simples,
entretanto, o liquido que jorrava era ouro, ouro puro... Faminto, busquei nosso
antigo depósito de pão. O pão, todavia, transformara-se. Era precioso bloco de
ouro, de cuja existência, até então, não tinha qualquer conhecimento em nossa
casa. Meditei... meditei... Todos os meus afeiçoados como que conspiravam
contra mim... Não passava de intruso em minha própria moradia. Dia terrível
aquele em que reassumia ou tentava reassumir o meu contato com os seres amados
que, naturalmente, me deviam assistência e carinho!. Depois de vastas reflexões
julguei-me dementado. Assinalei, dentro de mim, a necessidade do amparo
religioso. Iniciei dolorido exame de consciência. Seria eu católico? Em
verdade, se eu me houvesse consagrado à religião, não teria outra escola de fé.
Colaborara no erguimento de instituições pias. Conhecia pessoalmente o Senhor
Arcebispo. Convivera com sacerdotes. Frequentava, de quando em quando, as
igrejas, por imperativos da vida social. Conhecia as obrigações do culto
exterior. Ai de mim!... por que não obtinha o repouso necessário? Passou o dia
e veio a noite. Alta madrugada, tornei à via pública e nela perambulei,
vacilante, procurando, através dos templos, alguma porta que se me descerrasse,
acolhedora. As igrejas, no entanto, estavam repletas. Movimento enorme. Mais
tarde, vim a saber que outros desencarnados como eu imploravam socorro... Vagueei...
vagueei... até que atingi um santuário de bairro humilde. Amanhecia... Vários
grupos de crentes chegavam para a missa. Gente simples, gente pobre. Entrei. Conturbado
e aflito, senti necessidade da confissão. Afinal, eu era um católico que
relaxara a própria fé. Sem que ninguém me escutasse os apelos, pedi a presença
de um padre. Avancei para o confessionário e pus-me de joelhos, mas, em poucos
momentos, o confessionário convertia-se para mim num guichê de banco. Sobressaltado,
ergui meus olhos para o altar. O altar, porém, transformara-se em cofre forte. Intentei
consolar-me com a visão do missal, mas o livro do culto, de repente, surgiu metamorfoseado
num velho livro de minha propriedade, em que eu lançava, às ocultas, as minhas notas
de rendimento real. Diligenciei isolar-me. Temia a loucura completa. Ainda
assim, levantei meu olhar para a imagem da Virgem Maria. Naturalmente, ela
teria pena de mim, contudo, ante a minha atenção, a imagem reduziu-se a uma
jóia de alto preço... Fez-se toda de ouro, de ouro puro... Voltei-me para
dentro de mim. (...) Apavorado, tornei à rua. Sentia agora mais sede, muita
sede... Voltei-me para o corpo da igreja, como um filho expulso do próprio lar;
contudo, não mais a vi. Apenas, estranha voz no alto gritou aos meus ouvidos,
ensurdecedoramente: — Amigo, os filhos de Deus encontram nas casas de Deus
aquilo que procuram... Procuravas o ouro... Ouro encontraste... Qual mendigo
desamparado, fugi sem destino. Queria agora apenas água, água pura que me dessedentasse.
Conhecia a cidade. Demandei uma caixa dágua que me era familiar no alto do
bairro de Santo Antônio. A água, ali,
corria em jorros. Podia debruçar-me... Podia beber como se eu fora um animal e,
prostrado, não mais de joelhos, mas de rastros, imploraria a graça de Deus. Achei
a água corrente, a água límpida visitada pela luz do sol e estirei-me no
chão... Mas, no momento preciso em que meus lábios sequiosos tocaram o líquido
puro, apenas o ouro, o ouro apareceu... Reconheci haver descido à condição de
um alienado mental”....
Nenhum comentário:
Postar um comentário