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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

INERENTE À ESPÉCIE HUMANA

Rejeitado facilmente através do combate da milenar escola religiosa do lado Ocidental da Terra com os argumentos de que “seria coisa do Demônio”, “que mediunidade levava à loucura”, o Espiritismo rompeu a barreira do preconceito e intolerância, floresceu no Brasil e, após 160 anos, embora reconhecido pela sua atuação social, prossegue ignorado em sua essência, aquela capaz de desenvolver a fé raciocinada, levando a criatura humana de forma consciente na direção de sua própria iluminação espiritual. Tal quadro sobre a fase europeia do Espiritismo na época de seu início pode ser deduzido na leitura da REVISTA ESPIRITA, na qual Allan Kardec publica na edição de março de 1863 o artigo abaixo destacando inclusive a péssima qualidade doutrinária das obras literárias produzidas em nome de ‘revelações espirituais’, de onde destacamos alguns importantes argumentos: -“ Nada poderia prevalecer contra o destino providencial do Espiritismo. Do mesmo modo que ninguém pode impedir a queda daquilo que, pelos decretos divinos – homens, povos ou coisas – deve cair, ninguém pode deter a marcha daquilo que tem de avançar. Em relação ao Espiritismo, esta verdade ressalta dos fatos realizados e, muito mais ainda, de outro ponto capital. Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, um sistema, poderia ser combatido por outro sistema; mas repousa sobre uma lei da Natureza, tão bem quanto o movimento da Terra.  A existência dos Espíritos é inerente à espécie humana; não se pode impedir que existam, como não se lhes pode impedir a manifestação, do mesmo modo que não se impede o homem de marchar. Para isso não necessitam de nenhuma permissão e se riem de toda proibição, pois não se deve perder de vista que, além das manifestações mediúnicas propriamente ditas, há manifestações naturais e espontâneas, que se produziram em todos os tempos e que se produzem diariamente num grande número de pessoas que jamais ouviu falar de Espíritos. Quem, pois, poderia opor-se ao desenvolvimento de uma lei da Natureza? Sendo obra de Deus, insurgir-se contra ela é revoltar-se contra Deus. Estas considerações explicam a inutilidade dos ataques dirigidos contra o Espiritismo. O que os espíritas têm a fazer em presença dessas agressões é continuar pacificamente seus trabalhos, sem fanfarrice, com a calma e a confiança dadas pela certeza de chegar ao fim. Todavia, se nada pode deter a marcha geral, há circunstâncias que podem provocar entraves parciais, como uma pequena barragem pode retardar o curso de um rio, sem o impedir de correr. Deste número são as atitudes irrefletidas de certos adeptos, mais zelosos que prudentes, que não calculam bem o alcance de seus atos ou de suas palavras, produzindo, por isso mesmo, uma impressão desfavorável sobre as pessoas ainda não iniciadas na doutrina. (...) Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Em tais casos manda a prudência não confiar em sua opinião pessoal. (...) Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é a atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão.  Entre as inabilidades é preciso colocar em primeira linha as publicações intempestivas ou excêntricas, por serem os fatos de maior repercussão. Nenhum espírita ignora que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência; muitos dentre eles sabem menos que certos homens e, como certos homens também, têm a pretensão de tudo saber. Sobre todas as coisas têm sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Ora, ainda como os homens, em geral os que têm idéias mais falsas são os mais obstinados. Esses pseudo-sábios falam de tudo, constroem sistemas, criam utopias ou ditam as coisas mais excêntricas, sentindo-se felizes quando encontram intérpretes complacentes e crédulos que lhes aceitam as elucubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicação tem grave inconveniente, pois o médium, iludido e muitas vezes seduzido por um nome apócrifo, tem-na como coisa séria, de que se apodera a crítica prontamente para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, bastaria que se tivesse aconselhado com os colegas para ser esclarecido. É muito raro, neste caso, que o médium não ceda às injunções de um Espírito que, ainda como certos homens, quer ser publicado a qualquer preço. Com mais experiência ele saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não impõem nem adulam jamais, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito. Quando o Espiritismo estiver completamente implantado e conhecido, as publicações desta natureza não terão mais inconvenientes que os maus tratados de Ciência em nossos dias”. 

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