Contra fatos não há
argumentos. E a história contada por Allan Kardec na edição de fevereiro
de 1859 da REVISTA ESPÍRITA
ilustra isso. Conta ele: Uma pobre mulher estava na igreja de São
Roque e rogava a Deus que a auxiliasse em sua aflição. À saída, na rua Saint
Honoré, encontra um senhor que a aborda e lhe diz: “Boa mulher, ficaríeis
contente se arranjasses trabalho?” – “Ah! meu bom senhor” – responde ela –
“peço a Deus que me conceda esse favor, porque estou muito necessitada.” –
“Pois bem! Ide a tal rua, número tanto. Procurai a senhora T...: ela vos dará
trabalho.” Então continuou seu caminho. A pobre mulher dirigiu-se sem demora ao
endereço indicado. – “Com efeito, tenho um trabalho para mandar fazer” – diz a
senhora em questão – “mas como não o dissera a ninguém, como pôde a senhora vir
me procurar?” Então a pobre indigente, avistando um retrato suspenso à parede,
respondeu: – “Senhora, foi esse cavalheiro que me enviou aqui.” – “Esse
cavalheiro!” – replicou espantada a senhora – “Mas isso não é possível; este é
o retrato de meu filho, morto há três anos.” – “Não sei como pode ser isto, mas
vos asseguro que foi esse senhor que acabei de encontrar ao sair da igreja,
onde tinha ido pedir a Deus que me assistisse. Ele me abordou e foi ele mesmo
que me mandou aqui”. A respeito, Kardec comenta: -“Conforme o que acabamos de ver,
nada haveria de surpreendente em que o Espírito do filho daquela senhora, a fim
de prestar um serviço à pobre mulher, da qual sem dúvida ouvira a prece, lhe
tivesse aparecido sob a forma corpórea para indicar-lhe o endereço da própria
mãe. Em que se transformou depois? Sem dúvida no que era antes: um Espírito, a
menos que, continuando seu passeio, tenha julgado conveniente mostrar-se a
outras pessoas sob a mesma aparência. Essa mulher teria, assim, encontrado um agênere, com o qual havia conversado. Mas, então –
dirão – por que não se teria apresentado à sua mãe? Nessas circunstâncias os
motivos determinantes dos Espíritos nos são completamente desconhecidos. Agem
como bem lhes pareça, ou melhor, como disseram, em virtude de uma permissão sem
a qual não podem revelar sua existência de modo material. Compreende-se,
ademais, que sua visão poderia causar à mãe perigosa emoção. E quem sabe se não
se apresentou a ela durante o sono ou de qualquer outro modo? E, aliás, não
terá sido um meio de lhe revelar sua existência? É muito provável que tenha
testemunhado aquela conversa entre as duas senhoras. O assunto seria
aprofundado na próximo trabalho publicado pelo sistematizador do Espiritismo em
1861: O LIVRO DOS MÉDIUNS. Quando da
abordagem na publicação mensal mantida por Allan Kardec, aproveitou para ouvir
o responsável pelas atividade da Sociedade Espírita da Paris, São
Luiz. Da entrevista de 16 perguntas, destacamos algumas das informações
prestadas pela entidade. Sobre a possibilidade de Espíritos desencarnados
aparecerem corporalmente em outros locais e a outras pessoas além da sua
família? Esclareceu que “sim, sem dúvida; não
dependendo, porém de sua vontade”, por ser “o poder dos Espíritos é limitado; só fazem o que lhes é
permitido fazer”; que podem pertencer à
classe dos Espíritos inferiores ou superiores; que são fatos raros, existindo
exemplos na própria Bíblia; que
um eventual ferimento mortal que sofresse o faria desaparecer subitamente;
“que
como Espíritos têm as paixões dos Espíritos, conforme
sua inferioridade, algumas vezes tomando um corpo aparente é para fruir as
paixões humanas; se são elevados, é com um fim útil que o fazem; que não podem procriar, o que seria contrário às leis que
estabelecidas na Terra que não podem ser
derrogadas; não havendo um meio de o reconhecer a não ser que seu
desaparecimento se fizesse de modo inesperado; que o objetivo que pode levar certos Espíritos a tomar esse
estado corporal é frequentemente o mal; os Espíritos bons têm a seu favor a
inspiração; agem pela alma e pelo coração; que os Espíritos que protagonizam tais fenômenos só têm o poder
que lhes faculta a sua posição como Espírito; que não tem necessidade real de alimento, pois, seu corpo não é real; que tais fatos são excessivamente raros e jamais têm um caráter
de permanência, e, finalmente, que o
Espírito familiar protetor não dispõe de recursos interiores algumas vezes toma
essa forma.
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