O erudito Hermínio
Correia de Miranda num dos últimos trabalhos publicados sob o título AS DUAS FACES DA VIDA (lachatre, 2005)
informa no capítulo PSIQUISMO BIOLÓGICO
haver quando do transe da morte ou mesmo na iminência dele uma transcrição dos arquivos biológicos
para os perispirituais, do que resulta um belo e curioso espetáculo de replay
da vida, para o qual, por sinal, propôs o nome recapitulação, após o que o corpo
estaria liberado para o processo de decomposição. No substancial
documentário intitulado O CÉU E O
INFERNO organizado por Allan Kardec, em sua segunda parte,
entre os 62 depoimentos de Espíritos entrevistados na Sociedade Espírita de
Paris, o médico J. Sanson revelando
detalhes do momento de sua morte, diz ter conservado suas ideias até o ultimo
momento, que não via mais, mas pressentia e “toda sua vida se desenrolou diante
de sua lembrança”, enquanto o
sr M. Jobard, outro intelectual ligado
ao Espiritismo nascente, relatou através
de um médium que ‘após um abalo estranho, lembrou-se de repente, seu nascimento,
juventude, idade madura, enfim, toda sua vida se retratou nitidamente em sua
lembrança’. Analisando o início do processo chamado desencarnação que
principia a volta do Espírito à sua condição normal, Allan Kardec destaca na
mesma obra o torpor, uma espécie de desmaio e essa revisão que o Ser enceta
neste momento. A partir dos anos 70 do século 20, o médico Raymond Moody Jr começa a
revelar suas constatações sobretudo no que ele denominaria EQM – Experiências de Quase Morte,
ou seja, daqueles que vitimados por situações naturais ou acidentais resolvidos
expontaneamente ou mecanimente pela Medicina, retornaram à vida relatando suas
impressões durante o breve tempo em que estiveram mortos clinicamente, incluindo
entre as sensações a da revisão de suas próprias vidas. No Brasil, a
mediunidade de Chico Xavier com a intensificação da recepção de cartas de
inúmeros Espíritos que mortos ‘precocemente’ afirmavam aos entes queridos sua
sobrevivência após a chamada morte, muitos deles contaram ter vivenciado a
etapa da recapitulação. Dentre os vários depoimentos, Ivan Sergio de Athaíde Vicente
contou que teve ‘a ideia de rever toda a minha existência, como num sonho
que estivemos vivendo acordado, até que as minhas lembranças se condensaram na
rememoração do acidente que me transtornava a cabeça, enquanto Luiz
Antonio Biazzio escreveu: -“Rememorei meus estudos de medicina,
revisei os meus doentes e os meus apuros na psiquiatria para definir-lhe as
emoções e, em seguida, querida mãezinha, as recordações da infância e do lar
desfilaram diante da minha visão íntima. de tudo me lembrei”. Entre todas essas contribuições para nosso
esclarecimento sobre o que é ‘morrer’, o pesquisador italiano Ernesto Bozzano, em
uma de suas substanciais obras, A MORTE E
SEUS MISTÉRIOS, dedica a terceira parte para apresentar casos de VISÃO PANORÂMICA
OU MEMÓRIA SINTÉTICA NA IMINÊNCIA DA MORTE. Separa em três categorias casos de visão panorâmica na iminência da
morte ou em perigo de vida; casos acontecidos com pessoas sãs, sem a ocorrência
de perigo de morte e, casos de comunicantes que por via mediúnbica afirmam ter
passado pela experiência da ‘visão panorâmica’. Na primeira situação,
por exemplo, turistas que sofreram quedas de montanhas e viram a morte de perto,
permitiram estabelecer um padrão mais ou menos constantes nesta espécie
de acidentes, desde o momento em que se perdeu o pé até ao em que se produziu o
choque na queda física: 1.° - um sentimento de beatitude; 2.° - a anestesia do
tato e do sentido da dor, a vista e o ouvido conservando a sua acuidade normal;
3 ° - extrema rapidez do pensamento e da imaginação; e, 4.° - em inúmeros casos, a alma revê todo o
curso de sua vida passada: " vislumbrei todos os fatos de minha
vida terrena que se desenrolaram diante de meus olhos em imagens inumeráveis”.
Conclui-se, por fim, tratar-se de ocorrência natural a ser enfrentada por todos
no fim da jornada no corpo físico.
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