Diante do crescente
interesse e busca de informações sobre as práticas do magnetismo pelo fluido
transmitido pelo Ser humano conforme as proposições do
médico austríaco Franz Anton Mesmer, importante conhecermos a posição do Espiritismo.
No número de setembro de 1865 da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec responde a questionamento de leitor que solicitava
alguns conselhos relativamente à prática da mediunidade curadora pela imposição
das mãos. Entre outras coisas, afirma o Codificador: -“ A mediunidade curadora deveria
ter a sua vez; embora parte integrante do Espiritismo, ela é, por si só, toda
uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e não só abarca todas as doenças
propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complexas, das
obsessões, que, por seu turno, também influem sobre o organismo. Não é, pois,
em poucas palavras que se pode desenvolver um assunto tão vasto. Nele
trabalhamos, como em todas as outras partes do Espiritismo; mas como aí nada queremos
introduzir por nossa própria conta e que seja hipotético, procedemos pela via
da experiência e da observação. Como os limites deste artigo não nos permitem
dar-lhe o desenvolvimento que comporta, resumimos alguns dos princípios
fundamentais que a experiência consagrou. 1. – Os médiuns que obtêm indicações
de remédios, da parte dos Espíritos, não são aquilo que chamamos médiuns
curadores, pois não curam por si mesmos; são simples médiuns escreventes, que
têm uma aptidão mais especial que outros para esse gênero de comunicações e
que, por esta razão, podem ser chamados médiuns consultores, como outros são
médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora é exercida pela ação
direta do médium sobre o doente, com o auxílio de uma espécie de magnetização
de fato ou de pensamento. 2. – Quem diz médium diz intermediário. Há uma
diferença entre o magnetizador propriamente dito e o médium curador: o primeiro
magnetiza com seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos Espíritos, ao
qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o
magnetismo humano; o que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo
espiritual. 3. – O fluido magnético tem, pois, duas fontes bem distintas: os
Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem
produz uma grande diferença na qualidade do fluido e nos seus efeitos. O fluido
humano está sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do
encarnado; o dos Espíritos bons é necessariamente mais puro e, por isto mesmo,
tem propriedades mais ativas, que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando
através do encarnado, pode alterar-se, como acontece com a água límpida ao
passar por um vaso impuro, e como sucede com todo remédio, se permanecer num
vaso sujo, perdendo, em parte, suas propriedades benéficas. Daí, para todo
verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar a sua depuração,
isto é, o seu melhoramento moral, segundo o princípio vulgar: limpai o vaso
antes de vos servirdes dele, se quiserdes ter algo de bom. Só isto basta para
mostrar que não é qualquer um que pode ser médium curador, na verdadeira
acepção da palavra. 4. – O fluido espiritual será tanto mais depurado e
benfazejo quanto mais o Espírito que o fornece for mais puro e mais desprendido
da matéria. Concebe-se que o dos Espíritos inferiores deva aproximar-se do do
homem e possa ter propriedades maléficas, se o Espírito for impuro e animado de
más intenções. Pela mesma razão, as qualidades do fluido humano apresentam
matizes infinitos, conforme as qualidades físicas e morais do indivíduo. É
evidente que o fluido emanado de um corpo malsão pode inocular princípios
mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do magnetizador, isto é, a pureza
de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar o
semelhante, aliados à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que
pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual.
Seria, pois, um erro considerar o magnetizador como simples máquina de
transmissão fluídica. Nisto, como em todas as coisas, o produto está na razão
do instrumento e do agente produtor. Por estes motivos, seria imprudência
submeter-se à ação magnética do primeiro desconhecido. Abstração feita dos
conhecimentos práticos indispensáveis, o fluido do magnetizador é como o leite
de uma nutriz: salutar ou insalubre. 5. – Sendo o fluido humano menos ativo,
exige uma magnetização continuada e um verdadeiro tratamento, por vezes muito
longo. Gastando o seu próprio fluido, o magnetizador se esgota, pois dá de seu
próprio elemento vital; é por isto que ele deve, de vez em quando, recuperar
suas forças. O fluido espiritual, mais poderoso, em face de sua pureza, produz
efeitos mais rápidos e, muitas vezes, quase instantâneos. Como esse fluido não
é o do magnetizador, resulta que a fadiga é quase nula. 6. – O Espírito pode
agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, como foi constatado em
muitas ocasiões, seja para o aliviar e o curar, se possível, seja para produzir
o sono sonambúlico. Quando age por um intermediário, é o caso da mediunidade
curadora.
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