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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

COMO É POSSÍVEL PREVER O FUTURO?

Abrindo o número de maio de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec na habitual linha de racionalidade com que sempre trata os assuntos sobre os quais fala, analisa a questão da previsibilidade do futuro. Formula a Teoria da Presciência. Na sua abordagem, entre outras coisas, explica: -“Como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode acontecer que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação da vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la. Ora, é de notar-se que as revelações dessa espécie são sempre feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a uma pergunta direta. Pode também semelhante missão ser confiada a certos homens, desta maneira: Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se, sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante para o guiar instintivamente. É assim que em certas ocasiões essa faculdade se desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades, nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire numerosos videntes. É ainda por isso que se veem os grandes capitães avançar resolutamente contra o inimigo, certos da vitória; que homens de gênio, por exemplo, Cristóvão Colombo, caminham para uma meta, anunciando previamente, por assim dizer, o instante em que a alcançarão. É que eles viram essa meta, que, para seus Espíritos, deixou de ser o desconhecido. Todos os fenômenos cuja causa era ignorada foram tidos à conta de maravilhosos. Uma vez conhecida a lei segundo a qual eles se realizam, eles entraram na ordem das coisas naturais. Nada, pois, tem de sobrenatural o dom da predição, mais do que uma imensidade de outros fenômenos. Ele se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do Mundo Visível com o Mundo Invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer.  (...)  A teoria da presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que se possam apresentar de revelação do futuro, mas não se pode deixar de convir em que lhe estabelece o princípio fundamental. Se não explica tudo, é pela dificuldade, para o homem, de colocar-se nesse ponto de vista extraterrestre; por sua própria inferioridade, seu pensamento, incessantemente arrastado para o atalho da vida material, muitas vezes é impotente para se destacar do solo. A esse respeito, certos homens são como filhotes de aves, cujas asas, demasiado fracas, não lhes permitem elevar-se no ar, ou como aqueles cuja vista é muito curta para ver ao longe, ou, enfim, como aqueles a quem falta um sentido para certas percepções. Entretanto, com alguns esforços e o hábito da reflexão, lá chegaram: os espíritas, mais facilmente que os outros, podem identificar-se com a Vida Espiritual, que compreendem. Para compreendermos as coisas espirituais, isto é, para delas fazermos ideia tão clara como a que fazemos de uma paisagem que tenhamos ante os olhos, falta-nos em verdade um sentido, exatamente como ao cego de nascença falta um que lhe faculte compreender os efeitos da luz, das cores e da vista, sem o contato. Daí se segue que somente por esforço da imaginação e por meio de comparações com coisas materiais que nos sejam familiares chegamos a consegui-lo. (...) Tal faculdade é inerente ao estado de espiritualização, ou, se o preferirem, de desmaterialização. (..) Portanto, para gozar dessa percepção, não precisa o Espírito transportar-se a um ponto qualquer do espaço. Pode possuí-la em toda a sua plenitude aquele que na Terra se acha ao nosso lado, tanto quanto se achasse a mil léguas de distância, ao passo que nós nada vemos além do nosso horizonte visual. Não se operando a visão, nos Espíritos, do mesmo modo, nem com os mesmos elementos que no homem, muito diverso é o horizonte visual dos primeiros. Ora, é precisamente esse o sentido que nos falece para o concebermos. O Espírito, ao lado do encarnado, é como o vidente ao lado do cego. Devemos, além disso, ponderar que essa percepção não se limita ao que diz respeito à extensão; que ela abrange a penetração de todas as coisas. É, repetimo-lo, uma faculdade inerente e proporcionada ao estado de desmaterialização 

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